sábado, 15 de agosto de 2009

A coligação das "Parcas"

As quatro “parcas” tristes da oposição declamaram, com a habitual pose dramática de um pessimismo triste, as suas deixas sombrias, a propósito do desemprego. Serviram-se, uma vez mais, dos desempregados como simples pedradas conjunturais atiradas raivosamente ao Governo do PS.

Todos esqueceram que, no plano mundial, estamos a atravessar a maior crise dos últimos oitenta anos. Todos esqueceram que os receios eram, há uns meses atrás, de um verdadeiro desmoronamento económico mundial que arrastaria o nosso país para dificuldades que apenas podemos imaginar. Contra esse risco, o Governo bateu-se. Pode evidentemente questionar-se o acerto de todas as medidas, mas é mistificatório ignorar o arreganho do Governo no combate à crise e não condiz com a realidade dizer que, nesse aspecto, a sua política foi um desastre. Mas pretender , simplesmente, comparar os números actuais com os do ano passado, ou com os dos últimos anos, desconsiderando por completo a existência de uma crise mundial do capitalismo, com especiais reflexos nos USA e na Europa, para tentar imputar ao governo português o exclusivo da responsabilidade pela crise em estamos mergulhados, é uma manifestação de cegueira política e de um sectarismo primário.

Anteontem, as lideranças do partido do Governo, mostraram natural satisfação pelo facto de os dados europeus terem indicado que o último trimestre foi melhor do que aquilo que era esperado pelos especialistas, tendo até, no caso de Portugal, da Alemanha, da França, da Grécia e da Eslováquia, havido uma ligeira subida do PIB por comparação com o trimestre anterior. Ou seja, entre os vinte e sete da União Europeia, Portugal era um dos cinco países que recebeu essas boas notícias. Sócrates e Teixeira dos Santos, sem deixarem de se congratular com as notícias, sublinharam que não se devia considerar a crise como terminada, dizendo o primeiro que, quando muito (quando muito - eu ouvi bem!) se podia considerar que isto era o princípio do fim da crise. Tanto bastou para que todas as “Parcas” da oposição se tivessem assanhado, dizendo que o Primeiro-ministro era um optimista irresponsável.

Aliás, quem tiver estado atento terá verificado que os representantes dos Partidos da oposição corrigiram, de um modo mais ou menos marcado, nas declarações posteriores, as primeiras declarações que, na verdade, foram uma grosseira mistura de má fé política e indigência intelectual.

Vários analistas e pelo menos o Ministro do Trabalho disseram anteontem que era natural que o desemprego continuasse a subir, mesmo depois da inflexão de tendência da economia em geral que se havia verificado. O Ministro do Trabalho sublinhou mesmo a constância dessa tendência geral de desfasamento entre as duas dinâmicas. Pois, apesar disso, logo que se soube que, como o próprio Governo admitira anteontem como provável, o desemprego subira, embora a um nível inferior ao esperado, as “Parcas” apressaram-se a proclamar que isto mostrava que o que o Governo afirmara na véspera estava assim a ser desmentido.

Aliás, é curioso verificar que perante uma notícia favorável e uma outra desfavorável quanto à evolução socioeconómica as “Parcas” reagiram da mesma maneira:
“Chove? O governo é o culpado!”
“ Faz algum sol? O Governo é culpado por não haver mais sol ! Aliás, haver sol nem sequer é importante”.


Está pois tudo a voltar ao normal, a voltar inesperadamente ao normal, a voltar ao antes das eleições europeias, à “coligação canguru”, à coligação negativa contra o PS que parece ter recuperado convergência e afinação. Mas enquanto o PSD e o PP têm uma estratégia precisa (colocar no Governo a direita sob a liderança da Dama de Cinza) o BE e o PCP, não assumem a via que objectivamente estão a seguir: ao atacarem ferozmente o PS e o actual governo estão objectivamente a favorecer a eclosão de um governo de direita liderado pelo PSD. Na verdade, mesmo que possam não o querer, o resultado mais provável do modo como têm feito o combate político ao PS é o de contribuírem decisivamente para que isso aconteça. E, para que não haja dúvidas, têm vindo a sublinhar que cooperação política com o PS, nem pensar!

