Os Encontros do Monte Branco são um forum internacional de dirigentes da economia social que se reúne regularmente desde 2004.
Envolvem dirigentes de organizações de economia social de todo o mundo, destinando-se a impulsionar o respectivo desenvolvimento.
Participam neles universitários, políticos, representantes de movimentos de cidadãos e de instituições internacionais. Querem tornar evidente que a economia social está preparada para responder aos grandes desafios do futuro.
Numa mensagem hoje difundida pelo INSCOOP, informa-se que: "A Associação "Les Rencontres du Mont-Blanc" (RMB) agrupa dirigentes das empresas de Economia Social de todo o mundo. O seu Conselho de Administração decidiu tomar posição sobre a grave crise que afecta a economia planetária, publicando a presente declaração".
Depois transcreve-se a referida declaração, que, por minha vez, vou aqui reproduzir de imediato:
Declaração
"A exuberância irracional dos mercados", para retomar o termo usado casualmente pelo antigo presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan, tomou agora proporções de um cataclismo que abalou os principais mercados financeiros do planeta com amplas consequências económicas e sociais, de que começamos a sentir os efeitos devastadores.
Esta crise de excepcional gravidade desmente categoricamente aqueles que, invocando mecanismos de autoregulação do mercado, advogaram uma desregulação sem limites.
O regresso da intervenção pública e da regulação, claramente indispensáveis, não nos deve todavia iludir. Não basta purgar o sistema dos seus efeitos mais nocivos, já que não se atacam as causas profundas na raiz do problema, essencialmente o primado que é dado à maximização do lucro antes de todas outras considerações.
Os dirigentes das empresas de economia social (cooperativas, mutualidades, associações, fundações) de todos os continentes, reunidos no seio da Associação Os Encontros do Monte-Branco querem nesta ocasião lembrar que:
O objectivo principal da finança é estar ao serviço das empresas, o que foi obliterado pela excessiva financiarização da economia.
Existe um modo de empreender e conceber a actividade económica assente em valores que dão a primazia à satisfação das necessidades do maior número, à utilidade social, ao interesse geral, à justa repartição dos ganhos dessa actividade pelos homens antes do objectivo de curto prazo de maximizar lucros.
Este é o caminho seguido pelas empresas de economia social, há mais de um século, em todas as regiões do mundo, com sucesso e para o maior benefício das populações em causa.
Tal abordagem, se seguida com rigor, permite evitar os problemas de que a economia capitalista dá actualmente um triste espectáculo.
A economia social oferece, pois, uma alternativa totalmente credível em que se pode confiar e que abre reais perspectivas à construção de um mundo mais humano e mais solidário.
Os participantes n'Os Encontros do Monte-Branco sublinham que soluções apressadas tomadas pelos governos, consistindo em fazer suportar os custos exorbitantes de salvação das instituições financeiras vítimas dos seus próprios erros pela massa dos cidadãos dos países atingidos, que já são os mais expostos às consequências da crise, podem originar consequências muito injustas, mesmo se a crise necessita de medidas urgentes para evitar a sua propagação.
Finalmente, os participantes n'Os Encontros do Monte-Branco consideram que as decisões das instituições financeiras públicas e dos governos devem ser submetidas a condições de transparência, que permitam aos cidadãos, por intermédio dos seus representantes democraticamente eleitos, exercer um controle efectivo.
Este requisito deve ser traduzido em muito maior transparência que a actualmente exigida para o financiamento dos organismos financeiros e empresas em geral. Sublinham a tal respeito a vantagem das regras seguidas nas cooperativas e mutualidades, em que os utilizadores ou produtores dos serviços são ao mesmo tempo os seus accionistas/membros e têm, por isso, o controlo das empresas.
As decisões e as regras aplicadas devem fazer prevalecer o interesse geral sobre o interesse exclusivo dos operadores de mercado, mesmo na esfera financeira. A remodelação inevitável das instituições financeiras herdadas de Bretton Woods deve encontrar fonte de inspiração nos valores inerentes à economia social. Esta deve estar preparada para que um período de crescimento novo, no quadro de uma globalização plural, reoriente essa globalização para um crescimento mais sustentado, em que os frutos desse crescimento sejam melhor partilhados.
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