sábado, 8 de novembro de 2008

Atenção ao Movimento Cooperativo!



Quase tão espantoso como o descalabro da "casa capitalista", é o esquecimento que tem coberto o facto de a especificidade cooperativa se poder revelar como um recurso precioso, quer na resposta imediata a esta conjuntura dramática, quer como uma das mais esperançosas janelas que se podem abrir para o nosso futuro.
Governos e instituições internacionais parecem prisioneiros dos seus próprios fracassos, encerrados num curto prazo sem horizontes, como se apenas soubessem ver no futuro as sombras das suas próprias frustrações presentes. E pior do que isso, a pouco e pouco como cães batidos que voltassem, pé ante pé, depois da realidade os ter tão violentamente escorraçado, os pregadores do costume regressam com as suas ladainhas neoliberais , recitando melancolicamente o mesmo cantochão como se nada se tivesse passado nestes últimos tempos. E, naturalmente, passam em claro o fenómeno cooperativo, esquecendo os oitocentos milhões de cooperadores espalhados pelo mundo.
E é especialmente escandaloso (Escandaloso : sublinho. É a palavra justa.) que entre os partidos de esquerda, com especial relevo para os que pertencem à Internacional Socialista,por serem os mais naturalmente impregnados pelos valoeres cooperativos, não tenha havido a sombra de uma referência às virtualidades das soluções cooperativas.
E quanto ao PS português, o meu partido, posso perguntar-me com mágoa, porque parece ele ter renunciado à sua matriz sergiana, porque parece ter-se degradado até ao ponto de ter esquecido um dos traços mais futurantes do seu código genético.


Vem isto a propósito do documento[enviado pela FENACOOP] que vou transcrever de imediato, da responsabilidade da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), uma organização fundada em 1895, que é desde então a mais representativa organização do movimento cooperativo mundial.

Sublinhe-se que o texto em causa é subscrito pelos mais representativos líderes mundiais da ACI:


Ivano Barberini -Presidente

Stanley Muchiri -Vice-Presidente pela África


Li Chunsheng -Vice-Presidente pela Ásia-Pacífico

Carlos Palacino -Vice-Presidente pelas Américas


Pauline Green -Vice-Presidente pela Europa





CARTA ABERTA AOS GOVERNOS DO G8

A população mundial tem observado, chocada e incrédula, a forma como algumas estruturas financeiras globais se têm desintegrado em pânico, e alguns bastiões do investimento e da indústria bancária têm entrado em colapso e desaparecido. Tem-se admirado como os líderes políticos mundiais têm sido forçados a empenhar vastas quantias do dinheiro dos contribuintes, num esforço para consolidar e estabilizar os bancos e as bolsas de valores, que foram sacudidos até ao âmago pela ganância empresarial e pela má gestão orientada pelo lucro. As pessoas receiam agora o que os efeitos de tudo isto provocarão na economia real.
Ao mesmo tempo, estes mesmos cidadãos do mundo sabem que existe um modelo empresarial alternativo seguro, estável e sustentável, possuído e controlado por 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Ele é fiel para com os seus Valores e Princípios globais de auto-ajuda, sustentabilidade, posse e controle pela comunidade, participação democrática, equidade e transparência.
Constitui um modelo empresarial que não está à mercê das bolsas de valores, pois assenta, em vez disso, no financiamento dos membros para a sua valorização; e não está sujeito à manipulação e à ganância, dado que é controlado pelas populações locais para as populações locais. Trata-se de uma actividade em que os excedentes não são apenas distribuídos pelos accionistas, mas revertem para os que realizam transacções com a empresa, mantendo, assim, a riqueza gerada pelas empresas locais na comunidade local em benefício do ambiente e das famílias locais.
Isto é o Sector Cooperativo da Economia Global, que emprega 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Não é por coincidência que se dá o caso de as economias mais bem sucedidas e estáveis do mundo terem igualmente as economias mais cooperativas do mundo.
Não é também uma coincidência que as empresas cooperativas que se mantiveram fiéis aos valores e princípios cooperativos são as mesmas que, durante as últimas semanas, têm beneficiado da retirada de depósitos e contas bancárias das sociedades financeiras e dos bancos que se desmoronaram – um reconhecimento da persistente confiança de que são alvo por parte do público em geral.
As pessoas sabem que uma COOPERATIVA significa um modelo empresarial diferente – balizadas por valores e com um espírito comunitário diferente.
Quando os líderes políticos preparam a sua reunião para analisar se as instituições globais que regem o sistema financeiro e bancário estão aptas a fazê-lo, nós, os que temos o privilégio de representar a economia cooperativa global, apelamos aos nossos líderes políticos para que:

1.Utilizem o seu poder político e financeiro combinado para colocar a mesma energia e o mesmo dinamismo na protecção da população mundial face aos piores efeitos da recessão global que enfrentamos actualmente como resultado da má gestão do modelo empresarial capitalista.

2.Assegurem que na luta contra a recessão, e em qualquer reforma das estruturas financeiras globais, tais como um novo sistema regulamentador, tenham em especial atenção a estabilidade e a segurança da economia cooperativa e o seu valor para os milhões de indivíduos e famílias que ela apoia em todos os recantos do mundo, e concedam a este modelo empresarial o reconhecimento e o apoio político que o seu contributo exige.

3.Assegurem condições de concorrência iguais entre países e modelos bancários, e tenham em conta a diversidade do sistema bancário nas futuras regras.
A ACI prontifica-se a contribuir, com a sua componente única de competências, para o trabalho do G8 na resolução destas questões.

[Traduzido do original pelo Secretariado da FENACOOP - JC ]

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