Agora que as empresa públicas municipais estão no pelourinho
de todas as condenações e que os hospitais-empresas tanto alarmam os numerólogos
neoliberais e tanto assombram os equilíbrios orçamentais receitados; agora que
as parcerias público-privadas são amaldiçoadas como coisas do demónio pelo
maviosos criticismo dos propagandistas neoliberais de serviço − é indispensável
ir à raiz desses artefactos empresariais.
Escavemos um pouco nas memórias escondidas pelo fragor quotidiano
das novidades sôfregas, que tão diligentemente se ocupam a esconder o
essencial. Surpresa! A recordação vai chegar-nos como um autêntico choque:
afinal, os inventores de tão nefastos artefactos despesistas foram os ícones do
mais puro economicismo neoliberal quando em tempos tiveram à sua disposição as
rédeas do poder. É claro que devidamente estimulados pelos burocratas europeus
e pelas instâncias universais do neoliberalismo maduro.
A empresarialização generalizada dos serviços públicos, com
destaque para os municipais, foi cantada, por tão esquecidos cantores, como um
dos mais modernaços hinos à imaginação inovadora, por esses alegados arautos de
futuros ridentes. A parceria com desinteressados senhores do dinheiro,
convertidos à generosidade de esquecerem lucros e se lembrarem do bem público,
foi exaltada como ápice da excelência na gestão dos dinheiros públicos.
Nenhum desses seráficos inventores detectou no bojo dessas
novidades qualquer sombra de despesismo qualquer inquinamento corruptor. Pelo
contrário, nesses alegados céus, só eram vistas virtudes.
E tão convincentes foram, esses percucientes descobridores
dessas novas empresas e dessas novas parcerias, que chegaram a convencer alguns
expoentes da mansidão estratégica da terceira via “blairista” e até outros que,
sem mergulharem por completo nessas águas mortas, se deixaram inebriar pelo seu
perfume distante.
Confiantes no poder das sombras que tolhem a memória, os
ex-inventores desembainharam-se sem pudor contra as próprias invenções,
deixando que se pense que aqueles que foram empurrados com tanta determinação
para dentro desses buracos são os verdadeiros culpados por terem sido
empurrados. Mas não são.
A vulgata neoliberal que tanto rosna contra tais empresas e
tais parcerias só tem que ladrar contra si própria, porque faz parte do rol
triste das suas proezas mais esse tosco deslize.
Não esqueçamos: por debaixo dos metais reluzentes das fardas
novas desses denodados bombeiros, está a sombra oculta dos incendiários. Apagam
os fogos que lançaram, combatem os frutos das sementes que lançaram à terra.
E não esqueçam também os outros modernaços que correram atrás
das canas desses foguetes.
1 comentário:
Boa!
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