Ciclo “Coimbra (t)em Poesia”
Rui Namorado e Vasco Pereira da Costa | Casa da Escrita
29 de setembro | 18h15
29 de setembro | 18h15
O ciclo mensal “Coimbra (t)em Poesia”, promovido pela Câmara Municipal de Coimbra ,
prossegue, no dia 29 de setembro. Rui Namorado e Vasco Pereira da Costa são os poetas que estarão presentes na Casa da Escrita, a partir das 18h15, para partilhar momentos de
poesia com o público, num clima de proximidade e de grande interação entre
público e autores.
O ciclo de poesia visa, assim,
valorizar as potencialidades comunicativas dos encontros com criadores
artísticos dos nossos dias pretendendo, sobretudo, evidenciar o papel dos
escritores e, mais concretamente, dos poetas “de Coimbra” que, quer ontem como
hoje, tanto destaque alcançaram no meio poético-literário português.
No início da sessão será apresentada
uma breve biografia de Rui Namorado e de Vasco Pereira da Costa, seguida da
leitura de um poema de ambos.
Os poetas abrangidos pelo Ciclo
“Coimbra (t)em Poesia” têm uma ligação diversa e multifacetada com Coimbra, ou
seja, podem ser poetas que nasceram (o caso de Rui Namorado), vivem ou viveram
na cidade (Vasco Pereira da Costa) ou, simplesmente, que tenham escrito sobre
Coimbra.
Entrada livre.
Anexo: Breve biografia e poemas dos
intervenientes.
Rui Namorado nasceu em
Coimbra em 1941, onde viveu até aos cinco anos. Depois, foi para Silgueiros,
uma aldeia perto de Viseu, onde o pai foi médico. Fez o liceu em Viseu.
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Vasco Pereira da
Costa
nasceu em Angra do Heroísmo, em 1948.
Ciclo Coimbra (t)em Poesia | 29 setembro | 18h15 | Casa da Escrita
Voltou para Coimbra, em cuja
Universidade frequentou a Faculdade de Direito, onde se licenciou e onde fez um
mestrado. Desde 1979 até jubilar-se, em 2011, exerceu funções docentes na
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), onde se doutorou em Direito
Económico, na especialidade de Direito Cooperativo. Foi investigador do Centro
de Estudos Sociais, desde 1981 até 2011, e coordena o Centro de Estudos
Cooperativos e da Economia Social da FEUC desde a sua fundação, nos anos 80.
Como estudante participou nas
lutas dos anos 60, tendo sido expulso da Universidade de Coimbra, por dois
anos, na sequência da crise académica de 1962 (tendo frequentado a Faculdade de
Direito de Lisboa durante esse tempo) e tendo-se, depois, envolvido
profundamente na crise universitária de Coimbra de 1969.
Fez parte da redação da Via Latina, órgão da Associação Académica
de Coimbra, em 1961 e 1962; da redação do Quadrante,
órgão da AAFDL em 1963; da redação da revista Vértice, desde Novembro
de 1964 até Dezembro de 1974. Foi um dos fundadores da editora “Centelha”, em 1970, tendo sido seu administrador,
desde Abril de 1972 até Dezembro de 1974.
Exerceu a advocacia, desde 1970
até dezembro de 1974, tendo sido consultor
jurídico do Sindicato de Hotelaria do Centro, desde 1 de julho até 31 de
dezembro de 1974.
Foi Presidente da Caixa de
Previdência do Distrito de Coimbra, de 1975 a 1977. Em representação do Partido
Socialista, foi deputado municipal na Assembleia
Municipal de Coimbra, desde 1989 até 1993, e deputado na Assembleia da
República de 1995 a 1999.
Organizou, prefaciou e participou
em diversas coletâneas e revistas com textos ensaísticos, tendo ainda sido
autor dos seguintes livros: Movimento
Estudantil e Política Educacional, Coimbra, Centelha, 1972; Educação e Política, Coimbra, Centelha,
1973; Os Princípios Cooperativos, Coimbra, Fora do Texto, 1995; Introdução ao
Direito Cooperativo, Coimbra, Almedina, 2000; Horizonte Cooperativo,
Coimbra, Almedina, 2001; Cooperatividade e Direito Cooperativo,
Coimbra, Almedina, 2005; O essencial sobre Cooperativas, Lisboa,
Imprensa Nacional, 2013; O Mistério do
Cooperativismo, Coimbra, Almedina, 2013.
É autor
dos seguintes livros de poesia: Maio Ausente, Vértice, Coimbra,
1970; Lírica do Silêncio, Centelha, Coimbra, 1973; Debruçado
no Vento, Centelha, Coimbra, 1983; Sete Caminhos, Fora do Texto,
Coimbra, 1996; Nenhum lugar e
sempre, Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2003; Os Dias Imensos, Lápis de Memórias, Coimbra, 2015.
