sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sondagem - os números da esperança



No "Correio da Manhã" de hoje é publicada uma sondagem respeitante às próximas eleições presidenciais , comparando o apoio de que dispõem Cavaco Silva e Manuel Alegre. O modo como os resultados são apresentados reflecte um ponto de vista predominante na conjuntura mediática, cujo sentido essencial é o apoucamento da posição de Manuel Alegre.
Especialmente curiosa, é a posição de alguns dos mais petrificados apoiantes intelectuais de Cavaco. Afixam um perfume de simpatia e consideração por Alegre, vestem uma pele apressada de analistas independentes e, como se fossem a personificação de uma imaginária objectividade, quase lamentam que Manuel Alegre seja um candidato que não vai ganhar.
Se lermos este fenómeno na sua globalidade, há uma conclusão objectiva que podemos tirar: a direita que pensa percebeu que a candidatura de Alegre é perigosa para Cavaco, pelo que se deu ao trabalho de a combater desde já.
Em si própria, a sondagem mostra um MA com quase o dobro das intenções de voto, se as compararmos com os votos que obteve nas últimas presidenciais; e um CS com cerca de dez por cento a mais do que aqueles que então teve. Se pensarmos que CS é o actual Presidente da República e que a campanha eleitoral está ainda longe de ter começado, o ponto de partida de MA é bastante auspicioso. E é-o tanto mais, quanto, até agora, da área política que o poderá vir a apoiar apenas o BE se pronunciou favoravelmente, através da manifestação pública de opinião de um dos seus dirigentes de maior relevo. O PS não manifestou uma posição oficial; o mesmo tendo acontecido com o PCP.
Apesar disso, o eleitorado de cada um destes três partidos da esquerda revelou-se desde já maioritariamente favorável a Manuel Alegre. Por isso, o que deveria ser notícia não é o facto de o eleitorado de esquerda não ser unânime, desde já, no apoio a MA, mas sim o facto de que, mesmo sem o apoio oficial do PS, esta candidatura parte com o o apoio de 46% das preferências eleitorais dos socialistas; mesmo sem o apoio oficial do PCP com 50,8% das preferências dos eleitores da CDU; e, perante fortes indicações de que terá o apoio do BE, com 81,9% das preferências dos eleitores do Bloco.
Se pensarmos que, de algum modo, esta sondagem assinala para MA um ponto de partida e para CS um tecto que dificilmente ultrapassará, talvez possamos compreender que ela represente um sinal de alarme para Belém e uma luz de esperança para os apoiantes da Alegre. Luz de esperança que, impedindo qualquer afrouxamento de empenho, mostra que temos um objectivo viável. Um objectivo difícil, mas viável.

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