sábado, 2 de maio de 2009

A miragem do lobo que é cordeiro


Há quem, julgando-se ainda no íntimo um verdadeiro “lobo”, se procure convencer a si próprio que, em certas especiais ocasiões, está apenas a vestir a pele do que julga ser um “cordeiro”. Pode mesmo julgar ser necessário agarrar-se piedosamente às saias de um bispo, para dar verosimelhança ao que pensa ser apenas uma cordeirice postiça.

Mas a vida, com a sua suprema ironia, vira muitas vezes tudo isso de pernas para o ar. E essa ilusão de “lobo” acaba por se converter, com o tempo, numa simples miragem. A miragem dos “cordeiros” que julgam ainda ser”lobos”.

Na verdade, andam por aí alguns “cordeiros” possuídos pela ilusão de que continuam a ser os “lobos”. Não se apercebem que, realmente, já não vestem apenas a pele de “cordeiro”. São realmente verdadeiros “cordeiros”.

Por isso, em certos ajuntamentos alguns “cordeiros”, em ruidoso alarido, parecem querer imitar “lobos”, que realmente já nem existem. E assim, na impossibilidade de assaltarem inexistentes palácios de inverno, insultam os passantes, mesmo que eles nada tenham a ver com os czares.

18 comentários:

JMCpinto disse...

Pois, pois mas a provocação em política sempre irritou ..até os cordeiros.
É que com lobos não há provocações. Os lobos não deixam...
Tem de haver equilíbrio, meu Caro. Se eu passo o ano, melhor, o quadriénio, a atacar-te, dia após dia, semana após semana...não vou esperar que me batas palmas quando me encontrares. Pior ainda se eu aparecer no teu aniversário. Tu, muito educado, até me poderias desprezar, ignorar. Seria a tua forma inteligente de me fazeres sentir desprezível a teus olhos. Mas nem todos são assim tão emocionalmente inteligentes, principalmente os que não têm perspectivas...e até talvez fome (no sentido lato ou restrito do termo)
Lê o post do M. Ferreira nos Bichos Carpinteiros...já que crtamente não concordas com o meu.
Abraço Amigo
CPinto

Anónimo disse...

RN diz:

Caro CPinto:

Antes de ir ler o que me recomendas, umas breves palavras.

Vai haver, durante algum tempo, o ruído compreensível da propaganda que só por milagre poderia não existir nas actuais circunstâncias.

A seu lado, há a natural presença das emoções através das quais cada um de nós encara o acontecimento. Emoções diferentes, reflectindo a diferença entre os lados em que cada um se sinta, ou mais perto do qual cada um se sinta.

Sem esconder que o meu post incorpora naturalmente algo de cada uma dessas dimensões, ele envolve uma preocupação mais funda, muito distante e muito mais importante do que uma distribuição de culpas.

Sem esperar que as fronteiras entre as várias esquerdas se diluam, julgo que será difícil que no curto prazo alguma delas possa aproximar-se sequer dos seus próprios objectivos contra as outras.

Por isso, a crispação e mais ainda a hostilidade aberta entre elas me preocupam em si próprias. De facto, para mim o que tem de mais profundamente dramático a actual conjuntura é que parecendo inevitável, dado que cada uma delas é o que é, que as esquerdas se tenham que combater entre si, a hipotética vitória que cada uma delas consiga nesse combate incorpora também, em si própria, uma parte de derrota.

Ou seja, para dar um exemplo: por mais inimigos que o PS e a CGTP se sintam realmente entre si, em última instância e no médio prazo, se o PS ficar enfraquecido a CGTP como sindicato fica com a vida mais difícil; e se a CGTP ficar enfraquecida o PS como partido de governo fica com o eixo da sua governação mais ameaçado.

Um abraço
RN

Anónimo disse...

Há coisas e coisas a tirar a limpo deste acidente que comparado à desgraceira que o candidato e seu partido de apoio tem feito é quase nada...

Naturalmente se lamenta o acontecido, mas isso não devia servir para que um partido dito de esquerda e um candidato que desde que formou o seu blog só tem querido fazer do PCP e da INTER uns malfadados que não sabem o que querem.
De qualquer forma também lamento o sucedido.
Todavia lamento muito mais a miséria a que remeteram um povo inteiro!

Que nós saibamos e desde o VI governo provisório que a governação de Portugal tem sido feita pelo PS e PSD + o CDS/PP...E de facto a responsabilidade da crise nacional e internacional nunca poderá ser abafada com um incidente de alguns gritos e água!

Nem se deve tornar cupado quem tem sido espoliado e espesinhado pelas benfeitorias originárias de um parlamento dominado, desde 76 pelas forças que nós conhecemos...Um abraço do Catraio

Anónimo disse...

RN em conversa:

1. Embora não me possa pôr na posição de um observador externo idealmente objectivo do que tem sido a luta entre as esquerdas portuguesas nas últimas décadas, dado que estou dentro dela ao estar dentro do PS, penso que a última coisa que podeter alguma utilidade para todos é a auto-habilitação de cada parte para ser juiz da legitimidade para os outros se considerarem de esquerda.

E se não acho certo que o PS a partir da sua perspective exclua do campo da esquerda as outras esquerdas com base no que ele próprio pense (mesmo rondando os 40% de preferências eleitorais), muito menos acho sequer inteligente carimbar como de direita o PS, reduzindo o que seria uma esquerda pura a um pequeno quadrado desse modo afastado de qualquer hipótese de vir a partilhar o poder político democrático.

2. Por isso, tal como um governo democraticamente legítimo não pode exercer o poder de qualquer maneira (e não me refiro apenas ao natural respeito pela legalidade); também a oposição não pode ser exercida de qualquer maneira.
E não estou aqui a fazer um juízo moral ou de ética democrática, embora ele possa ser feito. Estou a fazer um juízo político. um governo ou uma oposição que ignorem o que acabo de dizer, acabma por se prejudicar , a prazo, a si próprios.

3. Dito isto, deve ser destacado que Vital Moreira estava integrado numa delegação de um Partido que estava ali por ter sido convidado. Não era um passante circunstancial que resiiolveu individualmente passar por ali.
Fosse como fosse o direito de crítica e de protesto nunca pode ser confundido com o direito ao insulto ou à agressão física.

Que diriam se uma delegação da CGTP convidada a assisitir a um Congresso do PS , em vez de ser apaludida fosse insultada ?

O incidente foi lamentável e mesmo não podendo servir para ignorar o resto da realidade, não deixa de fazer parte dela.

Para o VM e o PS foi um enxovalho que nem devemos esquecer, nem sobrevalorizar.Não nos diminui, mas não podemos transigir com este tipo de incidentes.

Para a CGTP foi um episódio estrategicamente muito negativo. de facto, estamos perante uma central sindical com uma influ~encia social muito mais ampla do que a dimensão eleitoral da força política que hegemoniza a Central. Por isso, tudo o que sublinhar a sua subalternidade perante o PCP e evidenciar a sua crispação em face de outras áreas políticas da esquerda, é um presnte preciosos para os seus adversários e para os seus concorrentes.
Carvalho da Silva podia ter contido os estragos se tivesse sido premptório, como foi o represntante da minoria socialista da CGTP quando comentou o incidente. Ao tirubear no pedido de desculpas ampliou o efeito negativo do incidente.

Enfim, um poderosos revés, não para VM nem para o PS no seu todo, mas evidentemente para todos os que dentro do PS tinham vindo a conseguir pouco a pouco, ano após ano, com tenacidade e teimosia, que no seio do PS fosse dado lugar semelhante à miltância sindical na UGT e na CGTP.

Será que é isso que a CGTP quer: excluir do seu seio todo o povo socialista, todos os militantes e eleitores habituais do PS?

Anónimo disse...

( Este texto reproduz o anterior, com menos gralhas)

RN em conversa:

1. Embora não me possa pôr na posição de um observador externo, idealmente objectivo, do que tem sido a luta entre as esquerdas portuguesas nas últimas décadas, dado que estou dentro delas ao estar dentro do PS, penso que a última coisa que pode ter alguma utilidade para todos é a auto-habilitação de cada uma das partes, como juiz da legitimidade de os outros se considerarem a si próprios de esquerda.

E se não acho certo que o PS, a partir da sua perspectiva, exclua do campo da esquerda as outras esquerdas, apenas com base no que ele próprio pense (mesmo rondando os 40% de preferências eleitorais), muito menos acho sequer inteligente carimbar como de direita o PS, reduzindo o que restaria de uma esquerda pura a um pequeno quadrado, desse modo afastado de qualquer hipótese de vir a partilhar, num horizonte previsível, o poder político democrático.

2. Por isso, tal como um governo,mesmo democraticamente legítimo, não pode exercer o seu poder de qualquer maneira (e não me refiro apenas ao natural respeito pela legalidade); também a oposição não pode ser exercida de qualquer maneira.
E não estou aqui a fazer um juízo moral ou de ética democrática, embora esse juízo possa ser feito. Estou a fazer um juízo político: um governo ou uma oposição que ignorem o que acabo de dizer, acabarão por se prejudicar , a prazo, a si próprios.

3. Dito isto, deve ser destacado que Vital Moreira estava integrado na delegação de um Partido que estava ali por ter sido convidado. Não era um passante circunstancial que tivesse resolvido,individualmente, passar por ali.

Fosse como fosse, o direito de crítica e de protesto nunca pode ser confundido com o direito ao insulto e à agressão física.

Que diriam se uma delegação da CGTP convidada a assisitir a um Congresso do PS, em vez de ser aplaudida tivesse sido insultada ?

O incidente foi lamentável, e mesmo não podendo servir para ignorar o resto da realidade, não deixa de fazer parte dela.

Para o VM e o PS foi um enxovalho que nem devemos esquecer, nem sobrevalorizar.Não nos diminui, mas não podemos transigir com este tipo de incidentes.

Para a CGTP foi um episódio estrategicamente muito negativo. De facto, estamos perante uma central sindical com uma influência social muito mais ampla do que a dimensão eleitoral da força política que hegemoniza a Central. Por isso, tudo o que sublinhar a sua subalternidade perante o PCP e evidenciar a sua crispação em face de outras áreas políticas da esquerda, é um presente precioso para os seus adversários e para os seus concorrentes.
Carvalho da Silva podia ter contido os estragos, se tivesse sido peremptório, como foi o represntante da minoria socialista da CGTP, quando comentou o incidente. Ao titubear no pedido de desculpas, ampliou o efeito negativo do incidente.

Enfim, um poderosos revés, não para VM nem para o PS no seu todo, mas evidentemente para todos os que dentro do PS tinham vindo a conseguir, pouco a pouco, ano após ano, com tenacidade e teimosia, que, no seio do PS, fosse dado lugar semelhante à miltância sindical na UGT e na CGTP.

Será que é isso que a CGTP quer: excluir do seu seio todo o povo socialista, todos os militantes e eleitores habituais do PS?

Rui Ribeiro disse...

Eu estive na manifestação, com os Precários Inflexíveis, e vi o Vital Moreira a passar, já perto do Martim Moniz. E o que me pareceu realmente significativo, para além do posterior jogo político-partidário e demais aproveitamentos e/ou sinceras indignações, foi o facto de uma esmagadora maioria das pessoas (participantes e espectadores) ter assobiado de forma espontânea e muito convicta a passagem do candidato do PS ( vinha rodeado de jornalistas e em passo acelerado, ninguém se pôde aperceber dos insultos e agressões).
Prezado Rui, eis, para mim, o "sinal"político mais relevante do acontecimento. Claro que algumas noções de política excluem as pessoas. Não creio que seja a sua.

Algo está podre, e vai cair...

Anónimo disse...

RN continuando à conversa:

Como militante do PS não posso ficar satisfeito com sinais públicos dessa natureza. Mas essa minha insatisfação tem pouca relevância.

Já importa muito mais saber o que vai substituir na prática isso cuja queda vaticina, pelo facto de na sua opinião estar podre.

Rui Ribeiro disse...

Percebo-o. Mas essa é a velha e muito estafada lógica de "os outros ainda são piores" que acaba por validar, em plena inércia democrática, todas as traições e hipocrisias e, no limite, perpetua no poder figuras sinistras, envoltas em muito construídas e propagandeadas auras de inevitabilidade. Basta ver a unanimidade partidária em redor do grande líder Sócrates...

Lamento, mas não existe actualmente um fantasma de direita em Portugal. Esse argumento não é honesto, é uma nuvem negra de medo inserida a martelo no horizonte eleitoral e nada mais. Um efeito especial manhoso e denunciado, que fica bem num mau tempo de antena. Quer a nossa realidade socio-económica quer o contexto europeu o desmentem, sem qualquer sociologia pelo meio. Pidesco, sim, é o ministro SS ( Santos Silva ) e pior que isto (fisco, asae, ministério da educação) não pode ficar...

Eu não sou militante de nenhum partido, voto sempre à esquerda do Ps e, por muito que lhe custe, talvez, reconhecer isto, apenas a rotatividade partidária tem sabido assegurar o mínimo de fôlego e margem de futuro à nossa jovem democracia. Enquanto uns partem e outros chegam, sempre se areja um pouco a casa...

Assim, na prática, talvez as pessoas acabem por perceber que estes partidos não servem e então retirem a legitimidade democrática mínima ao "status quo" do centrão viciado ( não votando, votando em branco, votando nos extremos ). E aí, das duas uma: ou os partidos mudam, renovam-se e dedicam-se ao país (que têm pilhado, todos, sem excepção) ou então... a rua resolve. Da pior forma, claro.

Mas isso é o imprevisível da História, e sempre é melhor do que o inevitável, não?

cumprimentos e parabéns pela resistência, em pleno coração da besta...

AHP disse...

Caro JMCPinto
Neste caso o "lobo" (ou o "cordeiro"?) não "apareceu" no aniversário: foi convidado. Ora nenhuma pessoa decente convida outra para depois a agredir. Nem se pode considerar "provocação" a aceitação de um convite.
Isto é tanto mais importante quanto a entidade convidante (ou quem está por trás dela) passa a vida a apelar - ou a fingir que apela - para uma "convergência". O que pode esperar-se de quem assim trata quem se dispõe a "convergir"?
A verdade é que, infelizmente, a entidade convidante - e a que está por trás dela - continua com as posições sectárias que sempre foram seu apanágio, desde os tempos da ditadura. Não tem emenda.
E assim qualquer "convergência" é impossível.
Um abraço amigo do
AHPinto

Anónimo disse...

RN responde ao Rui Ribeiro:

A sua não resposta é o reconecimento de que a sua posição não é politicamente traduzível numa solução prticável.

De facto, reonhece implicitamente que para si tanto lhe faz estar o PS no governo como a direita.

Recorre em última instância ao mito da "rua": ora a "rua" pode desgastar mas não decide.Pode destruir, mas não constrói.

Por isso, por mais intensa que seja a fúria contra o PS ela nunca dispensa a ideia de uma alternativa viável. Sob pena de os protestos de uns levarem a sua água ao monho dos outros.

Rui Ribeiro disse...

não resposta? assim também não vale...

porque eu respondi: a solução prática que tem provado melhor servir uma democracia ainda tão frágil como a nossa é a alternância entre os dois partidos do "centrão" (já expliquei porquê). e isto é, parece-me, um pouco diferente de dizer que "tanto faz" ter o Ps ou o Psd no poder (se eu quisesse ter dito exactamente isso, tê-lo-ia escrito).

na verdade, sinto que o essencial agora é que nenhum dos dois tenha maioria absoluta, devido, justamente, à tendência para os tiques "absolutistas"...

voto à esquerda do Ps porque sinto que algumas (não todas) das verdadeiras prioridades do país serão defendidas com intransigência e estarão sempre em cima de mesa numa eventual negociação política em contexto de maioria relativa.

mas se o sistema partidário português não conseguir gerar consensos sobre os problemas mais prementes de um país com 2 milhões de pobres e a distribuição de riqueza mais desigual da europa, então...

a rua são as pessoas, e as pessoas votam (ou não) e a indignação que por aí corre é genuína, sincera, dorida e nada comprometida com ortodoxias militantes.

pois, a rua "não constrói"... quem constrói é o Mário Lino...
sai um TGV para a linha do Norte!

mitos? destruidores? podem talvez colocá-los na gaveta, junto ao socialismo...

cumprimentos, e até às eleições.

Anónimo disse...

RN à conversa:

Afinal, eu tinha razão. Agora, sim, respondeu.

Aliás, num certo sentido, a sua posição até se compreende a partir da ideia de que se vão manter as rotinas mais comuns da vida política portuguesa.

Mas na minha opinião, se o PS se acomodar a uma certa obediência a essa lógica esperada faz mal.

Se eu tivesse força para fazer seguir a minha opinião, traduziria de uma maneira literal o que tem ocorrido em Portugal nos tempos mais recentes. Assim, assumiria o facto de termos vindo a assistir a um choque entre, de um lado, o PS e, do outro lado, os outros. Se o PS tiver maioria absoluta governa, se os outros, todos somados, tiverem maioria absoluta governam eles.

JMC Pinto disse...

Meu Caro Rui

Para começar, permite-me um pequeno comentário à intervenção do meu (nosso) Amigo AHP. Julgo saber que ela não está factualmente correcta. Se estivesse, o caso mudaria de figura e teria de ser analisado a outra luz. Penso, todavia, que não está. Eu tenho outra informação, aliás mais lógica…
Quanto ao que tu disseste: de acordo com as preocupações de princípio. Mas não sejamos ingénuos. Andamos nisto há muitas décadas. Acharias normal, razoável, digamos mesmo, eticamente aceitável, que eu me voluntariasse para integrar uma delegação partidária ou aceitasse que me integrassem numa delegação partidária para participar no evento mais simbólico de uma central sindical, tendo eu feito a defesa mais acérrima do instrumento jurídico (código de trabalho) que essa mesma central mais tenazmente combateu? E achas normal, razoável, eticamente aceitável que eu, em pré-campanha eleitoral – vá, num dia altamente simbólico, fazer uma “visita de cortesia” a uma manifestação na qual participam todos aqueles (professores, funcionários públicos, etc).que eu durante anos ataquei impiedosamente?
Tu poderás dizer-me: “Tens esse direito”. E eu estou de acordo contigo. Mas tenho também de aceitar que a minha presença provoque reacções difíceis de controlar. E a atitude que a minha presença provoca não pode ser analisada sem ter em conta o sentido e o significado objectivos do meu comportamento. É assim juridicamente, é assim psicologicamente, é assim socialmente que as coisas se passam.
Se eu fosse politicamente ingénuo, ficaria por aqui. Se não for, tenho de admitir a prévia representação das consequências da minha conduta e, ao decidir-me por ela, tu terás de admitir, ou pelo menos de supor, que eu fiz um juízo utilitário sobre as consequências do meu comportamento…
Abraço amigo
JMC Pinto

Anónimo disse...

Caro CPinto:

1. Nutro uma profunda antipatia por um dos ícones mais destacados da bem-pensância, credor aliás de profundas reverências em inesperadas instâncias: o Sr. Popper.
E, por uma razão,talvez incompreensível para espíritos mais arrumados. De facto, essa figura,estando um dis de visita a Portugal, deu uma entrevista ao Expresso, no decorrer da qual indicou como uma das razões de queixa e de ruptura com o Partido Comunista Austríaco o facto de, quando na sua juventude sendo ainda seu militante, ter sido convocado para uma manisfestação, no decorrer da qual foi violentamente espancado pela polícia austríaca.
Ou seja, em vez de culpar os espancadores culpou os espancados. Por mim, fiquei de pé atrás contra uma maneira de pensar que segrega um pensamento como esse.