A subalternidade estratégica da oposição de esquerda, em face da oposição de direita, está aliás bem patente na verdadeira fusão política que ambas puseram em prática, ao atribuírem à política do governo do PS a principal responsabilidade pelo eclodir da actual crise. Na verdade, o que seria de esperar de uma oposição de esquerda, que realmente o fosse, na actual conjuntura, era a valorização da decadência global do capitalismo como factor central da crise e nunca a de quaisquer factores conjunturais, como é o caso das políticas sociais ou da política económica de um qualquer governo.

Tudo isto implica que, independentemente das intenções subjectivas e dos sentimentos das pessoas que integram as direcções políticas do BE e do PCP, estes partidos fizeram um tipo de oposição e têm feito uma campanha nas últimas semanas, cuja lógica é a de contribuírem para uma solução governativa que unifique todas as actuais oposições ao PS e ao governo actual. Naturalmente, que uma solução dessas será naturalmente liderada pela dirigente máxima do PSD.

Assim, a mensagem subliminar de todas as campanhas das oposições ao actual governo é simples: Votem contra o PS, de modo a fazer com que não seja do PS o próximo Governo!

Ora, como não se vê que, não sendo do PS o próximo governo, possa ser outro do que um governo liderado pela Dra. Manuela Ferreira Leite, as oposições de esquerda estão objectivamente a fazer campanha pela leader do PSD.

Portanto, os eleitores têm pela frente uma escolha simples: votam no PS ou votam na coligação das “Parcas”.
E quando digo que a escolha é simples não estou a dizer que o actual governo é perfeito, que não precisa de corrigir algumas das suas políticas ou sequer que a linha de orientação dominante actualmente no PS merece a minha concordância completa. Por exemplo, também o PS devia ser mais consequente com a sua demarcação em face do neoliberalismo, colocando expressamente no horizonte a superação do capitalismo como a condição essencial para uma efectiva saída da crise, sem riscos de rápido retorno.
Mas sei que, para quem for de esquerda, levar as discordâncias com o PS até ao ponto de contribuir para reinstalar a direita no poder, além de ser um erro estratégico, é verdadeiramente uma auto-flagelação.

22 comentários:

João Pedro Freire disse...

Aqui está uma posição algo na linha do "ou nós ou o caos"! Já hoje quando li a entrevista de Ferro Rodrigues no Expresso, fiquei com a sensação de estar perante uma posição do género: "é preciso tentar tudo, para que o PS não fique na oposição". A posição de Ferro Rodrigues e a de Rui Namorado não são iguais, mas desaguam no mesmo: manter o PS no Governo, custe o que custar!
E o mais sintomático (tem a ver com a aridez de políticas socialistas ao longo dos últimos 4 anos de socratismo) é que ambas as posições esquecem de abordar a questão das políticas que um governo PS deveria desenvolver, numa perspectiva de esquerda e socialista.
Ferro Rodrigues e Rui Namorado, representam, cada qual, uma certa esquerda do PS e, estas posições, a entrevista e a posta, são preocupantes. Preocupantes porque parece que até a esquerda do PS está embalada/adormecida com as "justificações" dadas por Sócrates ao longo dos últimos 4 anos para as políticas que desenvolveram.
E se essas políticas não são a causa da crise que se vive, em nada contribuiram para que essa crise pudesse ser atacada e barrada com políticas onde as prioridades sociais e o esforço de voltar a dar protagonismo político aos trabalhadores fossem uma evidencia. Ao longo de quatro anos, a direcção sócratica repetiu políticas que a direita não teria coragem de aplicar se fosse governo ... o exemplo do Código de Trabalho é disso uma evidência. ´
Esta coisa de que, quando há crise económica, as soluções para a combater serem como que abstractas e "comuns" à direita e à esquerda, é algo que tem atrasado a definição de uma alternativa de poder de esquerda e acentuado a predominância da chamada "economia de mercado", como se não houvesse outro tipo de economia!
Pessoalmente considero que a solução "PS com maioria absoluta" não resolve nem contribui para a resolução dos problemas existentes, numa perspectiva de esquerda. Porquê? Porque parece que a(s) própria(s) esquerda(s) do PS ficam embaladas pelo discurso da sua direcção partidária ... por isso, defendo que seria importante que o PS fosse "obrigado" a dialogar À ESQUERDA para a definição de uma alternativa plural e maioritária COM políticas de esquerda, democráticas e socialistas! Isto seria uma forma de recolocar TODO o PS à esquerda e sensivel para políticas onde os trabalhadores voltem a ter protagonismo político e social!

