sábado, 29 de novembro de 2008

Grupo de Coimbra de Universidades Brasileiras


No passado dia 27 de Novembro, decorreu na Universidade de Coimbra uma cerimónia simbólica do mais alto significado. De facto, nesse dia na Sala Grande dos Actos, também chamada Sala dos Capelos, foi assinado por representantes de cerca de quarenta Universidades brasileiras o instrumento constitutivo do Grupo de Coimbra das Universidades Brasileiras (1).


Esse grupo assumiu como referência a Universidade de Coimbra, incorporando-a, na sua própria identidade. Aliás, um dos oradores brasileiros expressamente se lhe referiu também, durante a cerimónia, como"alma mater", na qual boa parte da da tradição universitária brasileira se reconhece. Tudo isso representa naturalmente uma enorme honra para a Universidade de Coimbra, bem como naturalmente um acréscimo de responsabilidade; mas coroa também um importante esforço de conjugação das Universidades brasileiras entre si, cuja repercussão futura só pode ser da maior relevância.


Antes de realizada a cerimónia de constituição da nova organização de universidades, teve entretanto lugar uma outra cerimónia de imposição de insígnias aos mais recentes doutorados de nacionalidade brasileira, em cada uma das oito faculdades da Universidade de Coimbra.


Nos cadeirais dos doutores desta vez sentaram-se, lado a lado com os doutores de Coimbra, cerca de quarenta reitores de Universidades brasileiras.



O cortejo tradicional, saiu da Biblioteca Joanina e, tendo atravessado o Pátio das Escolas, subiu depois à Via Latina, tendo entrado, por fim, na Sala dos Capelos. Desta vez, além das cores habituais das oito faculdades, via-se uma grande mancha branca, assinalando a presença dos colegas brasileiros.



Como é fácil de ver, tudo isto não seria possível se a Universidade de Coimbra não dispusesse no Brasil de um capital simbólico imenso e se não se tivessem tecido, ao longo dos anos, múltiplos laços de cooperação entre as Universidades brasileiras e a Universidade de Coimbra. Estão agora criadas condições para que mais funda e mais vasta possa ser essa colaboração. Está aberta uma nova via de cooperação entre Portugal e o Brasil. Uma via cuja importância poderá potenciar o significado do já há muito existente "Coimbra Group" de Universidades europeias(2). Como nos diz uma informação oficiosa da UC: “o Grupo de Coimbra de Universidades Brasileiras adopta o "Coimbra Group" de universidades europeias como modelo e a Universidade de Coimbra como matriz cultural do espaço da lusofonia”


Quem não o compreenderá? O Governo brasileiro teve o cuidado de mandatar um dos reitores brasileiros presentes para ser portador de uma mensagem pessoal e calorosa do seu Ministro da Educação. O Presidente da República Portuguesa, mais modestamente, enviou um texto de congratulação que foi lido na cerimónia. Mas o Primeiro-Ministro de Portugal, que não hesitara em vir a Coimbra, poucos dias antes, assistir uma cerimónia menor de uma entidade fundacional privada, não achou valer a pena estar presente nesta cerimónia, apesar de, naturalmente, convidado. E, mais inacreditavelmente, nem sequer enviou o seu Ministro do Ensino Superior, também convidado, que assim igualmente primou pela ausência.


Mas que fique bem claro: nesta minha referência crítica a tais ausências, a tais atitudes de descaso quanto a um facto, cuja relevância se metia pelos olhos dentro, não há qualquer sombra de melindre com base na minha qualidade de membro desta Universidade, por ter visto apoucada uma realização que lhe não é estranha.

Reflecte, sim, a mágoa de um militante do PS, por ver o seu Governo incorrer numa omissão que parece indiciar uma miopia política que se não esperaria, uma vez que desperdiçou uma oportunidade de ouro, para sublinhar mais um importante passo na senda da sua própria orientação política de valorizar as relações com o Brasil.

E se nos lembrarmos da recorrente acumulação de Ministros em tantas cerimónias que tão longe ficam da importância desta mais estranhamos estas estranhas ausências.
*******************
(1) Eis o Grupo de Coimbra de Universidades Brasileiras, que terá como associados fundadores as seguintes instituições:

1. Universidade Federal do ABC, (São Paulo)
2. Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre,
3. Universidade Federal de Amapá,
4. Universidade do Estado do Amazonas,
5. Universidade Federal do Amazonas,
6. Universidade Federal da Bahia,
7. Universidade Federal da Integração Luso-Afro- Brasileira,
8. Universidade Nacional de Brasília,
9. Universidade Estadual de Campinas,
10.Universidade Federal de S. Carlos,
11.Universidade Federal de Santa Catarina,
12.Universidade Federal do Ceará,
13.Universidade do Estado de Santa Cruz,
14.Universidade Federal Fluminense,
15.Universidade Federal de Minas Gerais,
16.Universidade Federal de Goiás,
17.Universidade Federal do Rio Grande,
18.Universidade Federal de Mato Grosso,
19.Universidade Estadual do Rio de Janeiro,
20.Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,
21.Universidade Federal do Rio de Janeiro,
22.Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
23.Universidade Estadual de Londrina,
24.Universidade Presbiteriana Mackenzie,
25.Universidade Federal do Maranhão,
26.Universidade Federal de Santa Maria,
27.Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,
28.Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
29.Universidade Federal do Pará,
30.Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
31.Universidade Federal do Paraná,
32.Universidade Estadual Paulista,
33.Universidade do Estado de São Paulo,
34.Universidade Federal de São Paulo,
35.Universidade Metodista de S. Paulo,
36.Universidade Federal de Pelotas,
37.Universidade Federal Rural de Pernambuco,
38.Universidade Federal de Ouro Preto,
39.Universidade Federal de Roraima,
40.Universidade Federal de Sergipe,
41.Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
42.Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
43.Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
45.Universidade Federal de Uberlândia,
46.Universidade Federal de Viçosa.

(2) Fundado em 1985 e legalmente instituído em 1987, o Coimbra Group é constituído pelas seguiintes Universidades europeias:

1. Aarhus (Denmark) - Aarhus Universitet
2. Barcelona (Spain) - Universitat de Barcelona
3. Bergen (Norway) - Universitet I Bergen
4. Bologna (Italy)- Università di Bologna
5. Bristol (United Kingdom)- University of Bristol
6. Budapest (Hungary)- Eötvös Loránd University
7. Cambridge (United Kingdom)- University of Cambridge
8. Coimbra (Portugal) - Universidade de Coimbra
9. Dublin (Ireland) - Trinity College Dublin
10. Edinburgh (United Kingdom) - University of Edinburgh
11. Galway (Ireland) - National University of Ireland, Galway
12. Genève (Switzerland) - Université de Genève
13. Göttingen (Germany) Georg-August-Universität Göttingen
14. Granada (Spain) - Universidad de Granada
15. Graz (Austria) - Karl-Franzens-Universität Graz
16. Groningen (The Netherlands) - Rijksuniversiteit Groningen
17. Heidelberg (Germany) - Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg
18. Iasi (Roumania) - Alexandru Ioan Cuza University of Iasi
19. Jena (Germany) - Friedrich-Schiller-Universität Jena
14. Kraków (Poland) - Uniwersytet Jagiellonski w Krakowie
15. Leiden (The Netherlands) - Universiteit Leiden
16. Leuven (Belgium)- Katholieke Universiteit Leuven
17. Louvain (Belgium) - Université Catholique de Louvain
18. Lyon (France)- Pôle Universitaire de Lyon
19. Montpellier (France)- Pôle Universitaire de Montpellier
20. Oxford (United Kingdom)- University of Oxford
21. Padova (Italy) - Università degli Studi di Padova
22. Pavia (Italy) - Università degli Studi di Pavia
23. Poitiers (France) - Université de Poitiers
24. Praha (Czech Republic) - Univerzita Karlova v Praze
25. Salamanca (Spain) - Universidad de Salamanca
26. Siena (Italy) - Università degli Studi di Siena
27. Tartu (Estonia)- Tartu Ülikool
28. Thessaloniki (Greece) - Aristotle University of Thessaloniki
29. Turku (Finland) - Turun Yliopisto
30. Uppsala (Sweden)- Uppsala Universitet
31. Würzburg (Germany) - Universität Würzburg
32. Åbo (Finland) - Åbo Akademi

