Fui convidado, pela Direcção – Geral da AAC, a escrever um pequeno texto alusivo ao 17 de Abril, destinado a sair numa página da sua responsabilidade, integrada no “Diário As Beiras”. É esse texto publicado nesse jornal, ontem, dia 15 de Abril, com o título “Palavras de Abril”, que abaixo transcrevo.
“Às vezes, a memória faz do passado uma melodia de Outono, melancólica e triste, mostrando-nos o perfume discreto de um trajecto pessoal que nos ajudou a ser o que somos. Outras vezes, raras vezes, enche-o de uma claridade que o projecta no futuro, como uma casa comum onde nos acolhemos, com muitos outros, como se dela nunca tivéssemos saído. É o que acontece com a evocação da crise universitária de Coimbra de 1969.
Uma crise que, quarenta anos depois, está a receber dos estudantes de hoje, representados pelos actuais dirigentes da Associação Académica de Coimbra, uma homenagem implícita que transcende qualquer honra que alguma vez sonhássemos vir a receber. Simplesmente, porque a AAC resolveu comemorar o 17 de Abril de 1969, ligando-o ao 25 de Abril de 1974. Não nos comparamos com os militares de Abril, mas honramo-nos por sermos apontados como pertencendo à mesma genealogia. E não queremos deixar de lembrar outras lutas estudantis que nos abriram caminho, com natural relevo para a Crise Académica de 1962.
Queríamos uma Universidade Nova. Não apenas para nós, mas principalmente para todo o povo português, para as gerações futuras. Queríamos uma Universidade tão Nova que mostrasse a urgência de uma Sociedade verdadeiramente Nova.
Estamos longe desse tempo fechado, desse exílio vivido na própria terra, desse país injusto e sem liberdade, crispado num recanto de uma Europa que nos ignorava, votado ao isolamento na cena internacional pela mão de um colonialismo que se esfumava, dolorosamente, no estertor violento de uma guerra desesperada. Estamos longe dessa Universidade envelhecida e envilecida pela promíscua cumplicidade com o poder ditatorial. Dessa Universidade em que apenas uma larga parte dos seus estudantes e uma muito pequena parte dos seus professores lutavam para manter abertas algumas janelas que nos ligassem ao futuro.
Muito se andou, desde então, em mais de três décadas de democracia. Mas nem a Sociedade é ainda tão nova como é necessário, nem a Universidade chegou tão longe como então se sonhava. Há aparentes novidades que são afinal envelhecimento, mas há velhos sonhos que nunca deixam de ser novidade. Eles assumem novos rostos, à luz das novas circunstâncias históricas, ganham novos contornos, revestem-se até de um novo sentido. Mas se no seu código genético estiverem marcadas bem fundo as marcas da liberdade, da solidariedade e da justiça, podem continuar a ser respirados todas as manhãs como se fossem a juventude do mundo.”
“Às vezes, a memória faz do passado uma melodia de Outono, melancólica e triste, mostrando-nos o perfume discreto de um trajecto pessoal que nos ajudou a ser o que somos. Outras vezes, raras vezes, enche-o de uma claridade que o projecta no futuro, como uma casa comum onde nos acolhemos, com muitos outros, como se dela nunca tivéssemos saído. É o que acontece com a evocação da crise universitária de Coimbra de 1969.
Uma crise que, quarenta anos depois, está a receber dos estudantes de hoje, representados pelos actuais dirigentes da Associação Académica de Coimbra, uma homenagem implícita que transcende qualquer honra que alguma vez sonhássemos vir a receber. Simplesmente, porque a AAC resolveu comemorar o 17 de Abril de 1969, ligando-o ao 25 de Abril de 1974. Não nos comparamos com os militares de Abril, mas honramo-nos por sermos apontados como pertencendo à mesma genealogia. E não queremos deixar de lembrar outras lutas estudantis que nos abriram caminho, com natural relevo para a Crise Académica de 1962.
Queríamos uma Universidade Nova. Não apenas para nós, mas principalmente para todo o povo português, para as gerações futuras. Queríamos uma Universidade tão Nova que mostrasse a urgência de uma Sociedade verdadeiramente Nova.
Estamos longe desse tempo fechado, desse exílio vivido na própria terra, desse país injusto e sem liberdade, crispado num recanto de uma Europa que nos ignorava, votado ao isolamento na cena internacional pela mão de um colonialismo que se esfumava, dolorosamente, no estertor violento de uma guerra desesperada. Estamos longe dessa Universidade envelhecida e envilecida pela promíscua cumplicidade com o poder ditatorial. Dessa Universidade em que apenas uma larga parte dos seus estudantes e uma muito pequena parte dos seus professores lutavam para manter abertas algumas janelas que nos ligassem ao futuro.
Muito se andou, desde então, em mais de três décadas de democracia. Mas nem a Sociedade é ainda tão nova como é necessário, nem a Universidade chegou tão longe como então se sonhava. Há aparentes novidades que são afinal envelhecimento, mas há velhos sonhos que nunca deixam de ser novidade. Eles assumem novos rostos, à luz das novas circunstâncias históricas, ganham novos contornos, revestem-se até de um novo sentido. Mas se no seu código genético estiverem marcadas bem fundo as marcas da liberdade, da solidariedade e da justiça, podem continuar a ser respirados todas as manhãs como se fossem a juventude do mundo.”
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