sábado, 12 de maio de 2012

BOMBEIROS INCENDIÁRIOS



Agora que as empresa públicas municipais estão no pelourinho de todas as condenações e que os hospitais-empresas tanto alarmam os numerólogos neoliberais e tanto assombram os equilíbrios orçamentais receitados; agora que as parcerias público-privadas são amaldiçoadas como coisas do demónio pelo maviosos criticismo dos propagandistas neoliberais de serviço − é indispensável ir à raiz desses artefactos empresariais.

Escavemos um pouco nas memórias escondidas pelo fragor quotidiano das novidades sôfregas, que tão diligentemente se ocupam a esconder o essencial. Surpresa! A recordação vai chegar-nos como um autêntico choque: afinal, os inventores de tão nefastos artefactos despesistas foram os ícones do mais puro economicismo neoliberal quando em tempos tiveram à sua disposição as rédeas do poder. É claro que devidamente estimulados pelos burocratas europeus e pelas instâncias universais do neoliberalismo maduro.

A empresarialização generalizada dos serviços públicos, com destaque para os municipais, foi cantada, por tão esquecidos cantores, como um dos mais modernaços hinos à imaginação inovadora, por esses alegados arautos de futuros ridentes. A parceria com desinteressados senhores do dinheiro, convertidos à generosidade de esquecerem lucros e se lembrarem do bem público, foi exaltada como ápice da excelência na gestão dos dinheiros públicos.

Nenhum desses seráficos inventores detectou no bojo dessas novidades qualquer sombra de despesismo qualquer inquinamento corruptor. Pelo contrário, nesses alegados céus, só eram vistas virtudes.

E tão convincentes foram, esses percucientes descobridores dessas novas empresas e dessas novas parcerias, que chegaram a convencer alguns expoentes da mansidão estratégica da terceira via “blairista” e até outros que, sem mergulharem por completo nessas águas mortas, se deixaram inebriar pelo seu perfume distante.

Confiantes no poder das sombras que tolhem a memória, os ex-inventores desembainharam-se sem pudor contra as próprias invenções, deixando que se pense que aqueles que foram empurrados com tanta determinação para dentro desses buracos são os verdadeiros culpados por terem sido empurrados. Mas não são.

A vulgata neoliberal que tanto rosna contra tais empresas e tais parcerias só tem que ladrar contra si própria, porque faz parte do rol triste das suas proezas mais esse tosco deslize.

Não esqueçamos: por debaixo dos metais reluzentes das fardas novas desses denodados bombeiros, está a sombra oculta dos incendiários. Apagam os fogos que lançaram, combatem os frutos das sementes que lançaram à terra.

E não esqueçam também os outros modernaços que correram atrás das canas desses foguetes.

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