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Comecemos pelo que coloco no topo: Rubem Fonseca. Desta vez, brindou-nos com "O Seminarista". Não é o seu melhor romance, mas não deixa de nos pegar pela garganta das emoções, atirando-nos à cara com a violência urbana das grandes cidades brasileiras, no seu estilo frio, solto, cortante. Como se a vida saísse directamente das suas palavras simples, dos seus diálogos vivos,para ser o nosso espanto.
Desta vez, um matador profissional, que em tempos fora seminarista, fala-nos descuidadamente da sua vida, da sua profissão. A degradação humana, a violência profissional, como banalidade do dia a dia, os labirintos sujos dos ricos, o ranço dos poderosos, passeiam indolentemente pelas páginas do romance. Um latim de ex-seminarista polvilha de um colorido irónico uma espécie de reportagem sobre uma máquina de violência que se vai reproduzindo e reinventando.
O seminarista, talvez cansado de inumanidade ensaia uma trajectória de saída , mas uma implacável inércia das rotinas da barbárie facilmente o recaptura. Sem reflectir a mestria narrativa de "Agosto", nem o insólito magnífico dos seus melhores contos, estamos talvez perante um romance médio do grande escritor brasileiro.
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