sábado, 4 de abril de 2009
As sondagens, as listas e as eleições
1. Duas sondagens recentes revelam panoramas, na relação de forças entre os quatro partidos, que não são muito diferentes, mas sugerem dinâmicas políticas muito distintas.
Na primeira,[ Marktest] todos os partidos descem, em comparação com o mês anterior, excepto o PP que sobe espectacularmente, mais do que duplicando a expectativa de votos (de 4,1% para 9,4%). No entanto, o PS desce mais (1,5%) do que o PSD (0,4%), enquanto o BE desce também (1,4%), sendo o PCP o partido que mais desce (1,7%). Apesar de um razoável recuo, o conjunto da oposição de esquerda continua acima dos vinte por cento (21,5%). E não obstante continuar muito longe do PS (- 8,3%), o PSD somando-se ao PP consegue gerar um bloco que ultrapassa o PS ( + 2,1%). Esta ultrapassagem, se fosse traduzida nos mesmos termos, quanto a números de deputados, tornaria praticamente impossível uma governação minoritária, sem um acordo parlamentar fixo. De facto, os votos do PS deixariam de ser suficientes para contrariarem sozinhos qualquer congregação da direita. E, se o avanço do PP continuasse no mês seguinte, podíamos estar à beira de um novo tipo de relação de forças, no seio da direita. Entretanto, a Dama de Cinza, que prometeu voar, em 2009, nas sondagens, que nem uma águia, não consegue passar de uma esforçada galinha, arrastando-se penosamente abaixo dos 30%.
Na outra sondagem, [Eurosondagem] com números próximos, o panorama é, no entanto, bem diferente. O PS sobe (0, 6%) e o PSD sobe mais (1,3%). Contudo, mesmo nesta sondagem, a recuperação de 0.7% pelo PSD revela-se escassa, a uma tão curta distância das eleições. A soma do BE e do PCP fica abaixo dos vinte por cento do mês anterior (19%), dado que o primeiro recua 0,8% e o segundo 0,2%. O PSD fica 10% atrás do PS e, neste caso, nem com o apoio dos votos do PP (7%, por ter perdido 0,7) consegue alcançar o PS (mesmo somados, os dois partidos da direita ainda ficam 3% abaixo do PS). Aqui são os partidos mais pequenos que recuam, incluindo o próprio PP. A Dama de Cinza continua bem longe dos números sonhados e, quem encarava Janeiro como o seu mês de arranque e recuperação, deve começar a preocupar-se.
Vejamos o que nos dizem as próximas sondagens. Confirmarão a relativa estagnação dos números, ou mostrarão um PP realmente em ascensão? Darão um PS pairando olímpico no primeiro lugar, ou farão despontar o perigo de um segundo partido desafiador, ressuscitado pela mão de um inesperado carisma?
2. Sem menosprezar a diferença entre o significado político dos cenários induzidos pelas duas sondagens, deve dizer-se que elas não exprimem uma ruptura brutal das tendências eleitorais há meses verificadas. A direita continua distante de poder almejar uma vitória que lhe dê qualquer hipótese de formar governo. O PSD, considerado isoladamente, está ainda mais longe. O conjunto dos partidos de esquerda na oposição mantém-se a rondar os vinte por cento. O PS, sem que veja a maioria absoluta completamente perdida, parece não conseguir aproximar-se dela .
Por isso, se pode dizer que do lado do PS, uma sombra paira sobre as três eleições que se aproximam. Uma sombra com três tonalidades: uma por cada eleição. É uma sombra conjuntural, feita de aspectos circunstanciais que não sendo em si próprios decisivos, podem fazer oscilar o resultado das legislativas. Ora , uma pequena oscilação no resultado das legislativas pode fazer a diferença entre uma vitória amarga e uma vitória tranquilizante. E uma vitória amarga pode converter-se rapidamente numa derrota política.
Como ponto de partida deve salientar-se a evidência de que uma parte do condicionamento dos resultados eleitorais , a principal, depende de factores de profundidade e de longo prazo, que não são condicionáveis nem a curto prazo , nem por detalhes , mesmo que importantes. Os resultados de quatro anos de governação, o sentimento social dominante, a escolha entre potenciais chefes do governo, as preferências eleitorais historicamente estáveis, o nível de gravidade da crise económica na época das eleições, é que vão ser decisivos. Mas a medida em que cada partido dê credibilidade à sua capacidade em se demarcar das causas da crise pode revelar-se como crucial.
