sábado, 29 de agosto de 2015

O BRASIL NO SEU LABIRINTO - 6


Datado do passado dia 26 de agosto, foi publicado na página virtual da CartaCapital um texto que merece ser lido e meditado, da autoria  do colunista Marcos Coimbra, o qual é sociólogo, presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense. Ele compara a campanha atual contra Dilma (2015) da que foi feito contra Fernando Henrique Cardoso [FHC] (1999), quando era ele o Presidente da República.
O texto intitula-se Do “Fora FHC” ao “Fora Dilma”, procurando mostraras semelhanças entre os apelos de 1999 e as manifestações recentes” e lembrando que “as marchas são legítimas, mas claramente partidárias. E assim devem ser tratadas”.



“O governo está mudo, incapaz de formular e transmitir sua narrativa dos acontecimentos no País, de como chegamos aonde estamos e para onde vamos. Não tem um discurso a respeito do que faz, do porquê e o que almeja. Limita-se a reagir de forma espasmódica e pouco criativa às pressões recebidas.
Pede a todos, ricos e pobres, simpatizantes e adversários, concordância com a necessidade de um “ajuste”. Parece no fundo querer um cheque em branco, pois não explica aos cidadãos os motivos que o exigem, não esclarece quais sacrifícios serão necessários e não fixa um horizonte.
Da oposição raramente se ouve algo que preste. Ela não expõe ideia, projeto ou proposta ao debate nacional. Seus líderes, embora cheios de cabelos brancos, agem tal qual meninos radicais. Fazem o mesmo que criticavam em seus velhos inimigos, os petistas contra quem brigaram em seus tempos de governo. 
A gratuita sugestão de Fernando Henrique Cardoso a Dilma Rousseff, a renúncia, é um exemplo perfeito dessa irresponsabilidade. A menos que se trate de uma reles vingança de quem teve de ouvir apelo idêntico.
Em 1999, em meio à crise instaurada no início de seu segundo mandato, o tucano ouviu do petista Tarso Genro a sugestão de deixar a Presidência e convocar novas eleições. Genro baseava-se na “fraude eleitoral” cometida por FHC durante a campanha, quando prometera fazer o inverso do que fazia, e no fato de ele ter perdido condições morais de governar, depois do “escândalo da privatização”.    
Enquanto os principais nomes da oposição se apequenam, os pequenos ficam menores. Ora nos brindam com declarações de um reacionarismo truculento, ora posam de ingênuos e fingem espanto diante das revelações a respeito da maneira como se financia, desde sempre, a política no Brasil. Terão se esquecido de que a eleição de praticamente todos foi custeada por meio do mesmo mecanismo?
O que se ouve e se lê na mídia é quase sempre de chorar. Às vezes por ignorância, na maioria dos casos por opção ideológica, oferece-se à opinião pública uma interpretação equivocada de nossa vida política. Em regra, a função dessa “leitura da realidade” é legitimar o discurso da oposição. Isso ficou claro no tratamento dado pela dobradinha mídia/oposição às manifestações antigoverno.
Centraram a discussão na dimensão quantitativa: relevante era o número de participantes. A oposição fixou-se na quantidade tanto quanto os meios de comunicação. Como se os manifestantes diferissem daqueles que permaneceram em casa apenas por seu ativismo e os brasileiros fossem uma massa homogênea, o que faria de quem protestava a amostra perfeita de todos.
Diante dessa hipótese inverossímil, a reação do governo e seus simpatizantes foi negá-la. À argumentação das quantidades, proposta pela oposição e pela mídia, fez-se a contraposição da sociologia dos manifestantes. As mesmas fotos que atestariam o “tamanho” dos eventos evidenciariam sua composição atípica. Ao contrário de expressar o Brasil, seriam exclusivas da classe média branca das metrópoles.     
As duas teses são verdadeiras: os protestos foram “grandes” e de fato seus participantes não eram sociologicamente representativos do conjunto do País. Mas nenhuma delas centra-se no aspecto mais significativo do fenômeno.  
Pela segunda vez temos um presidente no início do segundo mandato a enfrentar graves problemas. Pela segunda vez a popularidade presidencial despenca e fica em idênticos 8% de avaliação positiva em agosto do primeiro ano pós-reeleição. Antes de Dilma Rousseff, também Fernando Henrique ouviu “apelos” para renunciar e viu seus oponentes moverem-se para conseguir seu impeachment
Pela segunda vez, estimulada por clima parecido, a oposição convoca protestos populares. O “Fora FHC” de 1999 chegou a colocar cerca de 200 mil manifestantes nas ruas de Brasília e, muito provavelmente, seus organizadores teriam enchido a Avenida Paulista se assim o desejassem. 
Qual a diferença em relação a hoje? Em 1999, o establishment foi hábil ao pespegar a etiqueta de “coisa de petista” no “Fora FHC”, o que impediu que ele fosse interpretado como uma manifestação do conjunto da sociedade. Agora, os mesmos personagens propalam a tese inversa e querem tornar “dos brasileiros” um movimento específico de uma porção, não majoritária, do País. 

Desde o domingo 16 veio a público uma única pesquisa com manifestantes que continha a pergunta fundamental, a respeito do voto em 2014. Foi de responsabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais e realizada em Belo Horizonte. Entre os entrevistados nas 
ruas da cidade, 79% votaram em Aécio Neves e 11% anularam ou deixaram em branco o voto. A se considerar os dados de pesquisas semelhantes conduzidas ao longo do primeiro semestre, o quadro em outros locais não terá sido muito diferente.
A discussão relevante não é se os manifestantes foram muitos ou poucos. Ou se foram típicos ou não da sociedade. O mais importante: estavam nas ruas, quase exclusivamente, eleitores do PSDB.
Problema? Obviamente não, pois esses cidadãos têm todo direito de se mostrar tristes com o resultado da última eleição. O que não justifica esconder da opinião pública o fato de serem eles a ocupar as ruas.
No modo como a dupla mídia/oposição apresentou e discutiu as manifestações ficou escondida sua característica mais importante. E o governo, em sua mudez, não teve argumentos para rebater a fábula. O Fora FHC foi “coisa de petista”? Certamente. Falta é dar nome às atuais manifestações. Quem sabe não poderiam ser consideradas um “tucanaço”?”


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