Na página virtual da revista brasileira CartaCapital foi ontem publicada uma entrevista com o o senador pelo Estado do Amapá, Randolfe Rodrigues, feita pela jornalista Cynara de Menezes . O entrevistado é o candidato do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade ), às eleições presidenciais que vão decorrer no Brasil no próximo ano. A Presidente Dilma será candidata e terá como concorrente provável como grande polarizador da direita brasileira, Aécio Neves pelo PSDB, bem como Eduardo Campos apoiado pelo PSB (que até há pouco era apoiante de Dilma). Estes, a fazer fé nas sondagens, são os candidatos com maior expressão eleitoral. Como resulta do que se tem publicado neste blog, tenho uma opinião favorável quanto às presidências de Lula e de Dilma, e quanto ao papel desempenhado pelo PT na política do Brasil. Isso não impede que considere importante conhecerem-se opiniões críticas dessas políticas que se assumem como expressões de esquerda. Por isso, vou transcrever a entrevista acima referida. Ei-la:
Êxtase e terror. Esses foram os sentimentos do senador Randolfe Rodrigues ao
ser escolhido no domingo 1º o pré-candidato do PSOL à Presidência da República.
Rodrigues derrotou Luciana Genro em uma votação simbólica no partido. Aos 43
anos, o parlamentar do Amapá é o mais jovem presidenciável na disputa de 2014.
“Não vamos só marcar posição”, promete.
CartaCapital: Na última eleição, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve menos de 1% dos votos. A candidatura do partido é para valer ou só para marcar posição?
Randolfe Rodrigues: Um partido que governa uma capital, Macapá, que foi para o segundo turno na maior metrópole da Amazônia, Belém, e teve um desempenho excepcional na segunda maior cidade do País, com Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, não pode dar-se ao luxo de apresentar uma candidatura que não se proponha a ser uma opção de esquerda. Não quero dizer que nos sagraremos vitoriosos, isso é circunstância da eleição. Mas não vamos marcar posição. Vamos para apresentar um programa alternativo, pois temos um diagnóstico de que as candidaturas apresentadas têm mais semelhanças do que diferenças.
CC: Se o senhor não fosse senador e não tivesse mandato garantido, renunciaria para ser candidato?
RR: Obviamente, a minha condição é mais confortável. Meu nome não era o melhor no PSOL. Eu tinha dito ao companheiro Chico Alencar que ele reunia melhores condições, mas existe a necessidade de mantermos a bancada no Rio de Janeiro, e a definição é que ele se candidate a deputado federal novamente. Eu poderia ter me candidatado a governador do Amapá, onde as pesquisas me colocam em confortável posição de liderança. Mas vamos lá. Como diria Paul Verlaine, recebi a notícia com “êxtase e terror”.
CC: O tempo de tevê do PSOL é curto, cerca de 2 minutos diários. Com esses escassos minutos e poucos recursos, como pretendem crescer?
RR: Gosto muito de uma análise que o Plínio de Arruda Sampaio tem feito sobre as gerações das campanhas eleitorais. As campanhas dos anos 1960 eram marcadas pelo palanque. A partir de 1989, se inaugura a influência da tevê; o século XXI vai ser marcado pelas redes sociais. Na campanha de 2010, o desempenho de Marina Silva provou que não é mais fundamental só a tevê.
CC: Como o PSOL pretende colocar-se como alternativa a esse bipartidarismo que existe hoje no Brasil e ao mesmo tempo à Rede/PSB de Marina e Eduardo Campos?
RR: As candidaturas não propõem a ruptura com o modelo. Estamos há 23 anos com continuidade do governo, em termos econômicos é a continuidade do chamado modelo liberal periférico, assentado em uma tríade baseada em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Não se fala de outra coisa, se estabelece como dogma que o problema da inflação, por exemplo, só se combate com alta dos juros. E é assim há 20 anos, só se combate a inflação com o Banco Central praticando as mais altas taxas de juro do planeta. Isso imobilizou a nossa taxa de crescimento, que foi inferior a 3%. O resultado? As famílias brasileiras são as mais endividadas da América Latina.
