segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Associo-me à Homenagem que, em várias cidades brasileiras e em Lisboa, é hoje prestada ao grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, transcrevendo dois dos seus poemas.


O quarto em desordem

Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não se sabe como é feita: amor,
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que nuvem
e mais defeso, corpo!corpo, corpo,

verdade tão final, sede tão vária,
e esse cavalo solto pela cama,
a passear o peito de quem ama.


Nosso tempo - VIII

O poeta
declina de toda a responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.

Sem comentários: