A relativa volatilidade das expectativas eleitorais respeitantes às eleições europeias, a profundidade da crise do capitalismo que atravessamos e a grande crispação política que se respira na actual conjuntura nacional justificam que se proceda a um reajustamento estratégico, na linha que o PS tem seguido na campanha que está a decorrer.
O factor tempo limita o tipo de modificações que podem com utilidade ser introduzidas. Mas é viável aquilo que poderíamos designar por um enriquecimento estratégico da campanha.
Não estou a pensar numa cosmética superficial de qualquer natureza, nem num imaginoso achado do marketing político ou numa sofisticada operação de imagem dos candidatos. Sem entender que tudo isso deva ser menosprezado, não estou a pensar no conjuntural.
De facto, por paradoxal que isso possa parecer, as medidas de tipo conjuntural são as que menos resultados podem dar nos prazos que temos. Só podemos esperar uma mudança relevante das expectativas eleitorais, com enriquecimentos estratégicos da campanha que disponham de um potencial efectivamente estruturante.
Vejamos, a título de exemplos, alguns dos possíveis vectores desse enriquecimento estratégico da campanha europeia do PS, a ser posto em prática de imediato.
Primeiro, os deputados socialistas portugueses assumem a firme determinação de lutarem por uma profunda modificação do pacto de estabilidade, dentro do PSE e do próprio Parlamento Europeu, de modo a que a União Europeia deixe de estar refém de um nefasto constrangimento, através do qual sobrevive o que há de pior na deriva neoliberal que levou à crise em que hoje estamos.
Segundo, os deputados socialistas portugueses comprometem-se a colocar no centro da agenda da União Europeia uma política que encare a economia social, nas suas vertentes cooperativa, mutualista e solidária, como um dos vectores decisivos do desenvolvimento social no seio da União, para o que tudo farão para, com urgência, lançarem um novo e ambicioso programa de apoio comunitário a esse sector que reflicta essa centralidade.
Terceiro, os deputados socialistas portugueses vão bater-se pela subordinação do Banco Central Europeu ao poder político democrático, expurgando a EU desta prótese anti-democrática, que, aliás, se revelou inútil como factor preventivo de possíveis crises. Nesta perspectiva, darão centralidade à instituição de uma regulação económica efectiva de nível europeu, guiada pelo interesse público (ou seja, pelo interesse dos povos europeus) e não por ilusões ideológicas pseudo-científicas.
Quarto, os deputados socialistas portugueses vão bater-se contra a pobreza em todos os planos, defendendo que esse combate deve ser a prioridade da União Europeia no próximo quinquénio, quer procurando extirpar as suas raízes mais fundas, quer protegendo as suas vítimas concretas desde já.
Uma decisão que conduzisse a este enriquecimento estratégico da actual campanha pode ser tomada em curtíssimo prazo, de modo a produzir efeitos para estas eleições. Mas mesmo que não fosse a tempo de produzir todos os seus resultados potenciais , sendo assumida pelo PS já, pode prestigiá-lo perante os eleitores que aspiram a uma Europa mais justa e, portanto, pode contribuir para o PS convergir de novo com um a parte do eleitorado que lhe fugiu.
Um leque de propostas deste tipo não representará uma mudança brusca de direcção, na linha que tem vindo a ser seguida pelo PS. Pelo contrário, integrar-se-á com naturalidade no discurso anti-neoliberal que este partido tem vindo a desenvolver durante a actual crise. Aliás, até se pode dizer que é estranho que o PS não tenha assumido estas propostas ou outras do mesmo sentido , na medida em que elas são um corolário óbvio de uma atitude de recusa da deriva neo-liberal que nos afundou.
Pode mesmo recear-se que , independentemente de razões eleitorais de curto prazo, se o PS persistir na omissão de propostas deste tipo, possa ser acusado de ter um discurso crítico do neoliberalismo inconsequente, que no verbo se aproxima da diatribe, mas que no campo das políticas concretas se afunda numa inexplicável inércia.
Este golpe de asa é tanto mais urgente, quanto é claro que, se tudo for deixado às rotinas em curso, o resultado das eleições permanecerá incerto até ao fim, podendo o PSD escapar a uma derrota que lhe seria fatal, se lha conseguíssemos infligir.
Com estas, ou com outras propostas que apontem no mesmo sentido, é possível, necessário e urgente, proceder a um enriquecimento estratégico da campanha que o PS tem vindo a realizar para o Parlamento Europeu. O nosso cabeça de lista merece esse impulso político . O PS não lho pode recusar.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
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7 comentários:
Apoiado! E os candidatos, em especial Vital Moreira tem que dirigir o discurso decididamente para os mais pobres, para aqueles que mais se abstêem nestas ocasiões: idosos pobres, mulheres pobres, desmpregados. E o candidato do PSE tem que dizer a verdade sobre o que se tem passado no Parlamento Europeu em que o PSD e o CDS têm prejudicado directamente os interesses dos mais pobres e dos desempregados (veja-se a recusa em alongar os períodos de licença de maternidade e de paternidade), e têm protegido o grande capital especulativo (veja-se a recusa em acabar com os paraísos fiscais)
Longe de mim querer intrometer-me nas questões do PS.
Pelas notícias que tenho lido,pelo que ouço na rua e nos transportes colectivos,parece-me que estás a falar de um PS que não existe.
As tuas propostas estão nos antípodas da "ideologia" instalada.
Também não acredito que o cabeça de lista aceitasse tais prioridades...
Tenho a sorte de me incluir nos "idosos pobres",como diz AP no comentário anterior...
RN em diálogo com aminhapele:
1.Não me referindo ao facto de oteu nome ainda estar nos cadernos eleitorais internos, admito que não te sintas do PS. Mas independentemente dessa circunstância o PS também é teu.
2. A política é um combate, não é uma sucessão de análises clínicas. Se fosse tu terias razão.
Como não é, o PS só tem possibilidades de ser eficaz se for mais próximo daquilo que eu penso do que daquilo que ele hoje parece ser.
Acredita que,com a maior sinceridade,desejo que venças o teu combate político.
Mas que vençam as tuas ideias e não os que nada têm a ver com o que pensas.
Caro Rui Namorado,
O meu nome é João Pedro Freire, edito o TRIBUNA SOCIALISTA, sou militante do BE e da sua corrente Esquerda Nova. Assumo-me como socialista federalista europeu. Está feita a minha apresentação e dado o meu retrato!
Gostaria de saber, a propósito da "nova ambição do PS", ou entra o apoio oficial (!) a esse paladino do neo-liberalismo que é Durão Barroso?
Por último, fica uma palavra de reconhecimento pessoal pelo trabalho militante que o socialistas do PS continuam a fazer para que o "Socialista" da sigla continue a fazer algum sentido ...
Saudações socialistas,
João Pedro Freire
RN em diálogo:
Como pode deduzir das minhas postagens, cujas palavras-chave são "Clube dos Mentirosos", nunca poderia concordar com o apoio a um dos membros desse Clube, que aliás desempenhou nos Açores o modesto papel de servidor de cafés aos senhores da guerra.
Caro João Pedro Freire:
Há pouco respondi-lhe apenas de raspão. Agora com mais tempo quero agradecer-lhe as suas palavras.
As esquerdas precisam de troca de ideias. Os partidos devem ser instãncias de intervenção política e não prisões mentais.
Tenho seguido a sua Tribuna. Vi que deu pela existência da "esquerda socialista".
Cordiais saudações do
Rui Namorado
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