Há momentos na História dos povos em que todas as luzes que orientam os caminhos parecem apagar-se. E as trevas descem então sobre os mortais como estranha maldição. Mas de súbito, é a própria História que se espreguiça, indo buscar às suas arcas mais fundas uma estrela, que a todos nos oferece depois, generosa e materna.
O mais recente fenómeno dessa natureza manifestou-se através do Ministro Amado, quando ele nos mostrou, com a simplicidade dos luminosos e a disponibilidade para o sacrifício dos estóicos, o caminho salvador da coligação, como remédio certo para as maleitas do Governo a que pertence e para as desgraças que se abatem sobre o povo que somos.
Uma coligação entre o partido do governo e o maior partido da oposição, com Paulo Portas à porta, chorando diatribes. Uma coligação PS/PSD, plana, previsível, pronta a vestir, para que a política institucional seja anestesiada e o Sr. Professor Mercado nos possa dar a sua benção. Só então a Europa, austera e distante, nos dará o resto dos rebuçados que nos prometeu. O Pedrinho tirará os seus calções de menino traquina e entrará em S. Bento com toda a pompa necessária na circunstância. Tudo ficará na santa paz do senhor, o povo com um furo mais no aperto do cinto e suas eminências biblicamente preocupadas com os pobrezinhos, sem caírem no exagero da excomunhão dos ricos. Mas o Ministro Amado não se embaraça com detalhes. Ele apenas convive com os grandes desígnios.
Acontece que eu, talvez empolgado pela visão felina do alumiado Ministro, acho que se deve ir mais longe. E dentro desse mesmo espírito, o PS e o PSD têm que se fundir, numa vontade única de ferro, numa organização simbiótica, que todos os Professores Mercado deste mundo, aplaudirão, estou seguro, olimpicamente e de pé.
E, quando esse transcendente objectivo for atingido, quem estará mais bem colocado do que o Ministro Amado para aspirar ao posto supremo da nova organização: o lugar de Sacrificado-Geral .
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