domingo, 9 de novembro de 2008

Na FEUC: economia global, mercadorização e interesses colectivos


Recebi do Júlio Mota mais uma nota informativa sobre uma sessão do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios, que tem vindo a decorrer na FEUC. Esta sessão vai decorrer, na próxima segunda-feira,dia 10 de Novembro, sendo a terceira do ciclo temático Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais. Eis a nota informativa que referi:

"O grupo de docentes da FEUC dinamizador e organizador (em colaboração com os estudantes do Núcleo de Estudantes de Economia da FEUC e com o apoio da Coordenação do Núcleo de Economia) do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC vem com a presente informar que irá decorrer, a 10 de Novembro, a terceira sessão do ciclo temático Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais, na Sala Keynes da Faculdade de Economia e no Teatro Académico Gil Vicente.
A terceira sessão deste Ciclo enquadra-se na problemática Economia global e mercadorização versus interesses Colectivos e tem como tema central Economia Global, Agricultura e Meio Ambiente. Com efeito, satisfeitas as duas condições, economia global e os seres vivos a serem exclusivamente vistos e transformados em mercadorias, então esta realidade necessariamente leva a questionar se este processo nos afasta ou nos aproxima da melhoria dos interesses colectivos.
Nesta sessão, falar-se-á assim da Economia Global a partir de dois ângulos de análise: por um lado, falar-se-á das finanças internacionais e da instabilidade na União Europeia, assim como dos mecanismos de transmissão da instabilidade dos mercados financeiros integrados. Falar-se-á, de igual modo, dos eventuais impactos da crise financeira americana e internacional sobre a economia real da União Europeia, tendo em conta o quadro de referência da maioria dos seus políticos, o neoliberalismo. Para estes e para este corpo teórico, as crises são reduzidas a desajustamentos nos mercados ou a incorrectos equilíbrios nos mercados financeiros, não enraizadas, portanto, na economia real. Daí que procurar a solução para as crises, tomadas apenas como crises financeiras, sem procurar também na economia real as causas daquela, tendem a acelerar os problemas já graves das economias reais. Portanto, no quadro de referência em que se movimentam os nossos decisores da política económica, não se pode vislumbrar uma saída para a crise económica, para a recessão económica numa Europa que já conta, na economia real, com milhões de desempregados. Uma visão diferente então da que partilham a maioria dos políticos da Eurolândia, do Banco Central Europeu e do Banco Internacional de Pagamentos, é a que Jan Toporowski, especialista em Finanças Internacionais, nos vem agora dar à Faculdade de Economia. É uma visão que curiosamente se assemelha à que os ventos nos trazem agora da América, não da América de Paulson, esta é, geralmente, a visão dos políticos da Eurolândia, mas sim da América de Obama, claramente afirmada agora na conferencia de 7 de Novembro quando afirma que não há solução para a crise que não seja centrada na economias real. De um outro ângulo, nesta sessão falar-se-á também das transformações agrícolas no quadro europeu e da agricultura no mundo, da industrialização da agricultura, da importância que as novas tecnologias assumem hoje face aos grandes desafios que enfrenta a Humanidade, entre as quais as questões do meio ambiente, do esgotamento do modelo assente nos processos químicos e das manipulações genéticas, da necessidade de um modelo assente no desenvolvimento da biologia e, sobretudo, a necessidade de resolver e de eliminar o pesadelo da fome, pois vivemos num mundo onde 850 milhões de pessoas passam fome. Esta intervenção está a cargo do engenheiro Fernando Oliveira Baptista, ex-ministro da Agricultura e notoriamente um dos maiores peritos portuguesas nestas matérias.

A sessão começa às 15 horas com as conferências de Jan Toporowski e de Fernando Oliveira Baptista na Faculdade de Economia, na sala Keynes, sendo comentadores José Reis (FEUC)e António Gama (FLUC). À noite, no Teatro Académico de Gil Vicente, será projectado o filme Nosso Pão Quotidiano de Nikolaus Geyrhalter, Áustria.