CC: Como enfrentar a inflação?
RR: Qualquer economista verá que a maioria dos preços é de alimentos ou públicos. É absurdo que o preço dos alimentos no Brasil seja especulado, em um país que é um dos maiores exportadores de grãos do mundo. E por que o preço dos alimentos é especulado? Os governos se derretem pelo que eles chamam de “agronegócio”, colocam até nome bonito, “agrobusiness”. Na verdade, enchem a boca para o latifúndio e esquecem de fazer a reforma agrária. O último presidente da história que teve coragem de ir em praça pública assinar decreto de reforma agrária foi João Goulart. De lá para cá nunca mais. Com isso, têm aumentado a violência no campo, o assassinato de índios. Tudo isso em nome da paz com o agrobusiness. Ao fazer a reforma agrária e levar os alimentos à mesa sem o ataque especulativo do agrobusiness, conseguiremos reduzir o preço. Quanto aos preços públicos (da energia, telefonia), eles estavam em nome do Estado até os anos 1990, quando os tucanos privatizaram tudo. Não propomos reestatizar. É preciso colocar as agências reguladoras para cumprir seu papel de servir ao Estado. Hoje, as agências reguladoras cumprem o papel deprimente de servir ao mercado. A Anatel, por exemplo, está de cócoras para as empresas de telefonia. E aí regiões como a minha não têm serviço que preste e os preços são arbitrários.
CC: Em que o PT deixou a desejar?
RR: Na reforma política, que poderia ter feito. Nas concessões feitas em nome da governabilidade, pois concedeu mais do que mudou as estruturas. Deixou a desejar nas mudanças das estruturas carcomidas do Estado brasileiro. E errou principalmente em relação ao bom exemplo que poderia dar às futuras gerações da política.
CC: O PT argumenta ser impossível governar sem se aliar à direita. Como o PSOL poderia governar sozinho?
RR: Mesmo se a tal governabilidade é necessária, tem de apontar para a ruptura com ela. Não pode governar se acumpliciando, tem de apontar para a demarcação. Não podemos perder a perspectiva de saber quem é o outro lado. Uma coisa é conviver com o outro lado, outra é aceitá-lo como se fosse o nosso. Quando a presidenta da República participa de um evento com representantes do agronegócio e compromete-se com a agenda deles, compromete-se com esse lado. Volto a João Goulart: o governo dele foi mais avançado no cumprimento de suas reformas de base do que o atual. Anunciou algo que o governo atual não tem coragem de fazer, o encampamento de refinarias. Hoje não temos coragem sequer de explorar o pré-sal por via exclusiva da Petrobras. Está aí a diferença.
CartaCapital: Na última eleição, o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve menos de 1% dos votos. A candidatura do partido é para valer ou só para marcar posição?
Randolfe Rodrigues: Um partido que governa uma capital, Macapá, que foi para o segundo turno na maior metrópole da Amazônia, Belém, e teve um desempenho excepcional na segunda maior cidade do País, com Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, não pode dar-se ao luxo de apresentar uma candidatura que não se proponha a ser uma opção de esquerda. Não quero dizer que nos sagraremos vitoriosos, isso é circunstância da eleição. Mas não vamos marcar posição. Vamos para apresentar um programa alternativo, pois temos um diagnóstico de que as candidaturas apresentadas têm mais semelhanças do que diferenças.
CC: Se o senhor não fosse senador e não tivesse mandato garantido, renunciaria para ser candidato?
RR: Obviamente, a minha condição é mais confortável. Meu nome não era o melhor no PSOL. Eu tinha dito ao companheiro Chico Alencar que ele reunia melhores condições, mas existe a necessidade de mantermos a bancada no Rio de Janeiro, e a definição é que ele se candidate a deputado federal novamente. Eu poderia ter me candidatado a governador do Amapá, onde as pesquisas me colocam em confortável posição de liderança. Mas vamos lá. Como diria Paul Verlaine, recebi a notícia com “êxtase e terror”.