João Pedro Freire
TRIBUNA SOCIALISTA

Anónimo disse...

Caro João Freire,
Não estou a ver outro partido melhor do que o PS, para governar. O BE?

RN disse...

Eu não me revejo na posição de "ou nós ou o caos", nem ignoro as limitações da política deste governo. Mas é uma realidade independente da minha vontade o facto de nas próximas eleições estarem em confronto, apenas duas hipóteses, um Governo do PS ou um Governo da direita. E quem tem assumido uma atitude de recusa de qualquer coligação ou acordo com o PS têm sido as direcções do BE e do PCP. E quem tem feiro coro com o PSD e o PP têm sido o BE e o PCP, e podiam não o ter feito sem com isso deixarem de ser oposição ao actual governo.
E há ainda duas observações que quero fazer. Em primeiro lugar, a posição de João Pedro Freire não é a mesma do que as direcções dos partidos de esquerda atrás referidos, no que respeita ao diálogo com o PS. Em segundo lugar, não tendo ainda lido a entrevista do Ferro Roderigues, sei que há pelo menos um aspecto decisivo em que me distingo dele irremediavelmente: para mim a rejeição absoluta de qualquer coligação com a direita, seja o PSD seja o PP é um dado irremovível E nessa medida também acho que o PS devia dizer já que se oporá frontalmente com os sesu votos na AR a qualquer governo de direita.

João Pedro Freire disse...

Caro Rui Namorado,

Já é um bom ponto de partida a rejeição de qualquer aliança com a direita.
Mas a questão fundamental que continuo a não ver discutida é a questão das políticas governamentais ... não chega um "governo do PS" para haver diferenciação relativamente a um governo da direita (qualquer que ela seja!). Quatro anos de governo Sócrates mostraram isso mesmo!
Quando se rejeitam as políticas que foram aplicadas pelo governo Sócrates não se está a abrir as portas ou a apelar a um governo de direita. O que se rejeita são políticas de direita sejam elas da autoria de um governo de direita ou, o que é pior, da autoria de um governo de um partido que se intitula de esquerda e socialista (mesmo com os inumeros adjectivos de "moderno", "moderado", etc,etc).
É claro que qualquer governo de esquerda não pode excluir o PS. Mas qualquer governo de esquerda tem de começar por ser muito claro e objectivo relativamente às políticas que pretende desenvolver e quanto ao sujeito político que deve reaver protagonismo . E nesta matéria a direcção do PS e o seu governo, falhou/falharam e o que fizeram deve ser muito justamente rejeitado! Essa rejeição deveria ser também uma posição clara das esquerdas do PS que não podem ficar por uma posição de apelo clubista sem nunca falarem na natureza das políticas e dos programas ...
Melhor governo que um governo "só" PS, seria um governo das esquerdas com programa e políticas democráticas, socialistas e que interrupessem a onda de políticas neo-liberais e pró-economia de mercado!

João Pedro Freire

ahp disse...