Programa detalhado




Hora: 15:00
Local: Sala Keynes da Faculdade de Economia

Conferências:
Jan Toporowski
(SOAS, Londres)
Fernando Oliveira Baptista (ISAUT, Lisboa)

Comentários:
José Reis
(FEUC)
António Gama (FLUC)

Hora: 21:15
Local: Teatro Académico de Gil Vicente

Filme/Documentário:
Nosso Pão Quotidiano
Nikolaus Geyrhalter, 2005

Comentários de
Jan Toporowski
Fernando Oliveira Baptista
José Reis
António Gama


Comentador especial para o filme/documentário:
Nascimento Costa (FMUC)

Debate

O filme Nosso Pão Quotidiano , de Nikolaus Geyrhalter, já foi premiado em diversos festivais , salientando-se que foi nomeado para o prémio de melhor documentário europeu de 2005.
No Teatro Académico Gil Vicente, serão distribuídas gratuitamente duas brochuras: uma com os textos base das conferências e uma segunda brochura com textos sobre o filme e sobre os grandes desafios que se colocam à agricultura de hoje, em que, no dizer do Director Geral da FAO, se assiste à concretização de um pacto neocolonial entre os países ricos e os países em desenvolvimento.
Dada a temática central do filme, a industrialização da agricultura, para o debate sobre este filme conta-se com a presença de Nascimento Costa da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.



Sinopse do filme

O filme Nosso pão quotidiano (Our Daily Bread) mostra os locais em que os alimentos são produzidos: paisagens surrealistas plastificadas e optimizadas para os tractores e restantes máquinas agrícolas, salas limpas localizadas em instalações frigoríficas industriais, concebidas para assegurar a eficácia logística, e máquinas que exigem materiais uniformes para um processamento sem quebras. O que poderia pensar-se fazer parte do domínio da ficção científica é agora a própria realidade. A nossa alimentação é produzida em espaços espectaculares que raramente são vistos.
Aqui há muito pouco espaço para os humanos, que parecem alheios a tudo isto: pequenos e vulneráveis, apesar de se adaptarem o melhor que podem, com roupas especiais, protectores de ouvidos e capacetes. Estão em determinados locais da cadeia de produção, a realizar trabalhos para os quais ainda não se conseguiram inventar máquinas. O homem interfere o menos possível no processo de fabrico.
Quando um trabalhador faz uma pausa para se alimentar, essa acção parece dar azo a um contraste absurdo, mas isso é simultaneamente uma referência à principal finalidade destas fábricas aparentemente utópicas.
O filme é um convite dirigido ao nosso sentido de curiosidade, ao nosso desejo de saber o fundo das coisas, de olhar, escutar e ficar estupefacto, de associar e de pensar como é a civilização actual. Somente depois de a vermos através dos nossos olhos é que podemos acreditar como ela é. O filme é um quadro em grande formato de uma estética nem sempre fácil de digerir, mas que retrata algo em que todos participamos. Uma experiência pura, meticulosa, do melhor que já foi feito e que permite a cada um dos nós formar ideias e retirar conclusões.

O Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC tem merecido desde o seu início o apoio da nossa comunidade universitária e também da nossa imprensa, sobretudo local. Neste caso, continuamos a contar com o vosso apoio para esta terceira sessão e estamos certos, e agradecemo-la antecipadamente, que no limite do possível podemos contar com a vossa presença em mais um dia de reflexão sobre a crise na economia global.
Informamos que a estrutura de todo o ciclo até agora estabelecido para este novo ano lectivo assim como os textos que neste âmbito irão sendo produzidos estão disponíveis no site http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/index.htm.
Sem outro assunto meus caros colegas e amigos, esperamos pela vossa participação na FEUC e no Gil Vicente.

Pela Comissão Organizadora

Júlio Marques Mota

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