CC: O tempo de tevê do PSOL é curto, cerca de 2 minutos diários. Com esses escassos minutos e poucos recursos, como pretendem crescer?
RR: Gosto muito de uma análise que o Plínio de Arruda Sampaio tem feito sobre as gerações das campanhas eleitorais. As campanhas dos anos 1960 eram marcadas pelo palanque. A partir de 1989, se inaugura a influência da tevê; o século XXI vai ser marcado pelas redes sociais. Na campanha de 2010, o desempenho de Marina Silva provou que não é mais fundamental só a tevê.
CC: Como o PSOL pretende colocar-se como alternativa a esse bipartidarismo que existe hoje no Brasil e ao mesmo tempo à Rede/PSB de Marina e Eduardo Campos?
RR: As candidaturas não propõem a ruptura com o modelo. Estamos há 23 anos com continuidade do governo, em termos econômicos é a continuidade do chamado modelo liberal periférico, assentado em uma tríade baseada em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Não se fala de outra coisa, se estabelece como dogma que o problema da inflação, por exemplo, só se combate com alta dos juros. E é assim há 20 anos, só se combate a inflação com o Banco Central praticando as mais altas taxas de juro do planeta. Isso imobilizou a nossa taxa de crescimento, que foi inferior a 3%. O resultado? As famílias brasileiras são as mais endividadas da América Latina.
CC: Como enfrentar a inflação?
RR: Qualquer economista verá que a maioria dos preços é de alimentos ou públicos. É absurdo que o preço dos alimentos no Brasil seja especulado, em um país que é um dos maiores exportadores de grãos do mundo. E por que o preço dos alimentos é especulado? Os governos se derretem pelo que eles chamam de “agronegócio”, colocam até nome bonito, “agrobusiness”. Na verdade, enchem a boca para o latifúndio e esquecem de fazer a reforma agrária. O último presidente da história que teve coragem de ir em praça pública assinar decreto de reforma agrária foi João Goulart. De lá para cá nunca mais. Com isso, têm aumentado a violência no campo, o assassinato de índios. Tudo isso em nome da paz com o agrobusiness. Ao fazer a reforma agrária e levar os alimentos à mesa sem o ataque especulativo do agrobusiness, conseguiremos reduzir o preço. Quanto aos preços públicos (da energia, telefonia), eles estavam em nome do Estado até os anos 1990, quando os tucanos privatizaram tudo. Não propomos reestatizar. É preciso colocar as agências reguladoras para cumprir seu papel de servir ao Estado. Hoje, as agências reguladoras cumprem o papel deprimente de servir ao mercado. A Anatel, por exemplo, está de cócoras para as empresas de telefonia. E aí regiões como a minha não têm serviço que preste e os preços são arbitrários.
CC: Em que o PT deixou a desejar?
RR: Na reforma política, que poderia ter feito. Nas concessões feitas em nome da governabilidade, pois concedeu mais do que mudou as estruturas. Deixou a desejar nas mudanças das estruturas carcomidas do Estado brasileiro. E errou principalmente em relação ao bom exemplo que poderia dar às futuras gerações da política.
CC: O PT argumenta ser impossível governar sem se aliar à direita. Como o PSOL poderia governar sozinho?
RR: Mesmo se a tal governabilidade é necessária, tem de apontar para a ruptura com ela. Não pode governar se acumpliciando, tem de apontar para a demarcação. Não podemos perder a perspectiva de saber quem é o outro lado. Uma coisa é conviver com o outro lado, outra é aceitá-lo como se fosse o nosso. Quando a presidenta da República participa de um evento com representantes do agronegócio e compromete-se com a agenda deles, compromete-se com esse lado. Volto a João Goulart: o governo dele foi mais avançado no cumprimento de suas reformas de base do que o atual. Anunciou algo que o governo atual não tem coragem de fazer, o encampamento de refinarias. Hoje não temos coragem sequer de explorar o pré-sal por via exclusiva da Petrobras. Está aí a diferença.
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