terça-feira, 1 de setembro de 2015

O Apocalipse dos Modernos



Há quem qualifique como modernas as posições de esquerda mais moderadas, dando-lhes a ancoragem neste século como uma característica que falta ás posições mais enraizadas no sentido histórico do socialismo e dos seus valores, consideradas mais à esquerda. Não é um argumento. É um carimbo arbitrário que traduz apenas a subjectividade de quem o usa, bem como a dispensa de uma argumentação política efectiva.

Sem querer aqui discutir o fundo da questão, uma coisa a experiência histórica nos mostra: já tem mais de cem anos a tentativa de carimbar como modernas as posições moderadas e como ultrapassadas as posições que o não são.

Por isso,  esses modernos, afinal tão antigos, usam este carimbo , principalmente, quando sentem que a realidade lhes foge debaixo dos pés . É o que parece estar a acontecer com os trabalhistas britânicos. Um candidato da  esquerda  do Partido Trabalhista parece ter a preferência dos militantes . Logo saltam para a ribalta mediática as vozes modernas dos blairistas, a começar pela do próprio Blair, para desenharem  como Apocalipse uma vitória de Jeremy Corbyn.

Se os Apocalipses bíblicos são um risco milenar inscrito nos medos mais ancestrais que pairam sobre os povos, há outros aparentemente mais triviais mas pesados, muito pesados nos custos humanos que têm. É o que está agora a ocorrer na chegada á Europa  das externalidades humanas das politicas guerreiras de Bush e do seu acólito Blair, cujo expoente máximo foi a conquista do Iraque com base em motivações que hoje se sabe serem redondamente falsas.
É assim uma dramática ironia que Blair qualifique como apocalíptico o risco de uma vitória de Corbyn, quando ele próprio foi um dos terríveis cavaleiros do Apocalipse.


Por isso, verdadeiramente, os que à esquerda se reivindicam como modernos talvez apenas estejam a  procurar que os dispensem de explicar porque viraram tanto à direita. Mas se realmente, ao contrário do que eu julgo, esses modernos estão verdadeiramente possuídos pela vertigem do amanhã, não podem deixar de se angustiarem com o facto de apenas estarem a regressar a um nariz de cera que data do fim do século XIX.

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