Estão ainda frescos os resultados das eleições legislativas do passado dia 27. Desta vez no essencial as sondagens não se enganaram.
O PS (36,6%) conseguiu uma diferença de 7,5 % para o PSD ( 29,1%). Na principal surpresa , em face das sondagens, o CDS atingiu o terceiro lugar com 10,5% com 21 deputados. O BE ( 9,8%)desmentiu a enorme maioria das sondagens e ficou atrás do CDS, embora tenha duplicado o número de deputados (16). O PCP (7,9%) ficou com a lanterna vermelha, com menos 2% do que o BE, mas apenas com um deputado a menos (15).
Se compararmos estes resultados com os da legislativas de 2005, verificamos que apenas o PS recuou em termos percentuais, 8,47 % (45,03 para 36,56). Todos os outros subiram: o BE- 3,50 % de (6,35 para 9,85); o CDS -3,22% ( 7,24 para 10,46); o PCP- 0,34% ( 7,54 para 7,88), o PSD - o,32 % ( 28,77 para 29,09).
Algumas observações podem ser feitas. A descida do PS é expressiva, significando a perda da maioria absoluta, mas não impede que ele continue a ser o partido mais votado, com uma larga vantagem sobre o PSD.
As subidas do PSD e do PCP, abaixo do meio ponto percentual dificilmente podem ser encaradas como politicamente positivas. Especialmente, no caso do PSD, que se batia pela vitória e continuou afinal abaixo da barreira dos trinta por cento, quase repetindo um resultado que há quatro anos fora considerado fruto de uma hipotética excepção Santana Lopes.
As subidas do BE e do CDS foram praticamente idênticas : o BE subiu umas décimas a mais, mas menos um deputado do que aquilo que subiu o CDS. Mas o CDS ficou com mais cindo deputados do que o BE, que lhe permitiram ser um interlocutor político autónomo em face do PS, algo que nem o BE nem o PCP conseguiram.
A direita no seu todo ( PSD+CDS) não ultrapassou a barreira dos 40%, mas o conjunto dos seus deputados supera os do PS, o que projecta uma complexidade acrescida no xadrez parlamentar.
Vale a pena lembrar que as significativas subidas do BE e do CDS, só são assim encaradas por estarmos perante pequenos partidos que apenas procuram alcançar posições de apoio ou de charneira. De facto 3,5% de subida não passariam de uma pequena oscilação positiva, se estivéssemos afalar de partidos que, situando-se acima dos 30%, aspiram com realismo a desempenhar funções governamnetais num prazo não muito dilatado. Por exemplo, o BE se subisse regularmente, sem um único desfalecimento, 3,5%, em cada uma das futuras eleições parlamentares, demoraria mais 25 anos a atingir a casa do 30%.
Abre-se agora um período político interessante, mas complexo. Já começaram as pressões. Alguns garnisés, pelo facto de terem crescido, já se comportam como galos.
À direcção do PS, recomenda-se serenidade, segurança de rumo, enraizamento no partido, fidelidade à identidade histórica do PS. Foi importante estarmos unidos no combate eleitoral. É importante que o continuemos. Seria péssimo que, conquistada a vitória, a direcção do partido caísse na tentação de o afunilar, reduzindo-o ao seu sector hegemónico.
2 comentários:
Basilio Horta provavelmente (ver DN de hoje) na pasta da Economia. O que é que isto significa, a ser verdade ? A ser verdade onde fica a tal "identidade histórica" do PS? Não é uma espécie de retorno a um "governo PS/CDS" devidamente camuflado ?
O PS não é um hulmilde pecador que tenha que se submeter ao escrutínio beato de nenhum São Pedro da política.
Mas é o partido preferido pelos portugueses, agora como em muitas circunstâncias.
É um partido de gente comum , de uma gente de esquerda comum, com seus erros, seus defeitos, suas virtudes.É um partido heterogéneo e popular. Uma esquerda que o exclua vale 17% do eleitorado e conta com 31 deputados, se o BE e o PCP se entenderem. Essa hipotética esquerda pura,sozinha não tem força para aprovar na AR uma simples vírgula.
É, aliás, natural que o PS se não preocupe , por isso, com o risco de não ser levado para o céu da política pelos actuais arcanjos extraviados de um "paraíso" que deixou de existir há vinte anos.
Por mim, não sonho com uma prática política de um governo do PS, que seja quimicamente pura. Espero que, globalmente, muitos aspectos da sua política mereçam aplauso.
Mas acabo de ver na TV um Louçã tonitroante a antecipar um feroz confronto entre o seu BE e o PS, a propósito do Orçamento, sendo certo que é possível que Louçã já saiba quais vão ser as posições do BE, mas não sabe seguramente quais vão ser as posições do PS.
Essa atitude guerreira, mas vazia, é muito mais relevante do que a escolha de um ou outro fulano, para este ou para aquele cargo.
Mas quando surgirem factos políticos relevantes e não notícias de hipotéticos factos futuros não deixarei de os comentar.
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