sábado, 13 de novembro de 2010

O MISTÉRIO DOS BICHANOS QUE RUGEM

Foram bichanos ronronantes, enquanto lhes pareceu que Sócrates era forte. Quando, no mais recente Congresso Nacional do PS, apresentámos uma moção alternativa no plano político, foram como cordeiros a balir, no seio da corrente dominante, sem estados de alma a toldar-lhes a decidida fidelidade.

As dificuldades por que passam o Governo e o PS parecem ter-lhes aberto o apetite. E já se imaginam vistosos tigres a rugir ferozmente sonoridades audíveis pela comunicação social. Megafones de jornalices banais afixam poses que julgam ser a de “homens de Estado”. Transcendentemente, afixam uma coligação hoje, uma remodelação amanhã, como quem oferece ao espanto dos mortais, ideias dignas de um oráculo.

Estarão possuídos pela miragem que os coloca à mercê dos nossos adversários como instrumentos seus. Talvez involuntariamente transformam-se em janelas de esperança para aqueles que, de fora do PS, se sentem autorizados a dizer quem deve ser o nosso secretário-geral, quem devemos indicar para a liderança dos governos que o voto dos portugueses nos encarregar de constituir.

Com a autoridade de quem pertence ao pequeno quadrado dos que contrapuseram uma moção de orientação própria à de Sócrates, sublinho que é ao PS que cabe decidir quem o lidera ou a quem delega a sua representação política externa. Não é um qualquer brilhante cabeça de abóbora que irá ditar em nossa casa aquilo que gostaria de fazer na dele.

Aos bichanos que acordaram do seu longo remanso de veneração a Sócrates para darem pequenos sinais de que não concordam com ele neste ou naquele detalhe, apenas se lhes pode pedir um pouco de verticalidade. Aos socialistas que há muito não escondem divergências que não são de pormenor nem de circunstância, deve apelar-se para que assinalem com profundidade as suas diferenças estratégicas, para que a diversidade entre socialistas se evidencie no plano das ideias mais amplas e dos vectores de profundidade da evolução social, se for esse o caso, deixando para a voracidade mediática e para a rafeiragem que erra pela vida política as urgências e os dramas das agendas efémeras.

A todos os socialistas é tempo de pedir que valorizem as clivagens que implicam caminhos diferenciados dentro do espaço socialista e esqueçam os reflexos de bando, as fidelidades a pessoas, os cálculos de carreiras. É tempo de assumir, rumo a um próximo congresso, alternativas políticas claras e de proscrever uivos mediáticos de circunstância com sabor a punhaladas nas costas seja de quem for.

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