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Jacques Généreux adere ao novo Partido de Esquerda


A atribulada guerra das rosas actualmente em curso, em França, para determinar qual das duas finalistas vai liderar o Partido Socialista Francês, tem vindo a evoluir a par com o lançamento de uma cisão no seio desse mesmo partido, para criar um novo : O Partido de Esquerda ("Parti de Gauche").
Ontem, foi anunciada a adesão do primeiro subscritor da moção "Utopia", apresentada no recente Congresso. Hoje, tive conhecimento da adesão ao novo partido de Jacques Généreux, antigo memebro do Conselho nacional do PSF, a cuja ala esquerda há muito pertencia. Economista internacionalmente prestigiado e politólogo arguto era umas das raras vozes entre os socialistas franceses com pretígio intelectual próprio e internacional. Trata-se, por isso, de uma adesão muito significativa. Vários dos seus livros estão, aliás, traduzidos em Português.Vou pois transcrever, na íntegra (tendo-o retirado do blog do novo partido), o comunicado em que Généreux anunciava a sua ruptura com o PSF.
Como já outro dia disse, em postagem anterior, não auguro nada de bom quanto aos resultados políticos, para a esquerda em geral e para a área socialista em particular, da fragmentação dos partidos socialistas. Mas será estulto imaginar que as cisões se poderão evitar, indefinidamente, se as direcções políticas actuais persistirem numa deriva de submissão ao cânone neoliberal, tal como tem acontecido, à maior parte delas, nos últimos anos.

Eis o comunicado de Jacques Généreux:


"Pourquoi je m’engage dans la construction du Parti de Gauche"

Communiqué de
Jacques Généreux-Ex-membre du Conseil national du PS


"La ligne politique que je crois la plus adaptée aux défis du XXIe siècle, et la plus susceptible de s’opposer à la grande régression engagée par la droite, reste irréductiblement minoritaire au sein du PS. Ce constat, trop de fois confirmé, me conduit à quitter ce parti pour m’engager dans la construction d’un nouveau parti de gauche, socialiste, républicain, démocratique et résolument décidé à refonder l’union des partis de gauche autour d’un programme de gouvernement.
Tout au long des années 2000, au côté d’autres socialistes, je me suis engagé contre la dérive du PS et de ses homologues européens vers les politiques et les valeurs néolibérales : privatisation et mise en concurrence des services publics, baisse des impôts sur les revenus du capital et les hauts salaires, dérégulation des marchés financiers, généralisation du libre-échange, philosophie de la responsabilité individuelle, culte de la compétitivité, abdication devant la mutation de l’Union européenne en espace de guerre économique. Face à cette dérive, bien des militants découragés ont déjà quitté le PS, tandis que d’autres, dont je fus, n’ont jusqu’ici pu se résoudre à abandonner le parti de Jaurès sans combattre pour sa renaissance. Le courage politique commandait de ne pas se résigner, car les seules batailles perdues d’avance sont celles que l’on renonce à mener. Mais voici venu le temps où la lucidité politique commande de reconnaître la défaite.
Les résultats du congrès de Reims sont à cet égard peu équivoques : la ligne résolument socialiste que j’ai défendue aux côtés d’Henri Emmanuelli et de Benoît Hamon est soutenue par moins d’un militant sur 5 ; en votant pour Ségolène Royal malgré l’opposition de tous les autres leaders du PS, 50% des militants estiment que le clivage gauche-droite est dépassé, et que l’avenir de la transformation sociale passe par la mutation du PS en un parti démocrate allié au centre-droit ; enfin, si la courte victoire de Martine Aubry est confirmée, c’est celle d’une coalition ambiguë intégrant les plus ardents défenseurs des options libérales, celle d’un front construit sur le rejet de Ségolène Royal, et non sur une ligne commune concernant des questions aussi essentielles que le libre-échange ou le traité de Lisbonne. La vieille direction du PS, celle qui a conduit à la catastrophe du 21 avril 2002, celle qui a creusé le divorce entre le PS et son électorat lors du référendum européen du 29 mai 2005, aura peut-être « sauvé les meubles » en se liguant contre une personne. Mais le PS sort de cette manœuvre tout aussi illisible qu’avant et laisse ses électeurs tout aussi orphelins d’une représentation politique claire et efficace.
Je garde intactes mon amitié et mon estime pour les camarades qui, face à ce constat d’échec, pensent que la bataille interne au PS demeure l’engagement le plus utile au pays. Pour ma part, devant l’urgence qu’il y a à proposer une alternative politique à la régression sociale en cours, devant l’exigence immédiate d’une représentation politique du « non » socialiste aux prochaines élections européennes, je ne crois pas utile de dépenser mon énergie à convaincre 50 % des militants du PS de redevenir « socialistes », et j’entends l’exaspération des électeurs qui attendent d’un responsable politique qu’il s’occupe enfin davantage du pays que de son parti.
Je n’ai plus d’illusion sur la capacité de la « gauche du PS » à constituer rapidement l’axe central de ce parti sur les questions économiques, sociales ou européennes. Qui plus est, même quand elle parvient à inscrire ses propositions dans le programme du PS, ce peut être en pure perte. Ainsi, en 2004, pour les élections européennes, au nom de l’unité et sous l’impulsion de François Hollande, le conseil national, unanime, a accepté en bloc la ligne défendue par Henri Emmanuelli et Jean-Luc Mélenchon, ligne selon laquelle la Constitution européenne était en l’état inacceptable et n’aurait le soutien du PS qu’à un certain nombre de conditions. Mais cette ligne, qui valut au PS une grande victoire en juin 2004, était, dès le mois de juillet, piétinée par le Premier secrétaire. Ce dernier entrait en campagne pour le « oui », engageant à sa suite une majorité de militants, quand bien même aucune des prétendues « conditions » proclamées devant le peuple français n’avait été seulement discutée.
Non contente de cette première trahison du suffrage universel, la direction du PS ne s’est pas dressée d’un seul bloc contre Nicolas Sarkozy quand celui-ci imposait la ratification parlementaire du traité de Lisbonne (traité strictement identique à celui que 55% des Français et les deux tiers des électeurs de gauche avaient rejeté). Le président de la République commettait un crime contre la démocratie, doublé d’un crime de haute trahison puisqu’il s’entendait avec des puissances étrangères pour imposer un traité contre la volonté clairement exprimée par le peuple français. Face à pareille forfaiture, pouvait-on imaginer, que nous, les socialistes, les héritiers de Jaurès et de la promesse d’une « démocratie jusqu’au bout », nous ne serions pas, cette fois au moins, unis du premier au dernier, pour mobiliser le peuple contre la droite antidémocratique ? Eh bien, pire qu’une simple réticence à mener ce combat, nous eûmes quelques leaders visiblement satisfaits que, grâce à Sarkozy, on ait sauvé leur cher traité, contre le peuple ! Quelques leaders qui participeront peut-être à une direction du PS, d’ores et déjà décidée à construire un programme européen commun avec le PSE, c’est-à-dire avec tous les plus ardents défenseurs du traité de Lisbonne, qui ont désormais en tête une seule obsession : convaincre les Irlandais que leur « non » à ce traité n’est pas recevable, qu’ils doivent dire « oui » à ce qu’ils refusent, car désormais, dans l’Union européenne, il n’est de place que pour les peuples qui renoncent à leur souveraineté.
Un tel entêtement à bafouer la démocratie, une telle application à mépriser le choix des peuples, ne peuvent que nourrir un ressentiment antisocialiste et antieuropéen, dont le principal débouché politique sera la montée d’un populisme gauchiste ou nationaliste, au détriment d’une gauche de gouvernement proeuropéenne. C’est pour combattre cette funeste perspective que, en 2005, j’ai mené une campagne nationale pour un « non » de gauche et proeuropéen, un tour de France du « non » socialiste aux côtés de Marc Dolez et Gérard Filoche, une campagne unitaire avec les communistes, avec Attac, avec toutes les forces de gauche engagées pour une Europe du progrès social. Je ne vois pas avec qui d’autre que ceux-là je pourrais, en 2009, mener à nouveau une campagne pour cette Europe-là.
Le PS, en quête de renouveau et de reconquête de l’électorat populaire, pouvait prendre une autre voie. À la faveur du « non » français en 2005, il aurait pu entendre que ceux qui, dans ses rangs, étaient restés aux côtés de la gauche (c’est-à-dire du côté de ses électeurs) avaient fait le bon choix politique. À la faveur de la nouvelle crise financière enclenchée dès l’été 2007, il pouvait reconnaître que tous les socialistes qui, inlassablement depuis les années 1990, avaient fait le bon diagnostic sur la mutation du capitalisme, n’étaient pas d’archaïques gauchistes mais, au contraire, des socialistes vraiment au fait du monde présent. Or, ces socialistes qui avaient « un monde d’avance », aucun autre courant au PS n’a voulu entrer dans le congrès avec eux, dans une motion commune à laquelle ils étaient disposés sans autres conditions que celles relatives à la ligne politique, concernant notamment la réorientation de la construction européenne et la remise en question du dogme du libre-échange. Je prends acte de ce refus. Je prends acte de ce que la seule motion qui, selon moi, aurait dû arriver en tête dans un Congrès « socialiste », et dans ce moment de l’histoire qui lui donne raison, est arrivée en queue avec 18,5% des votes.
En conséquence, à la suite de Marc Dolez et de Jean-Luc Mélenchon, je m’engage dans la construction du « Parti de Gauche ». J’appelle tous ceux qui m’ont fait jusqu’ici l’honneur de manifester leur soutien à mes engagements à nous rejoindre dans cette entreprise.
[Dimanche, 23 novembre 2008]