Concordo no essencial com a posição do RN, inclusivamente no ponto em que diz que a política do Governo PS deveria ser mais à esquerda.
Mas vejo como hipótese muito improvável um Governo de coligação do PS com o PC e/ou o BE. Em 1º lugar porque estes partidos vivem à custa de um certo "quanto pior melhor", que deixariam de poder seguir se estivessem no Governo.
Em 2º lugar por razões de política internacional. Portugal é membro da União Europeia e da OTAN, empenhado no reforço da UE e no combate contra o terrorismo. Os outros dois partidos ditos de Esquerda são manifestamente contra a pertença de Portugal a essas duas instituições. São contra a UE porque nela vêem a essência do capitalismo e do neo-liberalismo, como se a política da UE não resultasse da dos países democráticos que dela fazem parte.
São contra a OTAN porque, tendo como matriz ideológica o velho marxismo-leninismo, e tendo saudades do há muito demolido Muro de Berlim, continuam não só a ser anti-americanos como a propender a aliar-se a tudo o que for anti-americano, designadamente ao regime teocrático-medieval do Islão, aos medievalistas talibãs e às relíquias ditatoriais e miserabilistas de Cuba e da Coreia do Norte.
Ora, dificilmente se consegue conceber um Governo democrático estes parceiros.

aminhapele disse...

Não sou do PS e,na generalidade,não gosto do governo Sócrates.
Acho que é uma grande hipocrisia afirmar que se é contra a maioria absoluta do PS e apelar ao diálogo com os outros partidos de esquerda.
Estes,ao que tem sido escrito,recusam qualquer apoio...
O PS,para governar(por hipótese académica) à esquerda,ia dialogar com quem??!!
Há que assumir:ou o PS tem maioria absoluta,ou será a Dra.Manuela a governar.
Sem "objectivamente",nem "subjectivamente".

João Pedro Freire disse...

As "razões" de "ahp" são as desculpas usuais usadas por aqueles que fazem da política um jogo, no qual os partidos são uma espécie de "clube de futebol". Ou seja, nunca se viu nem falou uma coligação entre "clubes de futebol" ... Por outro lado, acusa-se os outros partidos de esquerda, para além do PS, de um conjunto de questões que já não são aplicáveis aos partidos acusados. Por exemplo, dizer que o Bloco de Esquerda é um partido de "matriz marxista-leninista" só revela desconhecimento absoluto relativamente à constituição do BE e à evolução da sua organização. O Bloco pode ter todos os defeitos do mundo, mas em matéria de organização democrática interna, não recebe lições do PS. Falo com conhecimento e experiência no PS e no Bloco!
À esquerda, nada deveria ser tabu. Tudo deve ser discutido. Ou melhor, deveria ser discutido! Porque infelizmente o tipo de discurso e pensamento expresso por "ahp" é um pouco o espelho do discurso e do pensamento da direcção sócratica do PS. Imaginam-se o centro do mundo, à volta do qual "ou nós ou o caos" !
A esquerda não deveria ter medo de discutir abertamente o modelo europeu existente, assim como os blocos politico-militares. O actual modelo europeu e a NATO são realidades que têm muito pouco a ver com qualquer perspectiva ou programa socialista. Tal como o tal "muro de Berlim" num guardou nenhum socialismo nem nenhum "homem novo". Esta minha critica não invalida que me considere um europeísta federalista e socialista!
Mas o que deveriamos estar a discutir é a solução para uma situação de nenhum partido ter maioria absoluta. E aqui, que solução procurar à esquerda. Não só discutir o mero somatório de deputados que dêem uma maioria, mas, sobretudo e principalmente, as políticas que essa alternativa de esquerda implementaria se fosse governo.
E isto, parece que ninguém quer discutir, abordar ou analisar.
Seria também mais transparente que estas discussões se estabelecessem entre intervenientes identificados e não escondidos atrás de anonimatos ou siglas.
O espaço que edito, TRIBUNA SOCIALISTA, está também aberto a quem queira participar.
João Pedro Freire

ahp disse...

Em primeiro lugar começo por esclarecer que nunca me "escondi" atrás de anonimatos ou siglas. A maior parte das pessoas que participam neste blog, a começar pelo meu amigo Rui Namorado, sabem que “ahp” é simplesmente a abreviatura do meu nome – António Horta Pinto -, que certamente não dirá nada à Tribuna Socialista nem ao seu comentador. Uso essa abreviatura para simplificar e porque sou um cidadão anónimo que intervém na política apenas por espírito cívico e não para promoção pessoal.

