quarta-feira, 9 de maio de 2012

A GRÉCIA E OS BÁRBAROS


1. Uma sujeita mal envelhecida, aparentemente oriunda da Europa mais fria, apareceu nos ecrãs televisivos, falando um vago inglês. Vinha falar dos inconvenientes resultados eleitorais cometidos por essa gente do Sul, os gregos.

Gente que a figura olhava com o espanto e a severidade de uma mestra que admoesta os irrequietos alunos.Gente que a senhora não admitia que tivesse  o descaramento de não manter uma suavidade melancólica, enquanto os alegados mercados e os demónios neoliberais, de que estão possuídos os espíritos toscos dos senhores da Europa, a estrangulam com uma frieza de autómato. Respondendo aos resultados eleitorais acontecidos recentemente na Grécia, a esfíngica criatura vinha com o dedo em riste arremessar furiosamente aos gregos o imperativo de novas humilhações, rumo a uma pobreza mais funda.
                                   
Fiquei siderado. Quando seria de esperar o início de uma profunda auto-crítica dos arautos do fundamentalismo neoliberal, pelos desastrosos resultados políticos causados pelo seu simplismo e pelo doçura com que trataram  o poder financeiro no decurso da crise, vinham afinal acusar as vítimas de se recusarem a morrer sem resistir. Se o remédio é afinal um veneno, censura-se o envenenador e para-se com a medicação ? Não senhor: dá-se mais veneno e censura-se a vítima por se ter deixado envenenar.

Fiquei alarmado. Temos em alguns  postos de comando europeus verdadeiros imbecis políticos.

2. Pois é , ó minha gente do Sul, não somos nós os novos bárbaros. Não temos que pedir desculpa por Platão, por Dante, por Cervantes, por Camões. Os bárbaros do século XXI estão friamente sentados a norte, nas cadeiras de um poder agressivo, agiotas de uma riqueza tingida pelo sofrimento de muitos,de muitos de muitas terras, a  norte, a sul, a oriente.São talvez ricos, mas não deixam de ser bárbaros, novos bárbaros. 

3. Não nos admiremos: ainda eles andavam aos pássaros nas floresta  frias do Norte e já no Mediterrâneo cresciam cidades.

2 comentários:

JGama disse...

Muito bem, Rui! Seria bom que os países do mediterrânio começassem a ter uma voz na UE. O que está a acontecer passa todos os limites. Será adequado pensar na necessidade de uma "revolta histórica" (Camus) no seio da Europa.

Anónimo disse...

Certo. Mas porquê citar Platão e não de Democrito?
Claro que foi evocar os antigos mestres da classica Atenas, mas mesmo assim...Vá lá!

Estou de acordo com a tirada com o amigo JGama.
Respeitosamente de "O Catraio"