segunda-feira, 12 de março de 2018

SONHAR É FÁCIL !






SONHAR É FÁCIL !

Há uns largos anos atrás, o líder bombástico de um pequeno partido de orientação maoista, cujas preferências  eleitorais indicadas nas sondagens rondavam esforçadamente 1%, numa campanha eleitoral assumiu com convicção a possibilidade de vir a ser primeiro-ministro. No espaço mediático de então perpassou apenas a sombra silenciosa de um sorriso, complacente e demolidor. A política tocou ligeiramente o campo da anedota.

No passado fim de semana a Drª Cristas, liderando uma formosa legião de meninas “pecebes” e um grupo de bons filhos da boas famílias, polvilhados  de algumas pitadas de povo para sabermos que se estava no século XXI, subiu acima do banco de uma retórica de congresso e assustou o mundo com uma novidade imponente: ELA ia ser primeira –ministra de Portugal por vontade dos eleitores de direita e de todos os distraídos que corressem atrás dos seus foguetes.

A realidade ficou de boca aberta. Então e os 5,4% atribuídos pela mais recente sondagem ao CDS?

O delírio da Dr.ª Cristas ficou 4% acima do delírio do mencionado maoista do século passado, mas milhões de votos abaixo da realidade. A azougada política ameaçava energicamente trazer a lua para dentro do CDS e meter a direita no seu imaginário bolso. Se o antigo magazine de anedotas, “Os Ridículos”, tivesse sobrevivido, a citada doutora seria figura de capa.

Esperava-se, por isso, a chegada ao espaço mediático de uma tempestade de gargalhadas e a pergunta fatal: “ E não irá ser também imperatriz do Japão?”
Nada disso. Os circunspectos comentadores políticos e os argutos  jornalistas com acesso aos grandes écrans analisaram gravemente a ameaça de Cristas, inscrevendo-a de imediato como crédito do CDS, enquanto os que viram mais longe não hesitaram em inscrevê-la também como débito do PSD. Ao Dr. Rio confinaram-no a uns esquálidos 28% que colocaram muito atrás dos exuberantes quase 6 % do CDS, tendo-o colocado assim de imediato na honrosa posição de “Ministro sem Pasta” de um tonitruante governo da Dr.ª Cristas.

A realidade ficou ainda mais surpreendida. E gritou para os senhores jornalistas e seus arredores: “ Estou aqui! Estou aqui!”. 

Em vão. O cortejo mediático , em vez de solidariamente aconselhar repouso à Dr.ª Cristas para que ela pudesse restabelecer uma , ainda que ténue, ligação à realidade, ocupou-se judiciosamente da grande notícia. Observou-a com gravidade, inquiriu sobre o possível número de deputados a conquistar, esqueceu-se de dizer por que razão em dezenas de anos não chegou a um quarto do que precisaria de ter para o sonho da Drª Cristas se poder cumprir. E claro achou natural que a Dr.ª Cristas  subtraísse um cabrito  ao Dr. Rio e o convidasse depois para uma jantarada onde ambos o comessem.

Por mim, como sou um otimista inveterado, não acredito que a matilha mediática tenha sido reduzida a uma fábrica de dislates, que os talentos que todos os dias julgam assombrar-nos se tivessem convertido numa floresta de tontos. Inclino-me mais para uma sofisticada operação de cosmética política cometida em favor da Dr.ª Cristas. Para quê? Porquê? Ignoro. Mas pode falhar. A Senhora  pode não ir além de uma modesta perna de primeira-ministra.

 Mas não esqueçam, ó grandes glórias mediáticas,  uma coisa é condená-la a ela pelo pecado político do exagero. A pena será sempre simbólica. Outra coisa é integrar jornalistas e comentadores no clube dos idiotas. A recuperação será longa e difícil.

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