Esclareço também que não preciso de “desculpas” para dizer o que penso e não faço da política um “jogo”, até porque não estou inscrito em nenhum partido (pertenci, antes do 25 de Abril, a um clandestino, mas isso eram “jogos perigosos” que nada tinham a ver com os “jogos florais” em que agora alguns políticos se entretêm, muitos deles usando “desculpas” para esconder as suas ambições pessoais).

O meu discurso e pensamento não são “espelho” de ninguém. Digo apenas o que penso, como homem livre que sou.

Mantenho o que disse, não vou aqui repetir. Em resumo, entendo que para se poder discutir alguma coisa, e muito mais para se colaborar em qualquer coisa, é preciso que entre os intervenientes haja um mínimo denominador comum. E dificilmente vislumbro um denominador comum entre o PS e o monolitismo (ou, talvez melhor, megalitismo) do PC ou a volatilidade do BE, que é um partido de protesto e duvido que saiba fazer alguma coisa mais do que protestar.

ahp disse...

P.S.:mas se for necessário e possível um Governo - republicano, democrático, socialista, europeísta e laico - com a colaboração desses partidos, não serei eu que me oporei.

João Pedro Freire disse...

António Horta Pinto, i.e. ahp,

Assim gosto mais ... mas não era dirigido a si que me referia!

Também não vou repetir o que já escrevi. Realço sómente e infelizmente, o tom algo crispado em que estas conversas escritas acabam por cair, sempre que os participantes descobrem que estão em posicionamentos diferentes.

Não tenho a pretensão de não ter dúvidas ou de só ter certezas. E é desse patamar que procuro partir para qualquer discussão na pluralidade das esquerdas.

Considero-me militante do espaço imenso da esquerda socialista e é nesse espaço que julgo estarem todas as potencialidades sociais e políticas para a definição de uma alternativa de poder democrática e socialista.

No espaço da esquerda socialista cabem vontades provenientes das esquerdas do PS, do Bloco de Esquerda e de uma imensidão dos chamados independentes de esquerda.Sou de opinião que não cabe, neste espaço, a actual direcção sócratica do PS!

A discussão política à esquerda, hoje em dia, deve-se fazer, e até se vai fazendo aqui e acolá, às claras, com frontalidade e sem as restrições que outros tempos ditavam. Apesar de tudo, as esquerdas até se transformaram e a queda do muro de Berlim acabou por ser positiva. Da mesma forma que é muito positivo que exista uma critica europeista de esquerda ao europeismo neo-liberal e tipo pensamento único, no qual se dissolveram, infelizmente, muitos partidos socialistas europeus.

Por último, considero ser injusto não reconhecer o passo importantisimo que o BE deu com a recente publicação da sua proposta de programa de governo. O BE deixou de ser só um partido de protesto, para se afirmar também como um partido de proposta e de programa. Este é também um passo positivo para se alargar a discussão concreta das propostas à esquerda e a todas as esquerdas.

João Pedro Freire

João Pedro Freire disse...

Muito bem, quanto ao sdeu comentário em P.S..

João Pedro Freire

gui castro felga disse...

bom, se isto não for um clube 'menina não entra', gostei da discussão. andamos sempre nestas, não concordo com o rui ele sabe em quê, concordo com o freire (pois claro, esquerda nova, olé), percebo as questões da necessidade das pontes e entendimentos à esquerda, pois claro, e damas de cinza não obrigado (nem engenheiros incompetentes e pouco imaginativos, obrigadinha).

eh pa, mas oh sr ahp: defender a NATO, ou OTAN ou whatever, hoje em dia... uff... será dificil termos base sobre a qual nos entendermos se uma das partes defender esssa organição... o ahp considera sinceramente que é possivel o socialismo com clubes de 'homens bons' que decidem as guerras do mundo? pá, eu cá sou pacifista, pela desmilitarização mundial já, já, já... se vamos continuar com guerras frias ou tépidas e referências a blocos de leste e planos marshall e tala... não vai dar mesmo. portanto sim, em 2009, portugal (e UE) fora da NATO, s'il vous plaît. ocupemo-nos a dar pão, educação, saude e cultura a toda a gente e não gastemos recursos aos tirinhos, sim?

beijo
gui

p.s. oh rui, então e respostinha à minha carta aberta?

ahp disse...

