Portugal, aluno modelo?
É este título interrogativo que encabeça um texto
sobre a situação atual do nosso país que acaba de ser publicado no número de
setembro do magazine francês, Alternatives Economiques. (nº349 –
setembro de 2015). São seus autores, Sandra
Moatti e Alexis Toulon.
No seu início, pode ler-se a seguinte frase destacada:” Portugal retomou o crescimento e
libertou-se da troika, mas o seu endividamento público e privado, continua
colossal e a sua economia muito frágil”.
Dele vou traduzir a segunda parte desse texto, tecendo
depois alguns comentários acerca do respetivo conteúdo. Atentemos no texto que
mostra como é grande o embuste com que a direita quer enganar os portugueses,
através de uma propaganda mentirosa e desonesta. Eis o extrato que referi, cujo
subtítulo é significativamente,
Enormes Fragilidades
“Menos punitiva do que para a República helénica, a
cura deixou no entanto marcas profundas sobre no tecido económico e social. O
investimento afundou-se 35% desde 2008. A taxa de desemprego subiu até aos
17,5% em janeiro de 2013 e atinge ainda
12,4% em junho de 2015, e 31,6% entre os menores de 25 anos. Um refluxo
que se explica em boa parte pela emigração massiva: mais de 100.000 portuguese
deixam o país em cada ano desde o início da crise, em maioria jovens
diplomados, e a população ativa recuou 350.000 pessoas entre 2008 e 2015. Os
bancos, no entanto recapitalizados, continuam frágeis, como o mostrou o resgate
do Banco Espírito Santo em 2014 e o falhanço do Banco Comercial Português nos
testes de resistência do banco central Europeu (BCE) em outubro passado.
E se enfim a
atividade económica arrancou a partir do segundo trimestre de 2014, fê-lo em
bases frágeis. No primeiro trimestre de 2015, a produção portuguesa continuava
mais de 7% aquém do seu nível do início de 2008 e mesmo abaixo do seu nível de
2001. Com um setor industrial que continua a representar 20% do PIB e os salários
que baixaram 5,3% entre 2010 e 2014, o país reencontrou realmente uma certa
competitividade custo: uma hora de trabalho portuguesa custa 9,80 euros, todos
os encargos considerados, contra 14,40 euros na Grécia. O que permitiu dopar as
exportações, nomeadamente, no seio da união Europeia. Mas a produtividade da
mão-de-obra continua ela também muito fraca: um trabalhador gera apenas 17,10
euros por hora trabalhada, contra 20 euros na Grécia e 32 ao nível da União.
Portugal continua a depender fortemente da indústria
com fraco valor acrescentado, como é o caso do têxtil, que representa 10% das
suas exportações. O nível de educação dos portugueses continua a ser um dos
mais baixos da Europa: somente 43% dos mais de 25 anos concluíram o ensino
secundário (contra 68% na Grécia e 76% no conjunto da União). Uma situação que
a crise degradou ainda mais com os cortes orçamentais que amputaram um
investimento público já pouco elevado, bem com as despesas com a educação.
Contrariamente às economias grega ou
espanhola, a economia portuguesa não tinha tido nenhum “boom” antes da crise
ela tinha vegetado durante toda a primeira parte dos anos 2000. Beneficia hoje
da energia e de um euro não caros enquanto a política activa do BCE faz baixar
os custos de financiamento. Mas o crescimento continua demasiado frágil para
permitir que os agentes económicos se desendividem. Portugal é com efeito um
dos países da União onde o endividamento total é mais pesado. Ele representa
486% do PIB, bem mais do que os 364% da Grécia ou dos 321% da média da zona
euro. A dívida pública de Portugal que , como na Grécia, continuou a crescer com
a ação da troika, passou de 111% do PIB em 2011 para 129% em 2014. Mas a daas
famílias é também colossal, 120% do PIB, tal como a das empresas não
financeiras que é de 237%.
Apesar disto, o país
conseguiu escapar às garras da troika em maio de 2014 e o seu Estado
financia-se a taxas historicamente baixas: menos de 3%. Mas, mesmo baixas, as
taxas de juro pagas pelos agentes económicos continuam superiores à taxa de
crescimento dos seus rendimentos, e num tal contexto o peso das dívidas não
pode baixar. Tal como a Grécia, Portugal precisará de um política de
investimento massivo e de um apagamento da dívida para que a sua economia
verdadeiramente recupere. Aquando das tensões surgidas nos últimos meses por
causa da situação grega, a taxa das obrigações portuguesas voltou a subir.
Antes de voltar a descer depois do acordo de julho passado. Se o Grexit tivesse
ocorrido, todos sabemos que Portugal seria o que viria a seguir na lista.”
Comentário:
Este excerto mostra quão descarado é o embuste
assumido pelos partidos da direita que formam o atual governo, quando ficcionam
um país viçoso e economicamente saudável graças aos seus méritos imaginários. A
coligação que nos governa é um desastrado grupo de capatazes do capital
financeiro, cuja agenda neoliberal segue docilmente, não sem que se tenham
desgraçadamente aprimorado num fatal excesso de zelo que muitos e muitos
portugueses pagaram duramente. Para se desembaraçarem da sombra do servilismo
perante interesses estrangeiros, os do capital financeiro internacional,
vestiram-se de um nome – disfarce, usando o nome de Portugal para esconderem
quanto dele se têm afastado.
O gang do grande capital internacional, onde se
destaca o FMI, o BCE, as agências de notação financeira, a alta burocracia da
União Europeia e os principais dirigentes do PPE, com especial destaque para os
alemães, comporta-se como se Portugal estivesse a respirar saúde com as mesmas
motivações que antes o levaram a ficcionar desastres e a construir uma ameaça
de bancarrota. Os alegados mercados ajudam à festa, mostrando bem o que
realmente os move. Dispostos a “salvar” países, na estrita medida em que tal
seja necessário para “salvar” bancos, vestem a pele de credores, mas
verdadeiramente apenas usam essa posição para impor políticas e agravar
sujeições.
A sua generosidade, em face de um “status quo”
económico-social que permanece
desastroso, só tem paralelo na sua intransigência hostil, quando deram à troika
o papel de garante da aplicação de uma política de direita ( não só antipopular
como antinacional) que em democracia os portuguese nunca teriam aceitado. Os
seus dóceis mandatários que nos governaram nesta ultima legislatura são agora
levados ao colo, mas não entram pela porta principal, continuando a servir as
bicas aos senhores.
Não enxotar de vez esta coligação de criados de libré
do grande capital financeiro, pode suscitar os aplausos da Sr.ª Merkel ou do
afogueado Camarão britânico, mas arrastará o nosso país para o risco de um
colapso civilizacional. Se o soubermos ler, é isto quee nos mostra o texo acima
transcrito.
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