domingo, 23 de novembro de 2008

Outono em Coimbra











Outono em Coimbra


em coimbra, mondego é só um rio
um outono que chega, uma palavra

em coimbra, mondego é um outono
um inverno na própria primavera

só as folhas o dizem, quantas cores
há segredos e lendas, pelas margens

quantas tardes de outono adormecidas
no seu leito de versos e viagens

e há um segredo antigo, neste rio
que sempre passa como se ficasse

um rio perdido dentro da cidade
que é coimbra na serra quando nasce
que é coimbra no mar e não tem fim



Rui Namorado
23 de Novembro de 2008

sábado, 22 de novembro de 2008

Apelo de economistas por novos horizontes

Benoît Hamon foi o primeiro subscritor de uma moção que representou, no recente Congresso do Partido Socialista Francês, a sua ala esquerda, tendo obtido 22% dos votos como um dos três candidatos a Secretário-Geral do PSF, e tendo dado o seu apoio a Martine Aubry, na 2ª volta. Vou transcrever o texto de um conjunto de economistas que manifestaram apoio a Hamon através de um apelo público.
As posições assumidas e as propostas apresentadas podem ser discutíveis, mas integram um espaço crítico do qual nenhum Partido Socialista pode alhear-se. Representam uma atitude ofensiva que deve ser apanágio dos socialistas, sob pena de se deixarem arrastar para uma espécie de cumplicidade mole com um neoliberalismo, que deixou vir à luz do dia a sua decrepitude e o seu arcaísmo mortífero.
Eis o apelo, ao qual se seguem os nomes dos subscritores:

Appel d’économistes en faveur de la candidature de Benoît Hamon

L’économie subit sa plus grave crise depuis 1929. Les pistes que notre pays empruntera pour en sortir dépendront avant tout des choix politiques qui seront réalisés. C’est pourquoi, en tant qu’économistes, quelles que soient nos appartenances politiques, nous ne sommes pas indifférents à l’issue des débats internes qui se mènent au sein du principal parti d’opposition. Nous sommes conscients que ce dernier jouera un rôle décisif dans la constitution dans une alternance capable de déboucher sur une alternative réelle. Pour se faire, le Parti Socialiste devra tirer un bilan sans concession des politiques menées depuis plus de deux décennies. Au cours de cette période, la financiarisation de l’économie, la déréglementation bancaire, le libre-échange incontrôlé, l’ouverture à la concurrence dans les secteurs de service public, les soi-disant réformes structurelles du marché du travail et les politiques macroéconomiques conduites ont creusé les inégalités et se sont avérées incapables d’assurer le plein-emploi. Ces politiques ont, au contraire, abouti à une détérioration constante de la situation du plus grand nombre. Elles ont, de reniements en reniements, conforté les discours sécuritaires et identitaires. Il convient donc, dès maintenant, de penser la politique nécessaire pour assurer la transition vers un nouveau modèle de croissance et de développement.
Les réflexions économiques des candidats à la direction du Parti Socialiste laissent présager de la politique qui sera menée. A cet égard, les chantiers que propose de creuser Benoît Hamon ouvrent des voies nouvelles et pertinentes dans le contexte actuel. Parmi ceux-ci, l’entrée de l’Etat dans le capital des banques recapitalisées est nécessaire pour contrôler, consolider et étendre la sphère du pôle public financier pour reconstruire les conditions de stabilité et d’efficacité du mécanisme du crédit. Ceci doit aussi se faire dans le cadre d’un redéploiement de la politique industrielle qui assume pleinement les responsabilités de l’État comme organisateur, comme initiateur, mais aussi le cas échéant comme producteur. Les services publics doivent être le modèle de référence de la gestion des biens collectifs. Le système fiscal doit être rendu plus redistributif pour éviter que l’effort de financement de l’action publique ne pèse avant tout sur les classes moyennes et modestes qui subissent la crise du pouvoir d’achat. Ceci implique un contrôle sur les mouvements financiers afin de pénaliser les pratiques d’évasion et de concurrence fiscale qui sont les moyens que les plus riches se donnent pour se soustraire à la loi commune et violer ainsi les principes de la décision démocratique. La puissance publique doit organiser, avec les partenaires sociaux, l’indexation des salaires sur l’inflation et les gains de productivité. L’extension de l’assiette des cotisations sociales doit être privilégiée, comme alternative au recul de l’âge de la retraite pour préserver le système par répartition. La progressivité et la modulation de l’impôt sur les sociétés doit permettre de taxer la rente et de favoriser les entreprises qui investissent et qui créent des emplois. On ne saurait tolérer plus avant les pratiques de dumping fiscal, social et écologique que l’on constate hors mais aussi dans l’UE et qui aboutissent, par le biais du libre-échange, à défaire de l’extérieur ce qui a été construit à l’intérieur. Des protections sont donc nécessaires et seront à mettre en place, notamment par l’activation du principe de préférence communautaire, pour mettre fin à la déflation salariale et garantir les normes sociales et écologiques contre le libre-échange. Un véritable New Deal doit être élaboré pour sortir l’Europe de la récession. Pour cela, l’Europe doit pouvoir lever l’emprunt. Le pacte de stabilité doit être définitivement abandonné. Les statuts de la BCE doivent être refondés pour permettre une politique monétaire faisant du plein emploi et de la stabilité du système financiers des objectifs à part égal avec la stabilité des prix. L’action de la BCE doit être intégrée dans une logique de politique économique globale, à l’inverse du dogme d’indépendance qui n’est ni fondé en théorie, ni désormais applicable en pratique.
La candidature de Benoît Hamon a d’ores et déjà permis de réhabiliter de nombreux débats interdits de politique économique. Il est temps de les aborder de front, car la poursuite d’une stratégie consistant à amender à la marge le modèle de croissance néo-libéral se trouverait décalée vis-à-vis des défis qu’il faut relever en ce moment-charnière pour élaborer un programme de sortie de crise.
Premiers signataires:

Bruno Amable (Université de Paris 1)
Angel Asensio (Université de Paris 13)
Liêm Hoang-Ngoc (Université de Paris 1)
Dany Lang (Université de Paris 13)
Jean-Marie Monnier (Université de Paris 1)
Stefano Palombarini (Université de Paris 8)
Bernard Paulré (Université de Paris 1)
Muriel Pucci (Université de Paris I)
Nathalie Rey (Université de Paris 13)
Jacques Sapir (EHESS)
Richard Sobel (Université de Lille 1)
Damien Sauze (Université de Bourgogne)
Nadine Thévenot (Université de Paris 1)
Bruno Tinel (Université de Paris 1)
Stéphane Tizio (Université de Bourgogne)
Julie Valentin (Université de Paris 1)
Franck Van de Velde (Université de Lille 1)

FEUC: o ciclo continua

FEUC

Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios


24 de Novembro


Teatro Académico Gil Vicente :


4ª sessão do ciclo temático:
"Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos:


Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais".

