Um esgar esquálido atravessou-lhe o rosto, numa tentativa de sorriso. A pergunta questionava-a sobre as listas do PSD. E, quando se esperava o esclarecimento cabal das dúvidas levantadas, ou algo que se pudesse assemelhar a isso, a pérola caiu imprevistamente: estava muito orgulhosa pelo facto de se preocuparem com as listas do PSD. E estava tudo dito.
Quiseram saber ainda o que pensava a senhora sobre um artigo de Sócrates, saído no JN. Quando esperavam que o estilete aguçado da sua imensa sabedoria reduzisse a pó os assomos políticos do dirigente do PS, ei-la que se recusa a comentar, em vésperas de eleições, afirmando uma ladainha qualquer sobre o que ela acha que o povo português pensa e vai fazer.
Quando lhe perguntaram por que razão há nas listas do PSD candidatos a contas com processos judiciais, esperando talvez uma explicação clara e esclarecedora, limita-se afinal a dizer que eles já eram deputados antes e que já outros os tinham posto em listas sem ninguém reclamar. De substancial, zero.
A senhora tem a pose solene dos maduros que abarrotam de experiências e vivências, mas, chegada aos momentos decisivos, limita-se a sair de cena sem nada dizer, numa pose algo semelhante à de um pavão que não sabe escapar a um sorriso amarelo.
A senhora é, afinal, uma simples pastora de silêncios embaraçados, atingível, como se vê, pela sombra de interesses pouco frequentáveis, estando, assim, longe de ser aquela poderosa águia da verdade que empenhadamente nos aponta o futuro.
A senhora, essa preciosa dama de cinza, é, no fundo, o rosto sombrio e crepuscular do passado, a resmungar, a advertir, a amedrontar. A senhora, como luninosamente lembrou o Pio Abreu, é, realmente, no essencial ( e sem menosprezo) uma nova e autêntica "Velha do Restelo".
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