No entanto, há algumas condicionantes políticas menores que dependem da vontade política do PS. Mas sendo menores, podem ditar variações de alguns pontos percentuais. Ora, como acima se viu, na actual conjuntura, essas condicionantes políticas menores podem fazer a diferença entre um resultado político tranquilizador e um resultado político bloqueador.
Vou procurar dar alguns exemplos, partindo da ideia de que, no leque das três eleições, as legislativas são as decisivas, devendo as outras, salvaguardado seu óbvio valor próprio, desempenhar um papel potenciador da hipóteses de êxito nas eleições principais.
Nas eleições europeias, será difícil o Partido Socialista Europeu ter um resultado médio. Ou consegue ascender a um novo patamar de credibilidade, pela clareza com que seja capaz de transformar o seu actual repúdio declarativo do neoliberalismo numa demarcação paradigmática, que o coloque no futuro fora do colete de forças neoliberal, onde se deixou confinar nas últimas décadas; ou corre o risco de ser apontado, pelas outras esquerdas europeias, como um cúmplice de uma crise da qual não soube retirar, prospectivamente, as necessárias consequências políticas. Em termos relativos, o PS em Portugal , dentro da sua família política, é dos partidos europeus que parecem mais bem situados. Vamos a ver se consegue demarcar-se claramente da via aberta pelo Partido Popular Europeu, se consegue assumir uma auto-crítica convincente da parte das posições assumidas no passado recente em que era óbvia a marca neoliberal da atmosfera política então dominante, mas que ele deve agora abandonar, por completo.
As eleições autárquicas, especialmente as que decidem quem serão os Presidentes das Câmaras Municipais, mesmo que venham a ocorrer depois das legislativas , vão contribuir para a energia política ( ou para a falta dela) que cada partido consiga imprimir à sua campanha para as eleições legislativas. Conseguir candidaturas politicamente consistentes e geradoras de dinâmicas locais de esperança e entusiasmo, pelo menos nos principais municípios, pode ter um efeito nacional palpável e um efeito local dinamizador que pode, por sua vez, contaminar positivamente a outra eleição. Por isso, menosprezar nas principais cidades o efeito indutor das escolhas dos candidatos pode revelar-se desastroso. De facto, todos compreendemos que, por exemplo, aqui em Coimbra, a campanha do PS nas eleições legislativas no distrito pode ser gravemente prejudicada se, nas candidaturas à sede do Distrito, não for apresentada um candidato e uma lista, congregadores do eleitorado e dos militantes socialistas, bem como socialmente prestigiados, de modo a poderem conseguir uma vitória e a poderem ressuscitar a esperança perdida dos munícipes de Coimbra.
Fazendo agora referência directa às eleições legislativas, ainda dentro do nosso distrito, todos compreendemos facilmente que uma boa lista de candidatos é um elemento susceptível de nos dar um deputado que doutro nos pode escapar. Seria , por exemplo, desastroso que assistíssemos à propositura de uma lista de forasteiros aos quais na melhor das hipóteses unem a Coimbra vagos laços familiares ou leves reminiscências históricas. E o que, às vezes, é mais ridículo é que nos apresentam como reforços “jogadores” que ainda precisariam de muito treino e experiência, para chegarem ao nível de muitas das nossas “reservas” caseiras. Esperemos que o bom senso impere e que, desta vez, todos percebam o que há de particular nesta eleição, isto é, que desta vez não estamos mesmo perante uma qualquer oportunidade de fazer carreira, ou perante a hipótese de realização de um qualquer sonho juvenil. Estamos perante um combate difícil em que o PS tem que ser representado pelos melhores, por quem queira e saiba realmente lutar politicamente. Não é o momento de dar lugar a quem queira ser deputado com se quer ser comendador. É tempo de abrir a porta apenas a quem prestigie a lista por ir nela, não a quem se prestigie por ir na lista.
Aliás, o que disse para Coimbra vale para o país no seu todo. E se o PS conseguisse mostrar à escala nacional que as suas listas de candidatos a deputados traduziam um esforço visível e ostensivo, em todos os distritos, de as fazer integrar pelos seus melhores elementos, reforçados por alguns independentes verdadeiramente qualificadores, poderia conseguir aquele suplemento de apoio, que parece faltar-lhe , para poder aspirar com realismo a uma maioria absoluta.
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