Esta 4ª sessão tem como tema central :

“Trabalho Feminino, Divisão Internacional do Trabalho


e Direitos Fundamentais”.

Recebi, uma vez mais, do Júlio Mota a informação que a seguir transcrevo e para a qual desde já chamo a vossa atenção.


Caros Colegas e Amigos

O grupo de docentes da FEUC dinamizador e organizador (com a colaboração dos estudantes do Núcleo de Estudantes de Economia da FEUC e com o apoio da Coordenação do Núcleo de Economia) do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC vem com a presente informar que irá decorrer, a 24 de Novembro, a quarta sessão do ciclo temático Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais, no Teatro Académico Gil Vicente.
A quarta sessão deste Ciclo enquadra-se na problemática Economia global e mercadorização versus interesses Colectivos e tem como tema central “Trabalho Feminino, Divisão Internacional do Trabalho e Direitos Fundamentais”. A análise deste tema é claramente pertinente quando se sabe que, na actual economia globalizada, os trabalhadores nos Estados Unidos concorrem com os trabalhadores do Bangladesh ou com os trabalhadores da China na produção dos mesmos produtos, sendo a escala de salários inequivocamente incomparável, mas com um dado comum, a ausência de direitos, mesmo que nessa escala haja diferenças. É esse dado comum aliado a uma produção igualmente comum que justificou a opção pelos dois documentários, para mostrar aos estudantes, e não só, que os perdedores da globalização, e são muitos, podemos ser nós todos, nos países ricos e nos países pobres, se estruturalmente o sistema continuar desregulado. Nos Estados Unidos, e considerando os salários mais baixos, estes correspondem em média a 3 dólares por hora enquanto no Bangladesh ou na China correspondem a entre 20 a 30 cêntimos igualmente por hora. Pode dizer-se que estamos perante uma tendência decrescente dos direitos dos trabalhadores, constituindo a China (considerada a maior zona franca do mundo) para alguns analistas a zona que determina o seu limite inferior. Trata-se afinal de reduzir o salário a um mero custo de produção e o trabalho a uma mercadoria, que assume caricatamente a função da mais descartável das mercadorias.
Nesta sessão, serão projectados dois documentários sobre as sweatshops: o primeiro, A face escondida da globalização, do National Labor Committee, e o segundo, o filme principal, Fabricado em Los Angeles, de Almudena Carracedo e Robert Bahar.
As sweatshops são fábricas de vestuário, as fábricas do suor, na expressão portuguesa, as fábricas da miséria, na expressão francesa que operam no século XXI, entre o Bangladesh e os Estados Unidos, no centro de Los Angeles, cidade do sonho à escala mundial, a Meca do cinema, mas também a cidade do pesadelo para muitos que aí trabalham de acordo com um mecanismo alimentado pela imigração clandestina, que é assim, uma peça central na reprodução do sistema. Nas sweatshops, os homens podem confundir-se com ratos ou baratas, desde que produzam; podem chegar até à exaustão desde que isso aumente os lucros; podem passar noites inteiras a trabalhar desde que as mercadorias sejam entregues
Estamos longe de Adam Smith, estamos perto da linha de teóricos e políticos que rodearam Reagan e que deram depois Bush pai e Bush filho, sendo hoje Alain Greenspan um dos seus mais importantes representantes e que na sua recente audição no Congresso dos Estados Unidos afirma: “Tenho efectivamente uma ideologia. A minha convicção é a de que os mercados livres e concorrenciais são de longe a forma sem rival de organizar as economias”. Estamos afinal, como sublinha o New York Times, a propósito do filme Fabricado em Los Angeles, num mundo “em que a luta dos trabalhadores por maior salário é também uma batalha pela dignidade”, onde “a contestação laboral não morreu, nem é fútil” (ver anexo).
O documentário Fabricado em Los Angeles mostra-nos também a luta heróica de três mulheres que se batem por uma maior transparência nas relações entre empresas, se batem pela aplicação da lei Assembly Bill 633 da Califórnia, segundo a qual todos os agentes empresariais envolvidos numa sequência de produção serão conjuntamente responsáveis pelo respeito pelas leis do trabalho. Estas mulheres batem-se assim, afinal, por uma relação de transparência entre estas e o fisco, entre as empresas e o Estado, forçando a que a economia subterrânea se torne visível, se torne legal, e que todos sejam responsáveis perante o Estado. Este foi um dos eixos mais marcantes do processo judicial que opôs patronato e trabalhadores, numa viagem ao interior da indústria do vestuário em Los Angeles, feita com os olhos dos trabalhadores imigrantes que afinal eram as suas vítimas directas.
Nesta sessão, falar-se-á assim da actual economia global a partir de dois ângulos de análise: por um lado, falar-se-á da globalização a partir da produção de vestuário em sweatshops no Bangladesh e em Los Angeles; por outro lado, falar-se-á duma luta tenaz de mulheres imigrantes que lutam pelos seus direitos, luta esta que neste contexto significa também uma luta pelos direitos dos trabalhadores em toda parte do mundo e de todo o mundo. Aliás, uma das figuras espantosas do documentário sobre os Estados Unidos leva a sua mensagem a Hong Kong e à OMC e reconhece ao fazê-lo que a sua batalha pelos direitos dos trabalhadores é exactamente ali e agora que começa.

O programa detalhado desta sessão é o seguinte:


Hora:
21:15
Local:
Teatro Académico de Gil Vicente

Filme/Documentários:

1. A Face escondida da Globalização, de National Labor Committee

2. Fabricado em Los Angeles, de Almudena Carracedo e Robert Bahar

Comentários:

Margarida Chagas Lopes
Virgínia Ferreira
Lina Coelho

Debate

O filme Fabricado em Los Angeles já foi premiado em diversos festivais, salientando-se o seu último galardão, Emmy Award na 29th Annual News and Documentary Emmy Awards, em Setembro de 2008.

Tal como tem sido hábito, no Teatro Académico Gil Vicente, será distribuída gratuitamente uma brochura com textos sobre o filme e sobre os temas em análise.
Informamos que a estrutura de todo o ciclo até agora estabelecido para este ano lectivo assim como os textos que neste âmbito irão sendo produzidos estão disponíveis no site
http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/index.htm.

Sem outro assunto e certos da vossa atenção e presença, que antecipadamente agradecemos, apresentamos os nossos cumprimentos.

Pela Comissão Organizadora,


Júlio Marques Mota


ANEXO

Sobre o filme, diz-nos o New York Times:

Quando a luta dos trabalhadores por maior salário é igualmente uma batalha pela dignidade.
A contestação laboral não morreu. Nem é inútil, de acordo com um excelente documentário “Fabricado em Los Angeles”. Quantas vezes é que nós já não ouvimos falar da necessidade dos trabalhadores se organizarem quando os empresários apresentam exigências intoleráveis sobre os seus empregados? Pois bem, neste documentário, isto acontece de novo e a lição repete-se.
Embora o filme descreva uma longa e laboriosa campanha conduzida pelos trabalhadores, muitos deles com o estatuto de “não documentado”, na indústria de vestuário de Los Angeles, este não se limita a questionar somente a imigração ilegal e as suas consequências. O Congresso dos Estados Unidos pode não ser capaz de decidir como tratar os imigrantes ilegais da nação, mas o filme compreende e explica que esta é, simplesmente aqui, uma componente integral da economia. Mais ainda, o documentário fala-nos, basicamente, sobre a dignidade humana.

