sábado, 8 de outubro de 2011

O CAPITAL ESTÁ PRIMEIRO !

A coerência e a lisura dos regentes dos vários poderes impressionam pela sua robustez. A sua atitude humanista há-de vir a ser lendária. Que o digam os dez milhões de gregos implacavelmente rodeados pelo gelo impessoal da UE, do FMI, do BCE e dos senhores dos grandes países; implacavelmente cercados pela usura feroz da banca internacional e dos agentes sorrateiros que se movem na sombra dos mercados.

Que o digam os banqueiros do banco franco-belga que se aproximou da falência, apesar de há anos atrás ter sido fartamente ajudado pelos governos dos dois países, em socorro dos quais se apressaram agora a acorrer sem acrimónia os mesmos que têm submetido a Grécia a um implacável garrote financeiro.

Se não soubéssemos já no interesse de quem funcionam as instituições económicas internacionais, no interesse de quem exerce o poder a direita europeia, teríamos aqui uma resposta sugestiva e incontornável. Os mesmos tigres de exigência para com o povo grego são gatos de estimação perante os banqueiros franco-belgas.

Não estamos, todavia, perante meteoritos sombrios vindos do nada. Há um sistema de ideias e de valores que aceita e justifica esta vergonhosa diferenciação positiva a favor do dinheiro e em prejuízo das pessoas.Ideias e valores que, convindo aos poucos que têm muito não convém aos muitos que têm pouco, o que convindo aos poucos que vivem á custa dos rendimentos do capital, não convém aos que vivem da retribuição pelo seu trabalho. E esse sistema de ideias e valores não é uma invenção infeliz de mentes perversas, embora até as possa aliciar com facilidade, é um elemento estruturante da reprodução e conservação do tipo de sociedade que materializa esses valores e para cuja defesa eles afinal nasceram; portanto, no essencial, é uma das engrenagens que sustentam a continuidade do capitalismo.

A vergonhosa diferença de tratamento, dada pelos poderes políticos e financeiros da Europa, entre milhões de cidadãos gregos, por um lado, e um punhado de banqueiros sem pátria, do outro, é apenas um sintoma que revela com eloquência a medida em que o tipo de sociedade em que vivemos tem uma cada vez menor legitimidade ética e política, uma cada vez maior instabilidade económica e uma carga de injustiça crescente.

Esta floresta de embustes e de hipocrisias que nos cerca, convida-nos a ir ao funda das questões. Não é fácil, já que mesmo aqueles, que não aceitam o capitalismo como fim da História, parecem ter um temor reverencial perante ele, inibindo-se de pensar contra ele, inibindo-se de sonhar para além dele. E, no entanto, no horizonte há um dilema com uma nitidez crescente: ou os povos conseguem ir além do capitalismo ou são destruídos por ele.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não acredito que seja tão à terra!
Que os povos com seus dirigentes legítimos, sem misturas de nem bem nem mal,havemos de conseguir destruir o capitalismo!
Acredito mesmo nisso!!!

Mas hão-de aparecer sempre os apressados, cognominados de Médias altas, Médias médias e médias baixas, para além dos sem categoria e os Lumpem que são a maioria da humanidade...

Os povos tal como diz e assim como o nosso, ao qual pertencemos, são serenos. E tal como o Almirante P. de Azevedo, o Tal do era só fumaça)
que não tinha vocação para premier
mas exerceu-o.
Mas um dia mais breve do que se julga a fumaça desaparece e outros cravos de outros abris vingarão nesta terra europeia e américas, ásia e áfrica. Não se trata de apologia panfletária utopista.
Por Adelino Silva