Aqueles que se sentem possuídos por Júpiter, relampejando de
indignação contra a corrupção, têm direito a ser incluídos entre os mensageiros
da virtude. Mas se, no mesmo impulso, forem levados a dizer-nos que, varrida a
corrupção, a nossa sociedade entrará, só por isso, num tempo novo:
estruturalmente democrático, por ser a respiração da liberdade; estruturalmente
justo, pela instituição da igualdade; estruturalmente solidário, por ter a
seiva da fraternidade ─ entrarão, irremediavelmente, na fugidia sombra dos
ilusionistas.
E se eu fosse um caso da imensa prosperidade que se mede em
Bancos, sentado numa poltrona de ócio a puxar os cordelinhos de milhões,
respirando negócios, decretando com bonomia desgraças e triunfos. Enfim, se
fosse um capitalista começado por um C verdadeiramente grande, daqueles que se
esfumam através da própria existência, omnipresentes por saberem criar a ilusão de que
já não existem; se eu fosse um desses, criaria decerto várias fundações, pelo
menos um universidade, várias fileiras de financiamentos a imparciais
investigações, para adestrar todos na caça aos pequenos ladrões que todos os
dias fazem, justamente, comichão na virtude. Se tivesse êxito, nessa imensa
caçada, por poucos anos que fosse, o meu C cresceria decerto enormemente sem
ser incomodado por ninguém, seguros que estavam todos de que caçavam os únicos
artífices da pobreza e das suas desgraças, mas muito convenientemente esquecidos de que eu sequer existia. Não é esse o meu caso. Não
tenho no meu activo fundos suficientes para ser precedido por um qualquer C,
por minúsculo que ele pudesse ser. Mas não me admirava nada que alguns capitalistas mais ladinos,
dotados de um C inicial verdadeiramente subtil e adestrado nos jogos de
estratégia, estivessem já hoje a organizar tão luminosas caçadas.
Por isso, se a caça aos pequenos, médios e grandes corruptos
(especialmente a estes) é um caminho promissor rumo à salubridade ética, social
e económica do nosso país, julgar que o seu êxito é uma chegada irreversível a
um outro tempo é, repito-o, pura ilusão.
Sem uma metamorfose civilizacional que transforme o
capitalismo num pós-capitalismo humanizante, emancipatório e solidário que seja
a vivência da própria liberdade, não chegaremos onde sonhamos. Façamos pois com
que os mensageiros da virtude de que precisamos não se convertam nos
ilusionistas que devemos dispensar.
3 comentários:
Se no Facebook diria gosto. Mas em blog digo que estou plenamente de acordo. A corrupção é uma grande chaga. Mas o problema fundamental está no controlo cada vez maior, dos regimes democráticos pelo sistema financeiro especulativo internacional de tal modo que o "default" democrático está à vista. O que pode ser que ajude a abrir os olhos.
Entretanto aqui no quintal para já é necessário cortar, rente, a Relva e ir assim a par e Passos. Lembro-me dos que bramavam contra a "asfixia democrática" e do que ameaçava de que o povo já "não suporta mais sacrifícios".
Outro assunto. Parabéns foste eleito, ontem.
De vez enquando, parecendo memória intremitente, esquecemo-nos que governamos o país em mais de metade do tempo contado após Abril de 74. E a parte que falta, é do PPD/PSD/CDS, este último com o PS e também com agora com o PSD.
Ainda que uma boa parte dos governos PS foram formados com ex-comunistas.
Não tenho vontade alguma em falar disto mas um facto está implicito nisto: A aldrabice das promessas feitas por uns e por outros enquanto candidatos a deputados e ao governo levou ao aparecimento de mais fraudes e corrupções.
Agora parecem santinhos só por que levaram com os Pés.
Era bom que a partir de agora o nosso olhar fosse para a independencia e soberania nacionais.
Este blog tem muito interesse.
É bastante criativo.
Vejam também www.anticolonial21.blogspot.com
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