Um livro sobre Gorz


Foi publicado recentemente em França um pequeno livro que nos proporciona uma esclarecedora viagem através da obra de André Gorz. Arno Münster, seu autor, conheceu pessoalemnte Gorz de quem foi amigo e é um cultor da sua obra.
De facto, "André Gorz ou le Socialisme Difficile"mostra bem a densidade dos escritos deste francês de adopção, nascido na Austria,em Viena , em 1923 e falecido em França, em 24 de Setembro do ano passado. Estando no seu início este blog abordou detalhadamente o dramático acontecimento, tendo-se então detido na vida e obra de Gorz.
Gorz, amigo e admirador de Sartre, foi um dos pensadores mais originais do século XX, que, aliás, muito contribuiu para arejar o pensamento socialista e para humanizar o marxismo, reconciliando-o consigo próprio e com a realidade actual, de modo a potenciar a sua utilidade como precioso instrumento crítico. Tanto mais precioso quanto mais completamente for expurgado da ganga sectária, quase religiosa, dos seus cultores dogmáticos das várias vulgatas que o têm ensombrado.
Movendo-se ideologicamente à margem dos sectarismos partidários, aproximou-se de Ilich, partilhou a modernidade dos ecologistas socialistas, com a mesma independência com que se aproximara dos sindicalistas mais criativos, como foi o caso de Bruno Trentim, algumas décadas atrás.
E quem tenha vivido a crise académica de 1969, em Coimbra, ou quem tenha frequentado as suas memórias e evocações, bem pode ter encontardo referências a Gorz, que, na verdade, já então nos ajudou a pensar as nossas próprias lutas.
Pelo menos a mim, nunca deixou de me marcar profundamente, ao longo da sua vasta obra, que sempre vim acompanhando com atenção e proveito.
Voltando ao livro: talvez possamos dizer, para concluir, que ele tanto pode ser um incentivo para se ler Gorz, quanto àqueles que o não tenham feito, como pode constituir um guia, para quem já se tenha embrenhado nos aprazíveis labirintos do pensamento de "gorziano".

A Guerra das Rosas



Teve ontem o seu desenlace o processo de escolha do Secretário – Geral do Partido Socialista Francês. Mas o resultado da votação decisiva é tão apertado que verdadeiramente deixa a pairar a ideia de que o processo formalmente fechado, pode não o estar realmente. Assim, nos próximos dias vai decorrer um Conselho Nacional do PSF, órgão que tem a competência estatutária de validação dos resultados das eleições internas.

De facto, Martine Aubry ganhou a eleição a Ségolène Royal, por 42 votos de diferença, ou seja, 67.413 votos contra 67.371 ( 50,02% contra 49,98%), reflectindo uma participação de 58,87% dos inscritos no partido.

Este foi o quarto episódio de um processo que se prolongou por vários meses, se tivermos em conta a longa campanha interna que teve lugar. O primeiro episódio foi a votação nacional das moções de orientação política, apresentadas ao sufrágio dos militantes.
Foram votadas seis moções, que obtiveram as percentagens de votos que abaixo se indicam:
- Ségolène Royal et Gérard Collomb : 29,08% ( "L'espoir à gauche, fiers d'être socialistes").
- Bertrand Delanoë : 25,24% ( "Clarté, courage, créativité").
- Martine Aubry : 24,32% ( "Changer à gauche pour changer la France")
- Benoît Hamon : 18,52% ( "Un monde d'avance")

Estes resultados envolveram várias surpresas, a maior das quais foi o resultado da moção Delanoe, que era dada como favorita, acabando por ficar a par da moção Aubry, o que colocou a moção Royal num favorável primeiro lugar, mas muito longe da maioria absoluta. A segunda surpresa foi o facto de uma moção da esquerda do partido, claramente assumida contra três moções fortes( numa das quais se incluíam os seguidores de Laurent Fabius), ter quase chegado aos 20%.

Esta relativa fragmentação do partido, em que a moção mais votada não chegava aos 30%, tornou o Congresso uma instância decisiva para a formação de alianças que originassem, se não um consenso em torno de um candidato, pelo menos dois candidatos fortes, como fruto de agrupamentos das moções. Afinal , apenas o “Pôle écologique” anunciou o seu apoio a Segoléne Royal e a moção “Utopia”, a Benoît Hamon. Ninguém mais se juntou a Segolène e os que se lhe opunham não conseguiram opor-lhe uma frente comum explícita.

Em face do que ocorreu no Congresso, acabaram por ser apresentadas três candidaturas: S. Royal, M. Aubry e B. Hamon. Delanoe não se candidatou, nem a sua moção apresentou um outro candidato próprio. No decurso do Congresso não deu indicação expressa de apoiar qualquer dos três candidatos, mas no dia seguinte deu publicamente o seu apoio a M. Aubry.

Disputada a eleição entre os três candidatos, nenhum obteve maioria absoluta, pelo que foi necessário que os dois mais votados disputassem uma segunda volta. De facto, Royal obteve 42,51% dos votos, Aubry 34,70% e Benoît Hamon 22,79%. De imediato, Hamon declarou o seu apoio a Aubry.

Tendo-se verificado que o número total de votantes tinha subido cerca de três por cento, ao ter superado os 56%, que era claro que a preferência de Delanoe não foi partilhada por todos os que o haviam seguido na votação da Moção e que Royal chegava perto dos 50%, a segunda volta prometia-se renhida. E como se viu foi tão renhida que não é absolutamente certo que não surjam mais surpresas.

Os próximos dias podem ser elucidativos, para se ver se este cenário tão complicado, aguça finalmente o engenho dos socialistas franceses, levando-os a um outro patamar de consistência; ou se acaba por os arrastar para um pântano donde podem não conseguir sair tão depressa.

E sobre estas suas vicissitudes internas paira ainda a sombra do novo partido em formação ( Parti de Gauche) a partir de uma cisão, liderada pelo Senador J.-L. Mélanchon, ocorrida muito recentemente, por causa dos resultados das votações das moções, acima referidos.

domingo, 16 de novembro de 2008

Em França, à Esquerda um novo Partido.


Vou transcrever um texto assinado pelo Senador francês Jean-Luc Melanchon e pelo deputado Marc Dolez, dois ex-militantes da ala esquerda do Partido Socialista Francês, que acabam de deixar o partido a que pertenciam, para promoverem a fundação de um novo partido de esquerda em França. Como podem verificar, pelo texto que dou a conhecer, ambos se reconhecem no partido alemão Die Linke ( A Esquerda), que foi criado a partir de uma cisão no SPD, dispondo hoje de mais de cinquenta deputados e atingindo os 12 % nas sondagens mais recentes.

Penso que as cisões são, em geral, respostas equívocas, mesmo que o sejam a problemas reais, que só enfraquecem politicamente o conjunto da esquerda em geral e, particularmente, a área específica em que ocorrem( neste caso a área socialista). Mas sei , também, que elas são quase sempre muito estimuladas pelo mau funcionamento dos partidos em que acontecem. E é no seio destes que devem ser prevenidas, nomeadamente, no seio dos grandes partidos socialistas que, por serem partidos que representam uma ampla fatia do eleitorado, são naturalmente heterogéneos.
E as conjunturas de crise como a actual, podem suscitar processos bruscos e nem sempre previsíveis, dado que suscitam pulsões contaditórias. De facto, se por um lado aconselham a que dentro deles se cerrem fileiras, não deixam de agudizar , em contrapartida, muitas das diferenças de opinião que aí se manifestam. Às direcções cabe a responsabilidade de prevenirem as crises enquanto não são iminentes, velando pela qualidade efectiva da democracia interna, pela convivialidade na discordância e proscrevendo qualquer hegemonia aparelhística de quadros medíocres, especialmente se for a paga de uma qualquer fidelidade acéfala.
Em Portugal, não penso que, a curto prazo, corramos o risco de uma cisão no PS . Por isso mesmo, é que é tempo de a prevenir para se ter a certeza que é evitada, reforçando as condições de convivialidade entre as diversas correntes de opinião interna, a todas tratando como recursos políticos valiosos e não como impecilhos a um qualquer oficialismo unanimista, a todas ouvindo, não como vozes perturbadoras, mas como estímulo ao refinamento das opções de cada um por força de um contraditório saudável. Repito, estamos a tempo. Não deixemos, por isso, que as inércias rotineiras façam correr esse risco, por deixarem que se acumulem factores de crispação que, para além de certos limites, podem tornar-se incontroláveis.
Os congressos federativos incorreram nessa inércia rotineira, quanto ao ponto em questão. Não é inevitável que aconteça o mesmo com o próximo Congresso Nacional.

