SONHAR É FÁCIL !
Há uns largos anos atrás, o líder bombástico de um
pequeno partido de orientação maoista, cujas preferências eleitorais indicadas nas sondagens rondavam
esforçadamente 1%, numa campanha eleitoral assumiu com convicção a
possibilidade de vir a ser primeiro-ministro. No espaço mediático de então
perpassou apenas a sombra silenciosa de um sorriso, complacente e demolidor. A
política tocou ligeiramente o campo da anedota.
No passado fim de semana a Drª Cristas, liderando
uma formosa legião de meninas “pecebes” e um grupo de bons filhos da boas
famílias, polvilhados de algumas pitadas
de povo para sabermos que se estava no século XXI, subiu acima do banco de uma
retórica de congresso e assustou o mundo com uma novidade imponente: ELA ia ser
primeira –ministra de Portugal por vontade dos eleitores de direita e de todos
os distraídos que corressem atrás dos seus foguetes.
A realidade ficou de boca aberta. Então e os 5,4%
atribuídos pela mais recente sondagem ao CDS?
O delírio da Dr.ª Cristas ficou 4% acima do delírio
do mencionado maoista do século passado, mas milhões de votos abaixo da
realidade. A azougada política ameaçava energicamente trazer a lua para dentro
do CDS e meter a direita no seu imaginário bolso. Se o antigo magazine de
anedotas, “Os Ridículos”, tivesse sobrevivido, a citada doutora seria figura de
capa.
Esperava-se, por isso, a chegada ao espaço mediático de uma
tempestade de gargalhadas e a pergunta fatal: “ E não irá ser também imperatriz
do Japão?”
Nada disso. Os circunspectos comentadores políticos
e os argutos jornalistas com acesso aos
grandes écrans analisaram gravemente a ameaça de Cristas, inscrevendo-a de
imediato como crédito do CDS, enquanto os que viram mais longe não hesitaram em
inscrevê-la também como débito do PSD. Ao Dr. Rio confinaram-no a uns esquálidos 28%
que colocaram muito atrás dos exuberantes quase 6 % do CDS, tendo-o colocado
assim de imediato na honrosa posição de “Ministro sem Pasta” de um tonitruante
governo da Dr.ª Cristas.
A realidade ficou ainda mais surpreendida. E gritou
para os senhores jornalistas e seus arredores: “ Estou aqui! Estou aqui!”.
Em
vão. O cortejo mediático , em vez de solidariamente aconselhar repouso à Dr.ª
Cristas para que ela pudesse restabelecer uma , ainda que ténue, ligação à
realidade, ocupou-se judiciosamente da grande notícia. Observou-a com gravidade,
inquiriu sobre o possível número de deputados a conquistar, esqueceu-se de
dizer por que razão em dezenas de anos não chegou a um quarto do que precisaria
de ter para o sonho da Drª Cristas se poder cumprir. E claro achou natural que a Dr.ª Cristas subtraísse um cabrito ao Dr. Rio e o convidasse depois para uma
jantarada onde ambos o comessem.
Por mim, como sou um otimista inveterado, não
acredito que a matilha mediática tenha sido reduzida a uma fábrica de dislates,
que os talentos que todos os dias julgam assombrar-nos se tivessem convertido
numa floresta de tontos. Inclino-me mais para uma sofisticada operação de cosmética
política cometida em favor da Dr.ª Cristas. Para quê? Porquê? Ignoro. Mas pode
falhar. A Senhora pode não ir além de
uma modesta perna de primeira-ministra.
Mas não esqueçam, ó grandes glórias mediáticas, uma coisa é condená-la a ela pelo pecado
político do exagero. A pena será sempre simbólica. Outra coisa é integrar
jornalistas e comentadores no clube dos idiotas. A recuperação será longa e
difícil.
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