quinta-feira, 15 de maio de 2008

O avesso e o direito : armadilha fatal ?


A campanha para a liderança do PSD está longe de ser o que parece. De facto, ela parece ser uma disputa para apurar quem vai dirigir o PSD nos tempos mais próximos.

Mas se olharmos com atenção para todos os sinais, verificamos que há uma conjugação de peculiaridades que nos alertam para a possibilidade de ela não ser aquilo por que se quer fazer passar.

Se nos lembrarmos do que era o PSD na véspera da retirada do Dr. Menezes e o compararmos com o que é agora, não podemos deixar de detectar algumas coisas estranhas. E a maior de todas elas é que o bloco que sustentou a ascensão do Dr. Menezes parece apostado em suicidar-se , premiando os mais acirrados dos seus críticos, com a vitória do seu candidato mais emblemático. Na verdade, parece cirurgicamente tentada a melindrosa operação de fazer com que os opositores da Drª Manuela, fiquem ambos muito próximos de a conseguir vencer, mas vencidos.

No entanto, toda esta estranha caminhada para o suicídio político do bloco que apoiou o Dr. Menezes, ganhará outro aspecto, se a procurarmos compreender com base numa outra lógica.

Suponhamos que o Dr. Menezes se convenceu que o PSD corre um enorme risco de ser derrotado pesadamente nas próximas legislativas, na medida em que as sondagens parecem indicar a sua escassa capacidade de seduzir os descontentes com o governo, ao mesmo tempo que mostram que esse descontentamento pode ser capitalizado pelos partidos de esquerda que estão na oposição ao Governo. Se assim for, das duas uma ou o Governo ganha folgo e o PS ganha as eleições, ou o Governo vê algumas das suas dificuldades agravadas e perde eleitorado para o PCP e o BE, ficando a direita em clara minoria e o PSD de mãos atadas.

Um surto de inusitado ruído público da “nobreza” laranja deu-lhe pretexto para dar o primeiro passo para a armadilha. Demitiu-se de surpresa, deixando pairar a dúvida sobre se o movera a vontade de surpreender e desorientar o “ baronato”, ou se apenas fora fiel aos superiores interesses do PSD, de ver a questão da sua liderança estabilizada a uma distância razoável das eleições. Essa dúvida faz parte da necessária atmosfera de ambiguidade necessária para o êxito da armadilha.


A partir daí Menezes, Santana, Jardim e Coelho entraram num esotérico bailado, de avanços e recuos, de amabilidades e crispações, de farsa e de tragédia, auxiliados até pela emergência de dois candidatos patuscos, do tipo daqueles que apenas reforçam o colorido destas eleições. Falta saber se algum dos candidatos é apenas figurante, não tendo participado no desenho da coreografia.

Tiveram um primeiro sucesso: atraíram a Drª Manuela à possível "Waterloo" da sua vida, com a particularidade de que nesta batalha ela só terá a derrota que os seus opositores querem se ganhar a batalha por pouco. Se ganhar a batalha, ficando bem claro que os seus apoiantes são minoritários no partido, em comparação com a soma dos que se lhe opõem, a sua derrota será completa. Aliás, eles têm deixado claro que ambos são contra a Drª Manuela. Não como pessoa, mas como expoente de todo um campo que querem bem juntinho a cair na armadilha. Um campo em que se pode pôr um carimbo múltiplo : cavaquismo-barrosismo-mendismo com uma pitada do sempre fugidio marcelismo.

Na dança a que temos assistido, por detrás da exuberância dos pequenos episódios, o real objectivo parece ser o de dar força a Passos Coelho e a Santana Lopes, de modo a que nenhum fique tão forte que possa ganhar, nem tão fraco que possa fazer recair no outro a dinâmica do voto útil, contra M. Ferreira Leite, o que implica desgastar fortemente a imagem da candidata de modo a que ela chegue à vitória cheia de mazelas; e distribuir os apoios pelos outros dois.

Assim, se tudo correr bem, os três candidatos ficarão com votações muito próximas, tendo a candidata uma vitória de Pirro. Com essa vitória nos braços, ficará obrigada a vencer Sócrates, o que objectivamente, pelo que atrás se disse, será difícil, sendo certo que a pior a humilhação para o PSD não é falhar esse objectivo, porque Sócrates se safou, mas falhar esse objectivo, porque o falhanço de Sócrates foi capitalizado pelo PCP e pelo BE.

E assim quando a “ nobreza “ laranja, encabeçada pela sua máxima referência do momento, for desbaratada nas eleições, o “menezismo-santanismo-jardinismo” voltará à cena e varrerá de vez o "baronato" incómodo. E assim terão feito recair no “baronato” uma derrota eleitoral que parecia inevitável que viesse a recair sobre eles.

É claro, que a política não é uma sucessão de previsibilidades seguras, é antes uma cadeia de probabilidades. Assim a armadilha pode falhar, ou porque afinal a Drª Manuela nem chega a ganhar, ou porque inesperadamente o PSD pode restabelecer-se e ter um resultado bom . No entanto, se quisermos ser objectivos, hoje, o que parece mais provável é que a armadilha surta efeito.

E, assim, nesta estranha campanha, dentro do PSD, o pior que pode acontecer a M.Ferreira Leite é ganhar, e o pior que pode acontecer a qualquer dos seus adversários é que ela não ganhe.

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