Eis, finalmente, o texto acima referido:




Création du Parti de Gauche (PG)

Par Jean-Luc Mélenchon et Marc Dolez

Nous nous réjouissons du mouvement de soutien qui s’exprime déjà envers notre démarche, aussi bien depuis les rangs socialistes que l’ensemble de la gauche, en à peine 3 jours. Nous avons déjà enregistré plus de 3 500 soutiens sur le modeste site www.casuffitcommeca.fr que nous avions ouvert vendredi 7 novembre.Ces soutiens montrent l’immense énergie disponible dans notre pays pour changer la gauche, affronter la droite et ouvrir une alternative au capitalisme de notre époque. C’est pourquoi nous annonçons la fondation du « Parti de Gauche » avec tous ceux qui partagent ces orientations.D’ores et déjà Claude Debons, cheville ouvrière des collectifs contre la Constitution européenne participe à notre démarche. Eric Coquerel est également en train de la rejoindre avec ses amis du MARS - Gauche républicaine. Ce n’est qu’un début. D’autres noms seront annoncés dans les jours qui viennent.Nous voulons que le « Parti de Gauche » soit un parti unitaire à gauche. Nous voulons en faire un trait d’union au service de la constitution d’un front de forces de gauche pour les élections européennes, sur une ligne claire de refus du Traité de Lisbonne et de construction d’une autre Europe. Dans ce but nous avons d’ores demandé à rencontrer notamment le PCF et le NPA.Nous voulons aussi que le « Parti de Gauche » soit un parti gouvernemental capable, avec d’autres, d’entraîner la société au service d’un projet majoritaire pour changer la vie du plus grand nombre dans notre pays. Le PG sera enfin un parti résolument républicain, défendant sans concession la souveraineté du peuple, la laïcité des institutions et de la société et l’intérêt général contre le productivisme face à la crise écologique.Nous avons dit que nous mettions nos pas dans ceux d’Oskar Lafontaine. Ce dernier sera présent lors du lancement du « Parti de Gauche », samedi 29 novembre, dans un grand meeting en région parisienne.
Jean-Luc Mélenchon, sénateur de l’Essonne
Marc Dolez, député du Nord

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cityjacking


Obtive do João Silva autorização para transcrever este seu texto, hoje publicado no "Diário de Coimbra", neste meu blog. Eis o texto:


CITYJACKING


Titulava o Diário de Coimbra, na sua edição de 4 do corrente mês, que a tomada
de posse em Coimbra do presidente da Entidade Regional de Turismo Portugal”, que vai ficar sedeada em Aveiro, foi um “sinal". Devo confessar que para mim foi uma “bofetada”.
Depois de tudo o que se passou com este processo e do que se tem passado nos
últimos anos, com a retirada da cidade de serviços e instituições de âmbito regional, entendo que estamos perante um verdadeiro processo de cityjacking e que o que se passou faz parte desse processo.
Li bondosos argumentos para justificar a transferência e a localização noutras
cidades de serviços e direcções regionais que estavam em Coimbra, que vão desde a preparação da regionalização até à vontade de dar visibilidade a outras cidades. Mas a verdade é que não estamos perante etéreas questões bondosas mas confrontados com questões políticas, com consequências concretas e imediatas e com uma visão de ordenamento e desenvolvimento do território nacional e de organização global do Estado.
É verdadeiramente ridículo apontar o objectivo da regionalização como motivação para estas decisões quando o que se está a fazer é a retalhar cada vez mais a região, criando obstáculos futuros a uma verdadeira articulação urbana. O que se tem vindo a fazer é pura e simplesmente a criar “quintinhas”, por meras razões politicas circunstanciais e eleitorais, que só irão trazer dificuldades e problemas.
Apontar Coimbra como uma eventual capital regional e depois ir retirando-lhe
instrumentos de exercício dessa vocação não parece uma atitude séria nem inteligente. A boa política passaria, isso sim, por valorizar o território, os espaços e as cidades da Região Centro com investimento e valorização exógena e não à custa de rearranjos internos que apenas se traduzem na desvitalização de Coimbra.
Muitos desvalorizam e denigrem o papel de Coimbra no contexto do País e
fazem-lhe uma campanha infame, esquecendo a sua importância na criação e na
projecção duma intelligentsia nacional, bem como a competência com que tem
resolvido, de forma solidária, muitos dos problemas originados pelos egoísmo de Lisboa e Porto, para quem o centro do país é território de ninguém.
Aliás, a cidade não tem apenas benefícios dos seus equipamentos e dos serviços
que presta, por exemplo, na área do ensino e da saúde, também suporta elevados custos de qualidade de vida, de organização espacial, de mobilidade e circulação, e mesmo custos financeiros directos que não são compensados por ninguém.
Mas o que é mais doloroso é ter a convicção de que estas “bofetadas” e os “pontapés” que a cidade tem vindo a apanhar em muito se devem à incapacidade e incompetência interna, mormente daqueles que têm responsabilidades políticas e de governo da cidade, para além de muitas outras personalidades que se eximem, num comodismo fácil, a fazer ouvir a sua voz.
Há mesmo alguns que se portam hoje, para com Coimbra, como se portava no
século XVII, para com Portugal, aquele odiado secretário da Duquesa de Mântua, de nome Miguel de Vasconcelos.
Por mim dispenso que venham cá dar mais “sinais” com tomadas de posse para
depois irem “regionalizar” para outros Distritos. Chega de jogadas e de arranjos
partidários e sobretudo de ataques à inteligência dos cidadãos. É tempo de, para além garantir a segurança na cidade, realizar uma verdadeira operação contra o cityjacking a que Coimbra tem estado exposta.


João Silva


Comentário de RN :


Na verdade, só teria sentido promover a retirada de serviços de Coimbra, sob a alegação de um reequilíbrio no âmbito de uma hipotética futura região, se, em simultâneo, esse critério fosse estendido a todo o país; especialmente a Lisboa, mas também ao Porto. E assim, certamente, que a Coimbra haveriam de caber, nessa lógica, as sedes de duas ou três instituições de âmbito nacional, saídas de Lisboa, o que de algum modo compensaria aquilo que lhe tem sido retirado.

Doutro modo, alegar uma lógica de regionalização apenas parcelar que só funciona em prejuízo de Coimbra, mas nunca em seu benefício, é pura hipocrisia política.

Pura hipocrisia, que tenta justificar uma política penalizadora, não apenas de Coimbra, mas principalmente do país. De facto, conceber um país desenhado a partir de dois inchaços, embora um maior do que outro, não é uma concepção é uma perversão. Por isso, estamos, afinal, perante uma simples repartição da penúria, entre cidades médias e pequenas, para conforto das megalomanias de Lisboa e do Porto.

E, no entanto, parece claro que o país precisa de uma região central estruturada a partir de uma rede de cidades médias, complementares entre si, mas liderada por aquela que tiver maior visibilidade mundial. E aqui não há dúvida que Coimbra é a que tem essa virtualidade simbólica, pela sua Universidade, pela sua história, pela carga legendária de que dispõe.
Por isso, enfraquecê-la é contribuir para inviabilizar a reestruturação em rede do espaço central do país. Não é uma estratégia, é uma descuidada política paroquial, com tiques de pseudo-cosmopolitismo.
Querer ignorar isto, é apenas miopia política. Uma miopia confrangedora. E, embora saibamos que não há, como lembrava Tolstoi, pior provincianismo do que o das grandes cidades, não temos que nos submeter a ele, principalmente, quando significa prejuízo para o país e inútil e injusto apoucamento de Coimbra.

Portugal : energias renováveis



Qualquer português que se julgue bem pensante tem uma teoria sobre Portugal. E uma boa parte dessas respeitáveis cabeças, que nos concedem a graça de pensar em nós, olham para o país como se fosse uma caverna escura e sem saída. Uns outros, talvez mais toscos, olham para o mundo como se fosse um campeonato de futebol e torcem por Portugal. Seria talvez criativo metê-los todos num mesmo saco, deixando-os resolver o problema entre si, ferozmente.


É um pouco para ajudar a sair desse saco doentio que vos dou a conhecer um texto, publicado ontem pelo diário espanhol "El País"da autoria do jornalista espanhol Francesc Rellea. O texto fala da política energética seguida por Portugal. Vale a pena lê-lo.



