Morse de Sangue foi um livro que não me foi possível manusear, mas que li, reli e em parte decorei, em cópias dactilografadas que circulavam à socapa entre a malta de esquerda, naqueles duros anos sessenta, aqui em Coimbra. O seu autor João Apolinário havia publicado o livro ainda na década de 50.
Foi um dos muitos livros perseguidos que ganharam raízes na revolta dos estudantes e no coração do povo humilhado. Muitos de nós, como era o meu caso, nem sabiam quem era o autor, mas sentimos as sua palavras como se fossem nossas. Como se fossem as palavras que gostaríamos de ter escrito se tivéssemos tido a força e a subtileza poética suficientes.
O 25 de Abril foi o grande mar onde esses e outros poemas desaguaram.
Hoje pequenos e toscos capatazes do neoliberalismo representam no poder a direita portuguesa. Apertam o pescoço do povo com cinismo.
É, por isso, tempo de pedirmos a João Apolinário para nos dar uma vez mais a força das suas palavras. E assim recorramos a um dos seus poemas que então mais fortemente povoavam a nossa revolta.
É preciso avisar toda a gente
dar notícias informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir.
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha.
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta.
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores.
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
[ João Apolinário ]
dar notícias informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir.
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha.
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta.
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores.
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores
[ João Apolinário ]
1 comentário:
Gostei muito de reler este belíssimo poema de que me recordo, cantado por Francisco Fanhais.
José Soares da Fonseca
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