No decorrer desta semana, entre as notícias políticas relevantes, recordo o artigo de Vital Moreira no “Público”. Recordo-o, pelo facto de ele ter sido um dos mais expressivos reconhecimentos públicos da incontornabilidade da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. E reconheça-se que foi, por isso, um poderoso apoio objectivo a essa candidatura. E foi-o tanto mais quanto se tratou de um texto criticamente desfavorável à candidatura que objectivamente acabou por favorecer.
Na verdade, Vital Moreira não gosta da candidatura de Alegre . Não gosta especialmente que o PS venha a apoiar essa candidatura. E mesmo assim vê-se forçado a reconhecer que o PS e a esquerda não têm objectivamente outra saída que não seja a de apoiarem Manuel Alegre.
Não imagino um atestado de força a uma candidatura mais expressivo do que este.
Bem sei que Vital Moreira expressou uma preferência política por um candidato ideal que fizesse o pleno das virtudes e se mostrasse vazio de defeitos, tendo sido claro a dizer que, para ele, esse candidato não era Manuel Alegre.
Mas quem não acompanhará Vital Moreira nessa preferência? Estou certo que o próprio Manuel Alegre não hesitaria um instante em desistir de imediato, se lhe assegurassem, a cem por cento, que um anjo seria destacado pelo Altíssimo, para vir à terra assumir a veste de candidato ideal da esquerda em geral, e do PS em particular, à Presidência da República. Um anjo de esquerda, inevitável e infalível, que concitasse o entusiasmo de Vital Moreira, das direcções do PS, do BE e do PCP, numa beatitude militante que arrastasse todo o eleitorado de esquerda, numa caminhada gloriosa que o instalasse em Belém.
No entanto, como a política terrena não se faz com anjos, nem com candidatos ideais, mas com a carne-e-osso relativa e imperfeita dos homens, Manuel Alegre não tem outro remédio que não seja o de continuar a robustecer a sua candidatura, fazendo jus ao facto de ser, entre os humanos, o melhor candidato presidencial, quer do ponto de vista do PS, quer do ponto de vista da esquerda , em geral, quer do ponto de vista do interesse histórico prospectivo do país, no seu todo.
Como moralidade final, posso alegar que é esta uma das riquezas da atmosfera democrática que se respira, e deve continuar a respirar, na área socialista. Assim, de facto, da pluralidade de opiniões, naturalmente mostrada, podem emergir objectivamente caminhos que transcendem a própria subjectividade de quem, demarcando-se deles, acaba por favorecê-los.
2 comentários:
Boa peça.
Também notei a perplexidade e a teia em que o Vital se emaranhou no tal artigo.
(O Vital... Bom, a verdade é que quanto mais polvilha a cabeça com farinha, pior está)
Caro camarada,
coloquei este texto que considero optimo, e com o qual estou inteiramente de acordo, no facebook de apoio ao Manuel Alegre.
Espero não me ter excedido.
Cumprimentos.
PS.: Espero que brevemente a CO Esquerda Socialista tome posição.
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