sábado, 17 de março de 2018

O INSUSTENTÁVEL PESO DO SABER




O INSUSTENTÁVEL PESO DO SABER

Acabo de ler num jornal  nacional de grande circulação, num artigo subscrito por um acutilante expoente da direita lisboeta, uma prosa sobre o  Dr. Feliciano  Barreiras Duarte. Por uma vez, o acre comentador diz qualquer coisa  de útil, ao dar a conhecer alguns luminosos excertos de um trabalho académico do referido investigador.

Ficámos  pois a saber que o esforçado académico queimou arduamente as pestanas, ao longo de meses,  para descobrir que o nossos sistema político era semipresidencialista. Fiquei deslumbrado. O homem descobriu num sagaz labor intelectual essa verdade escondida que a tantos e tantos havia escapado durante décadas. Notável!

Em contrapartida, o sagaz constitucionalista é citado como  alegado autor de algumas longas  frases em que as vírgulas cercam traiçoeiramente as palavras, dando razões  à língua portuguesa para se queixar aflitivamente e escondendo, mesmo dos leitores mais atentos, o que verdadeiramente se quer dizer.

Talvez por isso, perguntei a mim próprio, qual a razão pela qual o messiânico Rui Rio, apostado em salvar tão duramente os portugueses de si próprios, escolheu para seu braço executivo este Dr. Feliciano. E o meu espanto é tanto maior quanto estou firmemente convencido, depois de estudar meticulosamente os excertos referidos, que verdadeiramente o Dr. Barreiras não é ele próprio. Não é. Ele é na verdade a reencarnação do Conselheiro Acácio que, não se sabe bem como, se escapuliu do imaginário queirosiano, para se vir matricular na Universidade Autónoma e ajudar Rui Rio.

Esta deriva acaciana deixa aliás na penumbra dos “faits divers” a célebre proeza do citado académico, que resolveu enfeitar o seu curriculum vitae com a transcendente qualidade de “visiting scholar” na Universidade norte-americana de Berkeley. Enfeite esse que, insolidariamente, a referida Universidade acha despropositado, dado o facto de alegar não conhecer o citado curriculante. Este, aliás, já alertou para uma possível falsificação imputável  a terceiros desconhecidos, conquanto reconheça ser verdade que há muito tem esse enfeite no seu currículo, embora esteja também certo de nunca ter posto os pés em tal  Universidade.

Em todo este pesadelo acaciano, só esteve bem o corpo de detetives da República que acerca do evento ordenou um rigoroso inquérito.

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