Portugal hace de la necesidad virtud

El Gobierno quiere situar al país a la vanguardia mundial en las energías renovables

FRANCESC RELEA
09/11/2008

Portugal apuesta por las energías renovables para reducir la dependencia del petróleo y lograr un desarrollo sustentable. El país tiene recursos naturales inmejorables para la producción de energía eléctrica, térmica y biocombustibles. Sol, viento, mar en abundancia. Y pocos habitantes. En tiempos de crisis, el mensaje oficial recomienda más ahorro y menos contaminación, y las autoridades predican con el ejemplo. En los tejados del palacio de Belem (Lisboa), que alberga la presidencia de la República, 126 paneles solares miran al cielo para aprovechar los rayos del astro rey. En los jardines del palacio de São Bento, sede del primer ministro, las aspas de una microturbina eólica giran al ritmo del viento.
Sin petróleo, carbón, ni gas, y sin tecnología nuclear, Portugal asume el reto de liderar la revolución en Europa por una energía más limpia. La mayor central solar del mundo está en una gran planicie de Alentejo, en el sur; entre las montañas del norte, junto a la frontera con Galicia, se levantan los aerogeneradores del primer parque eólico de Europa; Portugal es desde septiembre pionero en la producción de electricidad a partir de la energía de las olas; y la compañía eléctrica estatal EDP Renovables ha inaugurado su decimocuarto parque eólico en Estados Unidos.
La Unión Europea estableció a través de la directiva comunitaria 2001/77 la meta de lograr en el año 2010 una cuota de consumo de energía de fuentes renovables del 22%. Portugal ya cumple con creces este objetivo, pues el año pasado estaba en torno al 42,1%, que le sitúa en el tercer lugar de la UE, detrás de Austria y Suecia. España ocupa la quinta posición, con el 29,4%.
La energía eólica es la punta de lanza y la más promisoria de las energías alternativas en el país vecino. En los últimos ocho años el crecimiento anual de los parques eólicos representó el 59,5% de la potencia total instalada de renovables, según un informe publicado hace unas semanas por el servicio de investigación del Banco Espirito Santo. En 2007, este banco fue líder en Portugal y tercero en el mundo en financiación de proyectos eólicos.
Entre los objetivos para 2010, el Gobierno del socialista José Sócrates pretende pasar de 2.526 megavatios instalados en junio de 2008 a 5.700 megavatios de energía eólica, con una inversión de 3.333 millones de euros, de un total de 5.500 millones de euros en renovables.
Una carretera empinada y sin asfaltar desde la localidad de Valença hacia la sierra de Anta conduce al parque eólico Alto Miño 1, en el extremo norte de Portugal, junto a la frontera con España. Diseminados a lo largo de 27 kilómetros de valles y montes de pino, eucalipto y carvalho (árbol autóctono de la zona), 120 aerogeneradores producirán 240 megavatios a final de año, cuando estén todos a pleno rendimiento. Se trata del campo eólico de mayor potencia de cuantos hay instalados en Europa, según datos de José Miguel Oliveira, director de Empreendimentos Eólicos do Vale do Minho (EEVM), la empresa que desarrolló Alto Miño 1, con participación de Endesa (32%).
En lo alto del monte y entre las nubes bajas asoma una pala de un molino de viento gigantesco que gira lentamente. Es un aerogenerador o turbina eólica, de 78 metros de altura. Más allá hay otro, y otro, y otro... Hasta 120 artefactos de los cinco subparques de Alto Miño 1, unidos en uno que enlaza con la red. El río discurre en paralelo a seis kilómetros, a lo largo de la frontera. "Antes de construir un parque eólico hay que estudiar a fondo el viento, las temperaturas de la zona, la lluvia. Durante cuatro años medimos el viento, que dividimos en tres categorías: débil, medio y muy fuerte. Aquí tenemos de las dos últimas", explica Oliveira.
Abajo se ve Anhoes, un pueblecito de 200 habitantes. Los pobladores de estos valles están felices con los enormes artefactos. Es cierto que afean el paisaje, piensan, pero al mismo tiempo han comprobado que el parque eólico ha traído dinero fresco. La empresa paga una buena suma a cada una de las 16 freguesías (consejos), que son los propietarios de las tierras: 840.000 euros al año. Además, los cuatro ayuntamientos recibieron una participación del 15%, que posteriormente vendieron por 20 millones de euros.
El parque eólico evita las emisiones de CO2, unas 370.000 toneladas al año, lo que constituye su mayor virtud desde el punto de vista ambiental. Pero no hay que engañarse. Este tipo de instalaciones, sin duda más ecológicas que una central térmica por ejemplo, tiene también un impacto en el medio ambiente, según admite José Miguel Oliveira. Durante la fase de construcción hubo tala de árboles y algunos animales autóctonos desaparecieron del medio. Ya en funcionamiento, algunas aves y, sobre todo, murciélagos son diezmados por las aspas, que alcanzan los 40 metros de altura.
En el otro extremo del país, en la región con más horas de sol de Europa (3.000 al año), un mar de espejos gigantes ocupa 320 hectáreas, entre campos de olivos y encinas. La central solar de Amaraleja está en el sur de Portugal y es la más grande del planeta. Tiene nada menos que 262.080 paneles que, perfectamente alineados, se mueven durante todo el día en un sistema de seguimiento del sol que optimiza la producción eléctrica. "Ésta es la mejor zona de Portugal, tiene más horas de sol que el norte de África", dice el ingeniero Francisco Aleixo, director de esta central, que pertenece al grupo Amper Central Solar (propiedad de Acciona Energía).
Los paneles de silicio policristalino captan la luz solar, que es transformada en electricidad, de corriente continua a corriente alterna, en colectores desperdigados en toda la central. La planta tendrá una potencia máxima de 46 megavatios, que garantiza el suministro de 30.000 viviendas. La inversión total fue de 260 millones de euros, lo que indica que la energía solar sigue siendo la más costosa de las renovables. "Cuanto más se invierta, más bajará el precio", esgrime el ingeniero Aleixo.
En estos campos estaba el aeródromo abandonado Cifka Duarte (aviador portugués de los años treinta), que durante la Guerra Civil española fue utilizado por grupos de apoyo a Franco y más tarde por la aviación alemana durante la Segunda Guerra Mundial.
"Portugal ha sabido aprovechar la fragilidad energética en Europa. El Gobierno y los agentes económicos convirtieron fragilidad en oportunidad", dice Aníbal Fernandes, consejero delegado de Eólicas de Portugal, empresa con participación de Endesa. "En términos relativos, Portugal está entre los cinco primeros países del mundo en cuanto a energías renovables". Fernandes está convencido de que el mundo camina hacia un nuevo concepto energético. "Antes había grandes centros de producción lejos de los centros de consumo. Actualmente, hay varios centros medios (parques eólicos) con redes de interconexión, mientras la microgeneración abastece a pequeñas familias".
Portugal es desde el 23 de septiembre el primer país del mundo que produce seriamente electricidad a partir de las olas. El parque de olas de Aguçadoura, en Póvoa de Varzim, al norte de Oporto, fue inaugurado después de varios meses de retraso. La inversión ronda los 10 millones de euros. Antonio Sarmento, director del Centro de Energía de las Olas, una asociación privada fundada en 2003 que estudia y promueve esta forma de producir electricidad, asegura que es un proyecto claramente pionero. De momento, no está garantizada la viabilidad económica del invento.
Según este centro, hay 62 tecnologías posibles para el aprovechamiento energético de las olas. Algunas ya se han probado, como la columna de agua oscilante de Ilha de Pico (Azores) o el sistema Arquímedes. La costa portuguesa tiene un potencial para instalar unos 5.000 megavatios de potencia en energías de las olas. El costo de producción se antoja muy elevado, sólo comparable con la energía fotovoltaica. Es tres veces más caro que la energía eólica y dos veces más que la biomasa. La tarifa por el sobreprecio de la producción de energía del mar es de 245 euros por megavatio/hora, que significa el 250% más que la energía eólica y el 60% del coste de la energía fotovoltaica.
Portugal será también pionero en la comercialización de vehículos eléctricos. El Gobierno ha firmado un acuerdo con la alianza entre Renault y Nissan, que se ha comprometido a entregar 4.000 vehículos eléctricos en el año 2011. Una cantidad simbólica en un país con 5,6 millones de automóviles.
El economista Jeffrey Sachs, hoy director del Earth Institute de la Universidad de Columbia, escribía recientemente: "El mundo rico debe empeñarse en financiar un vasto programa de desarrollo tecnológico -energías renovables, automóviles de bajo consumo, edificios verdes- y un programa de transferencia de tecnología para los países en vías de desarrollo". Portugal ha asumido el desafío.