Participou
em várias antologias e em coletâneas de diversos autores: Poemas
Livres 1, Coimbra, 1962; A Poesia Útil, Coimbra, 1962; Poemas
Livres 2, Coimbra,1963; Antologia de Poesia Universitária,
(coorganizador), Portugália, Lisboa, 1964; Poemas Livres 3, Coimbra,
1968; Vietname – antologia poética, Nova Realidade, Tomar, 1970; Poesia
70 – antologia, Inova, Porto, 1970; O trabalho – antologia poética,
Sindicatos dos Bancários, Lisboa, 1985; Poetas Escolhem Poetas – antologia,
Lello, Porto, 1992; Cântico em Honra de Miguel Torga, Fora do Texto,
Coimbra, 1996; Poetas da Centelha, Associação de
Jornalistas e Homens de Letras, Porto, 2001;
De Palavra em Punho – Antologia Poética da Resistência, Campo das Letras,
Porto, 2004; Os Poemas da Minha Vida – segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Público,
Lisboa, 2005; Antologia da Memória
Poética da Guerra Colonial, Afrontamento, Porto, 2011.
POEMAS
A hora do tigre
Foi em vão que esperaste, loucamente,
essa hora do tigre desregrada
que te rasgasse o fundo de ti próprio.
Foi em vão que, sofrendo, imaginaste
essa hora do tigre que inventasse
o gesto de uma audácia ainda pura.
Foi em vão que, sonhando, construíste
uma hora do tigre que salvasse
de misérias, insídias, de traições,
das emboscadas torpes e fatais.
Soltaste, ainda em vão, o voo das águias
que fosse além de todas as montanhas
e nas asas do vento abandonasse
a secreta flor do teu destino.
Estavas preso entre nós, desamparado,
numa angústia sem margens que perdia
suas próprias raízes.
Só o extremo de tudo te bastava
na mais larga ambição de liberdade,
harpa de um sonho, som de violino,
ou asa do rigor de uma palavra.
Abriste cada gesto, em tempestade,
aos mistérios da luz, despovoados.
O mundo num poema e em cada verso
o secreto sabor da madrugada.
Foi na hora do tigre que ensinaste
a épica altivez de ser vencido
e num último voo ainda ousaste
o gesto de ir mais longe.
In, “Nenhum lugar e sempre”, 2003.
O vinho necessário
o meu país é um copo vazio
a um canto da Europa gangrenado
Os lábios usuais morreram já
falemos pois do vinho necessário
falemos das sementes e da esperança
da cólera madura repetida
do murro que se abate sobre a mesa
Critico a memona apenas doce
do tempo já perdido
critico os lábios em posição de espera
A sede só por si não é o vinho
e as uvas apodrecem na tristeza
o copo mais vazio e mais antigo
Abril consentido maio ausente
novembro muito triste sempre triste
apenas estar aqui não é viver.
In, Maio Ausente, 1970
Rui Namorado
Professor
aposentado do ensino secundário e da Escola Superior de Educação de Coimbra.
Doutor Honoris
Causa pela Universidade de São José (Macau).
Cônsul
Honorário de França em Coimbra (1998-2001).
Diretor do
Departamento de Cultura, Turismo e Espaços Verdes da Câmara Municipal de Coimbra
(1991-2001).
Diretor
Regional da Cultura do Governo dos Açores (2001-2008).
Conselheiro
Nacional da UNESCO (2004-2008).
Membro do
Conselho Diretivo da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento.
Presidente da
Assembleia Geral da Alliance Française.
Como pintor,
usa o pseudónimo de Manuel Policarpo.
No âmbito da
escrita, publicou obras de prosa e poesia:
Prosa
narrativa: Nas Escadas do Império
(1978); Amanhece a Cidade (1979); venho cá mandado do Senhor Espírito Santo
(1980); Plantador de Palavras/Vendedor de
Lérias (1984 – Prémio Miguel Torga- Cidade de Coimbra); O maestro, o Poeta e o menino de sua Mãe
(1985- Prémio Aquilino Ribeiro); Memória Breve (1987)
Poesia: Ilhíada (1981); Riscos de Marear (1992); Sobre-ripas/Sobre-rimas
(1994); Terras (1998); My californian friends (1999; ed.
Bilingue 2000); O Fogo Oculto (2009);
Ilhíada: antes e depois (2012).
POEMAS
Retrato de
Antero
Cerca-se um homem
(ou a verdade)
de descrença e nuvens:
uma ilha num mar de humanidade
dá-se-lhe uma pistola
um banco de jardim
defronte da vida
em frente à morte
e fixando a tela
se espera
o estrondo da poesia
O Milagre das Trovas
A Isabel, mulher do poeta
Apenas te perguntou
o que levavas no regaço
e logo-logo esse embaraço
essa escusada magia:
- São rosas, Senhor!
presunçosa!
qualquer cantiga de amor
se faz com nacos de pão
ou com pétalas de rosa.
Vasco Pereira da Costa
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