sábado, 26 de setembro de 2015

Sessão de Poesia em Coimbra



Ciclo “Coimbra (t)em Poesia”
Rui Namorado e Vasco Pereira da Costa | Casa da Escrita 
 29 de setembro | 18h15

O ciclo mensal “Coimbra (t)em Poesia”, promovido pela Câmara Municipal de Coimbra, prossegue, no dia 29 de setembro. Rui Namorado e Vasco Pereira da Costa são os poetas que estarão presentes na Casa da Escrita, a partir das 18h15, para partilhar momentos de poesia com o público, num clima de proximidade e de grande interação entre público e autores.
O ciclo de poesia visa, assim, valorizar as potencialidades comunicativas dos encontros com criadores artísticos dos nossos dias pretendendo, sobretudo, evidenciar o papel dos escritores e, mais concretamente, dos poetas “de Coimbra” que, quer ontem como hoje, tanto destaque alcançaram no meio poético-literário português.
No início da sessão será apresentada uma breve biografia de Rui Namorado e de Vasco Pereira da Costa, seguida da leitura de um poema de ambos.
Os poetas abrangidos pelo Ciclo “Coimbra (t)em Poesia” têm uma ligação diversa e multifacetada com Coimbra, ou seja, podem ser poetas que nasceram (o caso de Rui Namorado), vivem ou viveram na cidade (Vasco Pereira da Costa) ou, simplesmente, que tenham escrito sobre Coimbra.
Entrada livre.

Anexo: Breve biografia e poemas dos intervenientes.

Ciclo Coimbra (t)em Poesia | 29 setembro | 18h15 | Casa da Escrita


Rui Namorado nasceu em Coimbra em 1941, onde viveu até aos cinco anos. Depois, foi para Silgueiros, uma aldeia perto de Viseu, onde o pai foi médico. Fez o liceu em Viseu.
Voltou para Coimbra, em cuja Universidade frequentou a Faculdade de Direito, onde se licenciou e onde fez um mestrado. Desde 1979 até jubilar-se, em 2011, exerceu funções docentes na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), onde se doutorou em Direito Económico, na especialidade de Direito Cooperativo. Foi investigador do Centro de Estudos Sociais, desde 1981 até 2011, e coordena o Centro de Estudos Cooperativos e da Economia Social da FEUC desde a sua fundação, nos anos 80.
Como estudante participou nas lutas dos anos 60, tendo sido expulso da Universidade de Coimbra, por dois anos, na sequência da crise académica de 1962 (tendo frequentado a Faculdade de Direito de Lisboa durante esse tempo) e tendo-se, depois, envolvido profundamente na crise universitária de Coimbra de 1969.
Fez parte da redação da Via Latina, órgão da Associação Académica de Coimbra, em 1961 e 1962; da redação do Quadrante, órgão da AAFDL em 1963; da redação da revista Vértice, desde Novembro de 1964 até Dezembro de 1974. Foi um dos fundadores da editora “Centelha”, em 1970, tendo sido seu administrador, desde Abril de 1972 até Dezembro de 1974.
Exerceu a advocacia, desde 1970 até dezembro de 1974, tendo sido consultor jurídico do Sindicato de Hotelaria do Centro, desde 1 de julho até 31 de dezembro de 1974.
Foi Presidente da Caixa de Previdência do Distrito de Coimbra, de 1975 a 1977. Em representação do Partido Socialista, foi deputado municipal na Assembleia Municipal de Coimbra, desde 1989 até 1993, e deputado na Assembleia da República de 1995 a 1999.
Organizou, prefaciou e participou em diversas coletâneas e revistas com textos ensaísticos, tendo ainda sido autor dos seguintes livros: Movimento Estudantil e Política Educacional, Coimbra, Centelha, 1972; Educação e Política, Coimbra, Centelha, 1973; Os Princípios Cooperativos, Coimbra, Fora do Texto, 1995; Introdução ao Direito Cooperativo, Coimbra, Almedina, 2000; Horizonte Cooperativo, Coimbra, Almedina, 2001; Cooperatividade e Direito Cooperativo, Coimbra, Almedina, 2005; O essencial sobre Cooperativas, Lisboa, Imprensa Nacional, 2013; O Mistério do Cooperativismo, Coimbra, Almedina, 2013.
É autor dos seguintes livros de poesia: Maio Ausente, Vértice, Coimbra, 1970; Lírica do Silêncio, Centelha, Coimbra, 1973; Debruçado no Vento, Centelha, Coimbra, 1983; Sete Caminhos, Fora do Texto, Coimbra, 1996; Nenhum lugar e sempre, Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2003; Os Dias Imensos, Lápis de Memórias, Coimbra, 2015.
Participou em várias antologias e em coletâneas de diversos autores: Poemas Livres 1, Coimbra, 1962; A Poesia Útil, Coimbra, 1962; Poemas Livres 2, Coimbra,1963; Antologia de Poesia Universitária, (coorganizador), Portugália, Lisboa, 1964; Poemas Livres 3, Coimbra, 1968; Vietname – antologia poética, Nova Realidade, Tomar, 1970; Poesia 70 – antologia, Inova, Porto, 1970; O trabalho – antologia poética, Sindicatos dos Bancários, Lisboa, 1985; Poetas Escolhem Poetas – antologia, Lello, Porto, 1992; Cântico em Honra de Miguel Torga, Fora do Texto, Coimbra, 1996; Poetas da Centelha, Associação de Jornalistas e Homens de Letras, Porto, 2001; De Palavra em Punho – Antologia Poética da Resistência, Campo das Letras, Porto, 2004; Os Poemas da Minha Vida – segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Público, Lisboa, 2005; Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, Afrontamento, Porto, 2011.


