Nos últimos
tempos, Coelho tem dado passos de gigante na rota da mentira e da mistificação.
Sôfrego, não se dá sequer ao cuidado de apurar se a sua galga matinal não choca
com especial despudor alguma posição pública recente de um dos seus. Um
exemplo. Um vulto do PSD entendeu por bem defender recentemente no jornal Expresso o plafonamento das pensões de
reforma . A sua linha de argumentação assentava na ideia de que era necessário
aliciar os quadros mais qualificados, e por isso mais bem remunerados,
dando-lhes oportunidade de descontarem para um seguro privado a partir de um
certo montante, em vez de os obrigar a integrar por completo o sistema público de segurança social, com a
sua relativa carga de solidariedade. Aliciá-los, para que não fugissem para
outros países. Generosidade para com gente vive bem, muito bem. E nada mais. Involuntariamente
sincero? Talvesz.
Eis se não
quando Coelho num tom pedagógico e quase intimista , em face de uma oportuna
pergunta de um jornalista sobre plafonamento das pensões, confessa ao perguntador
que o que está em causa é retirar ao Estado a obrigação de pagar pensões “milionárias”. Ou seja, está em causa
um verdadeiro ato de amor para com a segurança social pública. Desvanecedor,
mas completamente hipócrita.
Na verdade,
o Dr. Coelho esqueceu-se de dizer que a segurança social deixava de ter que
pagar pensões” milionárias”, mas deixava também de receber as correspondentes contribuições “milionárias”. Ou seja, na
globalidade não havia qualquer vantagem para o sistema público de SS, havia sim
para as companhias de seguros que se encarregariam da gestão daquilo que antes
cabia ao sistema público.
Com uma
agravante enorme: a SS pública deixaria desde já de receber as contribuições “milionárias”,
mas continuaria a ter que pagar as pensões “milionárias” correspondentes às
contribuições já recebidas. Durante muito tempo, esse plafonamento traduzir-se-ia
na prática numa descapitalização da segurança social pública, para além de
ficar anulada qualquer solidariedade para como os beneficiários mais pobres. Ou
seja, fingindo preocupar-se com a sustentabilidade da Segurança Social, o que o
Dr. Coelho realmente pretende é oferecer um chorudo negócio às companhias de seguros,
mesmo sabendo que atinge essa sustentabilidade no imediato. Hipocrisia, incompetência,
leviandade.
Outra
coisa muito diferente, da qual a direita foge como o diabo da cruz, seria a de um plafonamento das pensões num patamar
elevado, mas sem qualquer plafonamento das contribuições. Este caminho é que beneficiaria direta e claramente a SS Pública,
traduzindo-se numa solidariedade real e efetiva
dos que aufeririam pensões “milionárias” para com os destinatários de
pensões sociais. Era no fundo um tributo
pago pelos que mais têm em benefício dos que mais precisam.
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