sábado, 22 de novembro de 2008

A Guerra das Rosas



Teve ontem o seu desenlace o processo de escolha do Secretário – Geral do Partido Socialista Francês. Mas o resultado da votação decisiva é tão apertado que verdadeiramente deixa a pairar a ideia de que o processo formalmente fechado, pode não o estar realmente. Assim, nos próximos dias vai decorrer um Conselho Nacional do PSF, órgão que tem a competência estatutária de validação dos resultados das eleições internas.

De facto, Martine Aubry ganhou a eleição a Ségolène Royal, por 42 votos de diferença, ou seja, 67.413 votos contra 67.371 ( 50,02% contra 49,98%), reflectindo uma participação de 58,87% dos inscritos no partido.

Este foi o quarto episódio de um processo que se prolongou por vários meses, se tivermos em conta a longa campanha interna que teve lugar. O primeiro episódio foi a votação nacional das moções de orientação política, apresentadas ao sufrágio dos militantes.
Foram votadas seis moções, que obtiveram as percentagens de votos que abaixo se indicam:
- Ségolène Royal et Gérard Collomb : 29,08% ( "L'espoir à gauche, fiers d'être socialistes").
- Bertrand Delanoë : 25,24% ( "Clarté, courage, créativité").
- Martine Aubry : 24,32% ( "Changer à gauche pour changer la France")
- Benoît Hamon : 18,52% ( "Un monde d'avance")

Estes resultados envolveram várias surpresas, a maior das quais foi o resultado da moção Delanoe, que era dada como favorita, acabando por ficar a par da moção Aubry, o que colocou a moção Royal num favorável primeiro lugar, mas muito longe da maioria absoluta. A segunda surpresa foi o facto de uma moção da esquerda do partido, claramente assumida contra três moções fortes( numa das quais se incluíam os seguidores de Laurent Fabius), ter quase chegado aos 20%.

Esta relativa fragmentação do partido, em que a moção mais votada não chegava aos 30%, tornou o Congresso uma instância decisiva para a formação de alianças que originassem, se não um consenso em torno de um candidato, pelo menos dois candidatos fortes, como fruto de agrupamentos das moções. Afinal , apenas o “Pôle écologique” anunciou o seu apoio a Segoléne Royal e a moção “Utopia”, a Benoît Hamon. Ninguém mais se juntou a Segolène e os que se lhe opunham não conseguiram opor-lhe uma frente comum explícita.

Em face do que ocorreu no Congresso, acabaram por ser apresentadas três candidaturas: S. Royal, M. Aubry e B. Hamon. Delanoe não se candidatou, nem a sua moção apresentou um outro candidato próprio. No decurso do Congresso não deu indicação expressa de apoiar qualquer dos três candidatos, mas no dia seguinte deu publicamente o seu apoio a M. Aubry.

Disputada a eleição entre os três candidatos, nenhum obteve maioria absoluta, pelo que foi necessário que os dois mais votados disputassem uma segunda volta. De facto, Royal obteve 42,51% dos votos, Aubry 34,70% e Benoît Hamon 22,79%. De imediato, Hamon declarou o seu apoio a Aubry.

Tendo-se verificado que o número total de votantes tinha subido cerca de três por cento, ao ter superado os 56%, que era claro que a preferência de Delanoe não foi partilhada por todos os que o haviam seguido na votação da Moção e que Royal chegava perto dos 50%, a segunda volta prometia-se renhida. E como se viu foi tão renhida que não é absolutamente certo que não surjam mais surpresas.

Os próximos dias podem ser elucidativos, para se ver se este cenário tão complicado, aguça finalmente o engenho dos socialistas franceses, levando-os a um outro patamar de consistência; ou se acaba por os arrastar para um pântano donde podem não conseguir sair tão depressa.

E sobre estas suas vicissitudes internas paira ainda a sombra do novo partido em formação ( Parti de Gauche) a partir de uma cisão, liderada pelo Senador J.-L. Mélanchon, ocorrida muito recentemente, por causa dos resultados das votações das moções, acima referidos.

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