Quanto mais a esquerda for
inexpressiva na Alemanha e na França, mais estes dois pilares da União Europeia
serão tomados pela anemia política de um melancólico outono. Nestes últimos
dias, chegaram notícias de ambos os países que parecem indiciar um aumento do
risco dessa deriva.
1. Voltou
teimosamente à superfície a pequenez da grande vitória eleitoral da Srª.
Merkel, com o regresso às notícias da penosa marcha rumo à formação do seu novo
governo. Vitória estranha, embora tonitroantemente anunciada sem contestação,
que sentou no parlamento alemão uma maioria de esquerda, repartida por três
partidos (SPD, a Esquerda e os Verdes), remetendo a enorme vencedora para uma
posição minoritária. Estranha esquerda essa que se aconchega na pseudo-vitória
da direita, na esperança de que os seus eleitores, ao esquecerem-se da sua vitória, permitam que escape a uma severa reprovação. Reprovação impulsionada pela insólita
renúncia a formar governo, praticada pelos três partidos de esquerda e causada
pela sua incapacidade em chegarem a um entendimento.
Caminha-se assim para uma
coligação liderada pela Sr.ª Merkel que envolverá o SPD, certamente ainda
lembrado que a mais recente coligação idêntica (2005-2009) o fez descer da
qualidade de um grande partido, separado dos democratas-cristãos por um escasso
deputado, para a de um modesto partido de média dimensão, que ficou abaixo
dos 25 %. Em quatro anos de oposição (2009-2013), conseguiu a proeza pálida de,
ao subir apenas cerca de 2%, exceder ligeiramente o modesto patamar anterior. Contudo, essa anemia
política do SPD nada de positivo trouxe para o peso eleitoral dos outros
dois partidos de esquerda, que continuaram penosamente a rondar os dez por
cento.
Será
de esperar que os eleitores alemães de esquerda continuem a dar votos a
partidos que preferem ser capachos, diretos ou indiretos, de um partido de
direita, que tem assombrado a Europa, do que ousarem a enorme aventura de se
entenderem?
E eu não estou a pensar em
sofisticadas interpretações do fenómeno, mais vocacionadas para compensarem a
inação do que para serem guias da ação. Não estou a pensar numa meticulosa
procura de culpados, como se fosse mais importante encontrá-los do que combater
politicamente o prenúncio de novas serpentes.
Estou a pensar na necessidade
de confrontar a direita democrática francesa com os recorrentes sinais de
transigência que vários dos seus vultos têm enviado à FN e com as consequências dessas atitudes.
Estou a pensar no imperativo de
se confrontarem as várias esquerdas com a necessidade de avaliarem
aprofundadamente as razões da perda de apoio social e eleitoral que
as atingiu, parte da qual, por desespero e primarismo político, talvez se tenha transferido para a
extrema-direita.
Particularmente, o PSF não pode
permanecer alheado da necessidade premente de uma reconversão estratégica, que
supere definitivamente o pântano da terceira via, reconciliando-se com a sua
matriz socialista, que no essencial o identifica e que não pode deixar de inscrever um pós-capitalismo no seu horizonte. O PSF, todos os partidos socialistas europeus,
não podem pedir o voto ao povo de esquerda, para deixarem depois os banqueiros
governar.
E não podendo imprudentemente
ignorar a realidade que os condiciona e rodeia, não podem limitar-se a deixarem-se
arrastar pela corrente dos automatismos económico-financeiros do capitalismo,
sem praticarem a resistência possível e sem se baterem pelo seu próprio caminho,
rumo ao seu próprio horizonte.
De facto, se os socialistas aceitarem
exercer o poder político institucional, como meros certificadores de decisões
que lhes escapam, como simples homologadores de decisões dos poderes de facto,
podem penosamente governar durante uma ou outra legislatura, num ou noutro
país, mas arriscam-se a sofrer um forte desgaste popular, pelas consequências sociais desse
caminho. E podem assim perder, irremediavelmente o peso político necessário para que estejam em condições de desempenhar o
seu papel nuclear, como garantes e potenciadores de um desenvolvimento democrático que transcenda o capitalismo.
Ora, faz parte das vicissitudes
da luta política que um partido socialista se arrisque em
prol dos seus objetivos históricos e identitários, expressão do interesse
legítimo de todos os que são prejudicados pelo capitalismo, materialização de
um humanismo completo, podendo pagar um preço político por essas decisões. Mas é um puro absurdo estéril que um
partido socialista perca a sua base social e eleitoral de apoio, por se deixar
arrastar na deriva dos automatismos económicos, eles próprios reflexos dos
interesses e do domínio dos poderes económicos de facto.
3 comentários:
não tenho que me reportar ao passado histórico.
Mas, não tem sido sempre assim?
O Partido Socialista que ao longo de décadas tem sido governante nos maiores e mais pequenos países da comunidade europeia e até antes da comunidade, fez o quê...
qualquer PS digno de ser socialista terá primeiro que governar para todo o povo e não para as suas capelinhas.
os resultados eleitorais á direita em expansão, é devido á esquerda desunida. bem sei que é difícil, mas cabe aos socialistas definirem uma estratégia de Estado de direuto Socialista para todo o povo e não só para o povo socialista.
VEJA-DE O CASO DE ONTEM -- MAIS UMA VEZ O POVO TRABALHADOR DESCEU ÁS RUAS, DIGA-SE PONTES. ONDE ESTAVAM OS DIRIGENTES SOCIALISTAS.
quando UM ps SE SEPARA DOS SINDICATOS, SEJAM UGT.S OU CGTP-IN MAL VAI ESSA CONDUÇÃO DE UNIDADE.
RESPEITOSAMENTE
DE "O CATRAIO"
Resmungar , mesmo com alguma razão, tem efeitos bem menos positivos do que persuadir.
resmungar, quem diria...
CREIO que o lado positivo da esquerda com o PS, todo ele, está encoberto por um qualquer interesse pessoal, individual ou coletivo. Daí a paralisia politica.
O agueiro ideológica entre nós povo de esquerda, não passa de um argueiro. É bom que fiquemos por aqui. Depois vem a trave e é um nunca mais.
respeitosamente de "o catraio"
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