Do mesmo modo,também neste caso, não adiro a qualquer atenuação da responsabilidade de quem insultou, nem admito imputar á vítima qualquer culpa pelo facto de o ter sido.

Não estou convencido que que a CGTP tenha convidado o PS para o insultar. Já me custa a compreender que não tenha, com o seu serviço de segurança, prevenido o incidente. E não aceito o modo titubeante como Carvalho da Silva reagiu, o qual agravou drasticemente as consequências políticas do incidente.
Mas o que, para mim,no essencial se pode retirar de tudo isto é que a escolha do tipo de crispação dos que na esquerda se opõem ao Governo e combatem o PS, especialmente a CGTP e o PCP,tem como uma das consequências o risco crescente de incidentes como este.
E vejo aqui uma responsabilidade política mais relevante do que a que possa resultar da sua incapacidade para no terreno impedir episódios destes.

Por último, sublinho que está de algum modo implícito no que acabo de dizer que acho irrelevante invocar indícios que sustentem uma hipotética habilidade, por parte do PS, em montar uma provocação em que os igénuos sindicalistas da CGTP tivessem vindo a cair.
Voltando ao princípio, sejamos mais lineares: as vítimas nunca devem ser culpadas por terem sido vítimas.

Um abraço

Rui Namorado

JMC Pinto disse...

Meu Caro Rui

Nada a fazer. Tens uma visão muito unilateral do assunto. No fundo, idêntica à de toda a gente do PS que sobre o assunto se exprimiu.
Eu nunca disse que a vítima não é vítima. O que disse e digo é que nem todas as vítimas estão no mesmo plano: não estão juridicamente, não estão psicologicamente, não estão em qualquer outro plano. Também nunca disse que, neste caso, o comportamento da vítima excluía a culpa do agressor (insisto: se agressor físico houve…). Ao outro agressor, o dos apupos, assobios, e outros actos semelhantes, não lhe atribuo grande relevância: tudo isso faz parte da luta política. Sabes, sou mais sensível à violência institucional. É natural, compreendo, que a violência institucional seja menosprezada ou até ignorada por quem está no poder…
Espantoso é que tu aches a CGTP culpada por não ter prevenido o incidente. Este teu derradeiro argumento apenas demonstra que eu tenho razão naquilo que venho dizendo. Ou seja, se a CGTP não preveniu aquilo que era mais do que previsível…é culpada. Pois, só que te esqueces de explicar por que razão o incidente era previsível…
Abraço
JMC Pinto

Anónimo disse...

Caro CPinto:

1. Falo em prevenir o incidente pela acção normal do serviço de ordem; e não de uma prevenção especial.

2. A minha reacção não é muito diferente da que teve o Saramago.

3.Como repetidamente tenho dito, sem deslegitimar outros planos, preocupa-me especialmente o plano político. E aí o que é muito preocupante é o facto de se ter chegado a um nível de crispação, no seio da esquerda, que há muito se não via.

4. E essa crispação parece-me tanto mais perigosa,quanto, embora apontando para uma simplificação do xadrez politico-institucional, no sentido de se posicionar de um lado o PS e do outro lado, todos os outros partidos parlamentares, me parece difícil que esses outros se consigam assumir em conjunto como uma alternativa de governo.
Ou seja, há uma dinãmica social que dificilmente se pode traduzir institucionalmente, se como parece provável a maioria absoluta estiver do lado dos outros e não do lado do PS.

Um abraço

Rui Namorado

aminhapele disse...

A razão do JMCpinto,que já não vejo há anos,é evidente.

Anónimo disse...

Poder concordar e discordar com naturalidade dos amigos é um indício positivo da qualidade dessa amizade.

Um abraço
RN