POEMAS
A hora do tigre

Foi em vão que esperaste, loucamente,
essa hora do tigre desregrada
que te rasgasse o fundo de ti próprio.

Foi em vão que, sofrendo, imaginaste
essa hora do tigre que inventasse
o gesto de uma audácia ainda pura.

Foi em vão que, sonhando, construíste
uma hora do tigre que salvasse
de misérias, insídias, de traições,
das emboscadas torpes e fatais.

Soltaste, ainda em vão, o voo das águias
que fosse além de todas as montanhas
e nas asas do vento abandonasse
a secreta flor do teu destino.

Estavas preso entre nós, desamparado,
numa angústia sem margens que perdia
suas próprias raízes.

Só o extremo de tudo te bastava
na mais larga ambição de liberdade,
harpa de um sonho, som de violino,
ou asa do rigor de uma palavra.

Abriste cada gesto, em tempestade,
aos mistérios da luz, despovoados.
O mundo num poema e em cada verso
o secreto sabor da madrugada.

Foi na hora do tigre que ensinaste
a épica altivez de ser vencido
e num último voo ainda ousaste
o gesto de ir mais longe.

In, “Nenhum lugar e sempre”, 2003.



O vinho necessário

o meu país é um copo vazio
a um canto da Europa gangrenado

Os lábios usuais morreram já
falemos pois do vinho necessário
falemos das sementes e da esperança
da cólera madura repetida
do murro que se abate sobre a mesa

Critico a memona apenas doce
do tempo já perdido
critico os lábios em posição de espera

A sede só por si não é o vinho
e as uvas apodrecem na tristeza
o copo mais vazio e mais antigo

Abril consentido maio ausente
novembro muito triste sempre triste

apenas estar aqui não é viver.

In, Maio Ausente, 1970
Rui Namorado


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Vasco Pereira da Costa nasceu em Angra do Heroísmo, em 1948.
Professor aposentado do ensino secundário e da Escola Superior de Educação de Coimbra.
Doutor Honoris Causa pela Universidade de São José (Macau).
Cônsul Honorário de França em Coimbra (1998-2001).
Diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Espaços Verdes da Câmara Municipal de Coimbra (1991-2001).
Diretor Regional da Cultura do Governo dos Açores (2001-2008).
Conselheiro Nacional da UNESCO (2004-2008).
Membro do Conselho Diretivo da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento.
Presidente da Assembleia Geral da Alliance Française.
Como pintor, usa o pseudónimo de Manuel Policarpo.
No âmbito da escrita, publicou obras de prosa e poesia:
Prosa narrativa: Nas Escadas do Império (1978); Amanhece a Cidade (1979); venho cá mandado do Senhor Espírito Santo (1980); Plantador de Palavras/Vendedor de Lérias (1984 – Prémio Miguel Torga- Cidade de Coimbra); O maestro, o Poeta e o menino de sua Mãe (1985- Prémio Aquilino Ribeiro); Memória Breve (1987)
Poesia: Ilhíada (1981); Riscos de Marear (1992); Sobre-ripas/Sobre-rimas (1994); Terras (1998); My californian friends (1999; ed. Bilingue 2000); O Fogo Oculto (2009); Ilhíada: antes e depois (2012).

POEMAS
Retrato de Antero
Cerca-se um homem
(ou a verdade)
de descrença e nuvens:
uma ilha num mar de humanidade

dá-se-lhe uma pistola
um banco de jardim
defronte da vida
em frente à morte

e fixando a tela
se espera
o estrondo da poesia


O Milagre das Trovas
A Isabel, mulher do poeta

Apenas te perguntou
o que levavas no regaço

e logo-logo esse embaraço
essa escusada magia:
- São rosas, Senhor!

presunçosa!

qualquer cantiga de amor
se faz com nacos de pão
ou com pétalas de rosa.

Vasco Pereira da Costa




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