segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ELEIÇÕES NA ARGENTINA - 2

1. Há quatro anos, comentei os resultados das anteriores eleições presidenciais argentinas neste mesmo blog. Desse comentário, recordo o seguinte excerto :"De facto, a crise que antecedeu a vitória de Nestor Kirchner, em 2003, destroçou a União Cívica Radical (UCR,) e fragmentou ainda mais o Partido Justicialista de obediência peronista. Na verdade, dos quatro candidatos mais votados nas recentes eleições , o 1º, o 3º e o 4º, representam antigas facções do peronismo. Assim, os três candidatos de raiz peronista − Cristina Kirchner (45%), Roberto Lavagna (17%) e Alberto Rodríguez Saá ( 8%) − se pudessem juntar as suas forças teriam atingido os 70% dos votos expressos. A única candidata não peronista que conseguiu alguma expressão, foi Elisa Carrió, que ficou em segundo lugar, com 23%, à frente de uma “Aliança por uma República de Iguais (ARI)”, que é uma dissidência da UCR".


2. Como se pode verificar pelas infografias que a seguir se reproduzem, Cristina Fernandez Kirchner venceu de novo à primeira volta, mas desta vez com mais de 53% dos votos, embora tivesse sido suficiente, para não ter sido necessária uma segunda volta, que tivesse tido mais de 40% dos votos e uma distância de mais de 10% a separá-la do segundo classificado.



Desta vez, o segundo classificado foi H.Binner, com cerca de 17% dos votos, que era o candidato de uma frente das esquerdas não-peronistas (Frente Ampla). A União Cívica Radiacal viu o seu candidato ficar-se pela terceira posição, com pouco mais de onze por cento dos votos. Modesta prestação, para um partido que historicamente tem representado a alternativa ao peronismo. Seguem-se depois dois peronistas dissidentes, que se podem considerar mais à direita do que os "kirchneristas", o primeiro dos quais Aberto Rodriguez Saa, já concorrera há quatro anos , tendo obtido uma percentagem de votos idêntica (cerca de 8%); o outro, Eduardo Duhalde, com uma votação de 5,9 %, foi um dos Presidentes da República anteriores, com passagem efémera pela Casa Rosada, por força da crise económica e política que varreu a Argentina, no princípio deste século.Os outros dois candidatos, tiveram votações ainda menos expressivas : Jorge Altamira ( candidato pela Frente de Izquierda de los Trabajadores -FIT) com 2,3 %; e Elisa Carrió ( Coalícion Cívica), agora com 1,9%, mas que atingira há quatro anos 23 %, tendo então ficado em segundo lugar.


Um olhar rápido sobre os resultados mostra que os vários ramos do peronismo somados chegaram aos 66% o que não fica longe dos 70 % atingidos há quatro anos. Dentro do peronismo, continuou dominante e vitoriosa uma maioria "kirchnerista" que, sendo em si própria bastante heterogénea, tem sido considerada como integrada no centro-esquerda. Esta continuidade tem um significado particularmente relevante na geopolítica do continente, continuando a Argentina solidária com os vários governos de esquerda existentes na América Latina . Somando-se ao que aconteceu no Brasil este resultado sublinhou o carácter até agora excepcional da passagem do Chile para a direita. Em contrapartida, estes resultados, para além de terem sublinhado a incapacidade de o radicalismo se recolocar como força política alternativa, colocam os dois candidatos da esquerda não peronista num patamar conjunto de quase vinte por cento dos votos, o que, sublinhando uma relativa ambiguidade do "peronismo kirchnerista", no plano da política interna, pode indiciar uma mutação qualitativa na cena política argentina.

3. No que diz respeito à Câmara de Deputados, a Presidente Eleita recuperou a maioria que havia perdido no decurso do mandato anterior. De facto, como podem ver na infogravura abaixo reproduzida, numa parlamento com 257 deputados, o "kirchnerismo" dispõe de 114, aos quais se somam 17 aliados formais, o que atinge 131 deputados; as oposições todas juntas atingem os 126. Dentro destes a os radicais têm 41, os peronistas dissidentes, 23, a Frente Ampla Progressista, 22 e a coligação Cívica , 7.

Tendo estado em jogo nesta eleição 24 dos 72 lugares do Senado, o "kirchnerismo"reforçou ligeiramente a curta maioria de que já dispunha. Passou a ter 32 senadores, aos quais se devem somar 6 aliados, o que perfaz, 38 lugares. As oposições todas juntas ficam-se pelos 34 senadores, dos quais a UCR ( radicais) tem 17, os peronistas dissidentes 9 e a Frente Ampla Progressista, 4.

A relação de forças nas duas câmaras é, como se vê, semelhante, mas a amplitude eleitoral da vitória de Cristina Fernandez, pela forte legitimação popular que reflecte, irá certamente reforçar politicamente as maiorias de que o oficialismo "kirchnerista" dispõe em ambas.

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