domingo, 9 de novembro de 2008

Na FEUC: economia global, mercadorização e interesses colectivos


Recebi do Júlio Mota mais uma nota informativa sobre uma sessão do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios, que tem vindo a decorrer na FEUC. Esta sessão vai decorrer, na próxima segunda-feira,dia 10 de Novembro, sendo a terceira do ciclo temático Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais. Eis a nota informativa que referi:

"O grupo de docentes da FEUC dinamizador e organizador (em colaboração com os estudantes do Núcleo de Estudantes de Economia da FEUC e com o apoio da Coordenação do Núcleo de Economia) do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC vem com a presente informar que irá decorrer, a 10 de Novembro, a terceira sessão do ciclo temático Economia Global, Mercadorização e Interesses Colectivos: Pessoas, Mercadorias, Ambiente e Paraísos Fiscais, na Sala Keynes da Faculdade de Economia e no Teatro Académico Gil Vicente.
A terceira sessão deste Ciclo enquadra-se na problemática Economia global e mercadorização versus interesses Colectivos e tem como tema central Economia Global, Agricultura e Meio Ambiente. Com efeito, satisfeitas as duas condições, economia global e os seres vivos a serem exclusivamente vistos e transformados em mercadorias, então esta realidade necessariamente leva a questionar se este processo nos afasta ou nos aproxima da melhoria dos interesses colectivos.
Nesta sessão, falar-se-á assim da Economia Global a partir de dois ângulos de análise: por um lado, falar-se-á das finanças internacionais e da instabilidade na União Europeia, assim como dos mecanismos de transmissão da instabilidade dos mercados financeiros integrados. Falar-se-á, de igual modo, dos eventuais impactos da crise financeira americana e internacional sobre a economia real da União Europeia, tendo em conta o quadro de referência da maioria dos seus políticos, o neoliberalismo. Para estes e para este corpo teórico, as crises são reduzidas a desajustamentos nos mercados ou a incorrectos equilíbrios nos mercados financeiros, não enraizadas, portanto, na economia real. Daí que procurar a solução para as crises, tomadas apenas como crises financeiras, sem procurar também na economia real as causas daquela, tendem a acelerar os problemas já graves das economias reais. Portanto, no quadro de referência em que se movimentam os nossos decisores da política económica, não se pode vislumbrar uma saída para a crise económica, para a recessão económica numa Europa que já conta, na economia real, com milhões de desempregados. Uma visão diferente então da que partilham a maioria dos políticos da Eurolândia, do Banco Central Europeu e do Banco Internacional de Pagamentos, é a que Jan Toporowski, especialista em Finanças Internacionais, nos vem agora dar à Faculdade de Economia. É uma visão que curiosamente se assemelha à que os ventos nos trazem agora da América, não da América de Paulson, esta é, geralmente, a visão dos políticos da Eurolândia, mas sim da América de Obama, claramente afirmada agora na conferencia de 7 de Novembro quando afirma que não há solução para a crise que não seja centrada na economias real. De um outro ângulo, nesta sessão falar-se-á também das transformações agrícolas no quadro europeu e da agricultura no mundo, da industrialização da agricultura, da importância que as novas tecnologias assumem hoje face aos grandes desafios que enfrenta a Humanidade, entre as quais as questões do meio ambiente, do esgotamento do modelo assente nos processos químicos e das manipulações genéticas, da necessidade de um modelo assente no desenvolvimento da biologia e, sobretudo, a necessidade de resolver e de eliminar o pesadelo da fome, pois vivemos num mundo onde 850 milhões de pessoas passam fome. Esta intervenção está a cargo do engenheiro Fernando Oliveira Baptista, ex-ministro da Agricultura e notoriamente um dos maiores peritos portuguesas nestas matérias.

A sessão começa às 15 horas com as conferências de Jan Toporowski e de Fernando Oliveira Baptista na Faculdade de Economia, na sala Keynes, sendo comentadores José Reis (FEUC)e António Gama (FLUC). À noite, no Teatro Académico de Gil Vicente, será projectado o filme Nosso Pão Quotidiano de Nikolaus Geyrhalter, Áustria.

Programa detalhado




Hora: 15:00
Local: Sala Keynes da Faculdade de Economia

Conferências:
Jan Toporowski
(SOAS, Londres)
Fernando Oliveira Baptista (ISAUT, Lisboa)

Comentários:
José Reis
(FEUC)
António Gama (FLUC)

Hora: 21:15
Local: Teatro Académico de Gil Vicente

Filme/Documentário:
Nosso Pão Quotidiano
Nikolaus Geyrhalter, 2005

Comentários de
Jan Toporowski
Fernando Oliveira Baptista
José Reis
António Gama


Comentador especial para o filme/documentário:
Nascimento Costa (FMUC)

Debate

O filme Nosso Pão Quotidiano , de Nikolaus Geyrhalter, já foi premiado em diversos festivais , salientando-se que foi nomeado para o prémio de melhor documentário europeu de 2005.
No Teatro Académico Gil Vicente, serão distribuídas gratuitamente duas brochuras: uma com os textos base das conferências e uma segunda brochura com textos sobre o filme e sobre os grandes desafios que se colocam à agricultura de hoje, em que, no dizer do Director Geral da FAO, se assiste à concretização de um pacto neocolonial entre os países ricos e os países em desenvolvimento.
Dada a temática central do filme, a industrialização da agricultura, para o debate sobre este filme conta-se com a presença de Nascimento Costa da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.



Sinopse do filme

O filme Nosso pão quotidiano (Our Daily Bread) mostra os locais em que os alimentos são produzidos: paisagens surrealistas plastificadas e optimizadas para os tractores e restantes máquinas agrícolas, salas limpas localizadas em instalações frigoríficas industriais, concebidas para assegurar a eficácia logística, e máquinas que exigem materiais uniformes para um processamento sem quebras. O que poderia pensar-se fazer parte do domínio da ficção científica é agora a própria realidade. A nossa alimentação é produzida em espaços espectaculares que raramente são vistos.
Aqui há muito pouco espaço para os humanos, que parecem alheios a tudo isto: pequenos e vulneráveis, apesar de se adaptarem o melhor que podem, com roupas especiais, protectores de ouvidos e capacetes. Estão em determinados locais da cadeia de produção, a realizar trabalhos para os quais ainda não se conseguiram inventar máquinas. O homem interfere o menos possível no processo de fabrico.
Quando um trabalhador faz uma pausa para se alimentar, essa acção parece dar azo a um contraste absurdo, mas isso é simultaneamente uma referência à principal finalidade destas fábricas aparentemente utópicas.
O filme é um convite dirigido ao nosso sentido de curiosidade, ao nosso desejo de saber o fundo das coisas, de olhar, escutar e ficar estupefacto, de associar e de pensar como é a civilização actual. Somente depois de a vermos através dos nossos olhos é que podemos acreditar como ela é. O filme é um quadro em grande formato de uma estética nem sempre fácil de digerir, mas que retrata algo em que todos participamos. Uma experiência pura, meticulosa, do melhor que já foi feito e que permite a cada um dos nós formar ideias e retirar conclusões.

O Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC tem merecido desde o seu início o apoio da nossa comunidade universitária e também da nossa imprensa, sobretudo local. Neste caso, continuamos a contar com o vosso apoio para esta terceira sessão e estamos certos, e agradecemo-la antecipadamente, que no limite do possível podemos contar com a vossa presença em mais um dia de reflexão sobre a crise na economia global.
Informamos que a estrutura de todo o ciclo até agora estabelecido para este novo ano lectivo assim como os textos que neste âmbito irão sendo produzidos estão disponíveis no site http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/index.htm.
Sem outro assunto meus caros colegas e amigos, esperamos pela vossa participação na FEUC e no Gil Vicente.

Pela Comissão Organizadora

Júlio Marques Mota