Cara miss red

Pois é, cara miss red,isso é tudo muito bonito, eu também "sou pacifista, pela desmilitarização já,já,já" - tanto que nunca peguei numa arma, nem mesmo quando ma quiseram meter na mão, o que me valeu uns anos de exílio - mas era preciso que TODOS desarmassem: a OTAN mas também a China, a Rússia, a Coreia do Norte, Israel,o Irão e a Al Quaeda, sobretudo estes dois últimos, que são os que mais ameaçam.
Portanto, não defendo a OTAN, pela qual nunca nutri qualquer simpatia, mas infelizmente ...preciso da OTAN para me defender a mim!
É que quero continuar a poder dizer o que me apetece, não quero que as minhas compatriotas - a começar pela miss red - sejam obrigadas a andar de "burka" nem proibidas de conduzir automóveis, não quero que os maridos tenham o direito de bater nas mulheres, não quero excisões genitais, não quero "clubes menina não entra" e mais prosaicamente quero continuar a comer chouriço e a beber um tinto.
Portanto, enquanto as coisas forem como estão, tenho de me resignar a, entre uns e outros, preferir a OTAN, como mal menor...

gui castro felga disse...

bom, então só poderei dizer que foi 'no grande zoo' que aprendi que a NATO é a primeira linha de defesa contra a intolerância, o fanatismo religioso, a violência doméstica, a excisão feminina e na defesa da mini-saia. espectacular.

... eu que achava que era pela educação, pela cultura, pela colaboração (e não subjugação) entre os homens que lá íamos. afinal chega a NATO.

(o ahp perdoe-me o 'gozo', mas é que de repente parecia um americano a falar, numa de 'os-valores-ocidentais-é-que-são-bons'. eu acho o etnocentrismo mais perigoso que boa parte do fanatismo religioso. porque é um fanatismo pretensamente recionalizado e justificador da maior parte das guerras dos últimos tempos... mas isso sou eu, claro...)

abraços.

João Pedro Freire disse...

Novamente Caro António Horta Pinto,

A "miss red" acaba mesmo por ter razão.
A NATO como instrumento da "nossa" defesa? Sente-se defendido com a NATO no Afeganistão? Sente-se defendido com a NATO no Kosovo?
Que posição tomou a NATO quando, muitos, como o António H Pinto, tiveram de se exilar para dizerem (muito justamente!) não à guerra colonial?
O fanatismo islamico já existia quando os soviéticos apanharam no pêlo no Afeganistão. Só que nessa altura, era o lado da NATO a armá-los ... contra o papão soviético! Hoje, já não há Pacto de Varsóvia (ainda bem porque não fazia falta nenhuma!), e o "argumento" para a existencia da NATO passa a ser a existência, nomeadamente, daqueles que antes foram armados pelos norte-americanos (membros da NATO)!
Lindo serviço ...
Aliás, é oportuno perguntar: que Paz é que os blocos politico-militares trouxeram ao Planeta desde o fim das guerras mundiais? Uma coisa trouxeram: anos florescentes para os complexos industriais-militares dos EUA e dantes da URSS. Não esquecendo o florescente negócio do tráfico de armamento!
João Pedro Freire

ahp disse...

Caros Miss Red e João Pedro Freire

1. Já disse que nunca simpatizei com a OTAN. Acho que quem deveria impor o respeito pelo Direito Internacional (aí se incluindo os direitos dos homens, das mulheres e das crianças), que é VINCULATIVO para todos os países, era a ONU. Mas essa, coitada, AINDA não tem força para isso (sublinho o “ainda” num sinal de optimismo).
Entendo também que a EU deveria ter o seu próprio sistema de defesa – mas o facto é que não tem. Resta, pois, a OTAN. E a situação real existente e incontornável é que Portugal pertence à OTAN. Nestas circunstâncias, o problema que se põe a qualquer governo português é pois este: devemos continua a pertencer ou não? Eu acho que devemos ficar (como mal menor) e penso que a grande maioria dos dirigentes, militantes e eleitores do PS também acham. O PC acha claramente que deveríamos sair de imediato. E pelos vistos o BE também... Sendo assim, como seria possível um governo de coligação entre esses três partidos?

