Um ano se somou aos cem anos da República. Pode dizer-se que o tempo a tem feito conquistar a sua juventude, a única que conta para as revoluções, quando têm uma vocação intemporal. Uma juventude que nasce, quando a República se liberta dos seus êxitos e dos seus erros, das suas exaltações e das suas frustrações, dos seus actos passageiramente generosos ou injustos, quando se liberta da sua maneira quotidiana de acontecer, do embaraço implacável que lhe causaram sempre, no dia a dia, os seus inimigos. Uma juventude que se revela na maneira como tem vindo a conseguir reconciliar-se com a alma mais íntima do povo. Uma alma dilacerada por pulsões contraditórias que simultaneamente a amarram a um passado sombrio e a projectam num futuro que nunca desistiu de inventar.
A República vive, finalmente, da sua atitude de rebelião contra a eternização do passado, da imaginação e da inteligência de gerações de republicanos que a esculpiram com entusiasmo e sacrifício, numa ânsia por novos horizontes. O 25 de Abril libertou-a da duradoura humilhação de ter sofrido, como ocupante do seu nome, um regime encabeçado por um monárquico, que durante quase meio século a tingiu com as cores degradantes da ditadura, submetendo-a à sombra iníqua do seu fascismo, o fascismo salazarista.
Por isso, se pode dizer que o 25 de Abril guiou a República para sua juventude, reconduziu-a si própria, ao essencial de si própria, permitindo assim que comemorasse o seu centenário com serenidade e alegria, em diálogo, mesmo com os seus inimigos ou com os que a olham de soslaio, indo ao ponto de lhe exigirem o que sabem ter faltado, por completo, àquilo que a República derrubou.
Neste e nos próximos cincos de Outubro, comemoramos a República como impulso futurante, limpa da nódoa salazarista que os seus inimigos lhe fizeram, rejuvenescida pela autenticidade que o 25 de Abril lhe transmitiu, como uma das marcas dos horizontes mais ambiciosos da nossa esperança.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
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1 comentário:
muito bem
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