2. Não sou defensor do relativismo moral, sobretudo no que toca aos direitos humanos. Defendo certos valores que considero universais, e sou contra os inimigos desses valores. Não tenho qualquer problema em proclamar abertamente que sou contra essa recente invenção do “multiculturalismo”, que me parece ser o manto diáfano que encobre a nudez crua da expansão de fundamentalismos e o cavalo de Tróia da barbárie na Europa.
3. Com tudo isto, não sou etnocentrista. Defendo esses valores porque os acho universais e não apenas europeus ou ocidentais, Nem muito menos tenho qualquer simpatia pelo EUA, que nem sequer considero um país civilizado, desde logo porque tem a pena de morte, mas também por certas práticas mais próximas da barbárie que da civilização.
Agora quanto “à maior parte das guerras dos últimos tempos”, não tenho dúvidas que é o fanatismo religioso que as tem provocado, continua a provocá-las, e ameaça no futuro agravá-las. E é também esse fanatismo que alimenta o florescente negócio do tráfico de armamentos.
Abraços

Rui Namorado disse...

Só posso agradecer-vos por terem escolhido o Grande Zoo como local de debate.

Talvez, por me querer psicologicamente de férias, não vou entrar no cerne do debate que tem sido travado. Vou apenas dizer duas coisas aparentemente marginais.

1ª Goste-se ou não, objectivamente nas próximas eleições o que está em causa é decidir-se se o próximo Primeiro-Ministro vai ser Sócrates ou vai ser a Dama de Cinza. Por isso, não há como combater o PS sem favorecer o PSD, principalmente se como tem acontecido com o BE e com o PCP se disser que não se fará qualquer acordo com o PS . Ou seja, principalmente se tudo se fizer para tornar claro que para o BE e para o PCP , o PS e a direita são iguais.

2º Dois dos artefactos politico-ideológicos mais antigos são que a esquerda moderna , quer a nova esquerda. Qualquer deles tem seguramente mais de um século.

João Pedro Freire disse...

Estávamos verdadeiramente tramados (será que não é o que já estamos?) se a alternativa se ficasse pela alternancia entre os que promovem essa guerra anedótica de Verão que são os amuos entre Governo PS/Presidência da Republica/PSD ... lindo exemplo de "estabilidade" que estes campeões do centrão dão a toda a gente!

RN disse...

1. A alternativa é o objectivo, quando a um partido de esquerda é dada a vez pelos eleitores para fazer funcionar pelo menos a alternância.

2. Independentemente do juízo de valor que cada um de nós faça sobre os termos do dilema político que temos pela frente, constato que temos opiniões próximas quanto aos resultados objectivamente possíveis das próximas eleições.

Anónimo disse...

Não é um amuo de verão é uma tontice dos assessores da PR.

João Pedro Freire disse...

Não é meu hábito responder a "anónimos" ... não há razão nenhuma para se ser "anónimo" por estas bandas! O que se escreve pode ser sempre assinado com o nome ...
Relativamente à guerra anedótica entre Governo PS/Presidencia da Republica/PSD, a "tontice" pertence a TODOS os intervenientes e não só a uma parte deles. Essa guerrinha é só uma prova da "estabilidade" que o centrão da alternancia consegue dar ...
João Pedro Freire

RN disse...

Pode achar-se que é irrelevante que os assessores da PR escrevam o programa do PSD ou contribuam relevantemenete para ele.

Mas não se pode pôr no mesmo saco os que,dando a cara, se manisfestam sobre notícias com esse conteúdo, vindas a público e não desmetidas, e os que sem desmentirem essa imputação, sem darem a cara, se limitam a lançar anonimamente uma atoarda altamente caluniosa: a de que o Governo mandou escutar a PR.

Ser justo para com os nossos adversários não diminui o poder da nossa crítica, pelo contrário sublinha-lhe o rigor.