1. Um sentimento de incomodidade tem vindo lentamente a apossar-se do Partido Socialista. A direcção procura cumprir o seu roteiro sem tropeçar, mas parece começar a aperceber-se da insuficiência do seu horizonte, a sentir que se ficar aprisionada na conjuntura será mais difícil interferir nela. Mas hoje, como aliás já há algum tempo, vivemos na urgência do longo prazo. É a voragem do imediatismo que pode fazer perder o caminho. Na verdade, só por uma boa imaginação do futuro conseguiremos perceber o que, verdadeiramente, nos está a acontecer no presente.
Os militantes estão inquietos. Não andam satisfeitos, mas ainda se comportam, em regra, contidamente. Sentem a injustiça do presente, mas ainda não vêem com clareza como chegar a um outro tempo.
O povo socialista engole sofridamente as dificuldades vividas, na esperança de poder voltar a confiar no seu partido, como arma capaz de começar a dissipar o nevoeiro de injustiça que o vem estrangulando.
Mas, por enquanto, todo este território político que devia ser de esperança respira a custo numa atmosfera fechada.
2. O PS deixou que o seu discurso naufragasse na narrativa do inimigo. Por isso, as suas palavras, mesmo quando generosas e até certeiras, acabam por se perder na corrente desse rio sem destino, que é a ideologia dominante, o neoliberalismo cego e sôfrego.
Mesmo que honestos e competentes, muitos socialistas têm aceitado fazer contas no quadro negro do capitalismo, como se pudessem ajudá-lo a corrigir-se, expandindo exponencialmente as suas virtudes e fazendo com que mirrassem irremediavelmente os seus defeitos. Pura ilusão. Realmente, mesmo que os nossos desejos nos ajudem a modificar a realidade, nunca conseguem substituir-se a ela por completo; e nunca a poderão ignorar sem prejuízo. Por isso, temos que deixar de fazer as nossas contas no quadro negro do inimigo, temos que deixar de raciocinar como se o capitalismo fosse eterno e, como tal, uma espécie de lugar natural que se tem que aceitar como dado de facto, como único contexto possível para fazermos viver as nossas esperanças.
E , numa outra perspectiva, não devemos esquecer que se lidarmos com o tigre capitalista como se ele fosse um simples gato, correremos o risco de sermos devorados, talvez no momento imediatamente a seguir ao cometimento da imprudência de lhe passarmos a mão pelo lombo.
Temos pois que arranjar um quadro verdadeiramente nosso, construído pelas nossas ideias, pelos nossos valores, pelos nossos princípios, por propostas e programas que realmente nos espelhem sem nos distorcer, para fazermos nele as nossas contas, abandonando, de uma vez por todas, o quadro negro dos nossos inimigos, onde os nossos números se apagam e as nossas contas dão erradas.
Os militantes estão inquietos. Não andam satisfeitos, mas ainda se comportam, em regra, contidamente. Sentem a injustiça do presente, mas ainda não vêem com clareza como chegar a um outro tempo.
O povo socialista engole sofridamente as dificuldades vividas, na esperança de poder voltar a confiar no seu partido, como arma capaz de começar a dissipar o nevoeiro de injustiça que o vem estrangulando.
Mas, por enquanto, todo este território político que devia ser de esperança respira a custo numa atmosfera fechada.
2. O PS deixou que o seu discurso naufragasse na narrativa do inimigo. Por isso, as suas palavras, mesmo quando generosas e até certeiras, acabam por se perder na corrente desse rio sem destino, que é a ideologia dominante, o neoliberalismo cego e sôfrego.
Mesmo que honestos e competentes, muitos socialistas têm aceitado fazer contas no quadro negro do capitalismo, como se pudessem ajudá-lo a corrigir-se, expandindo exponencialmente as suas virtudes e fazendo com que mirrassem irremediavelmente os seus defeitos. Pura ilusão. Realmente, mesmo que os nossos desejos nos ajudem a modificar a realidade, nunca conseguem substituir-se a ela por completo; e nunca a poderão ignorar sem prejuízo. Por isso, temos que deixar de fazer as nossas contas no quadro negro do inimigo, temos que deixar de raciocinar como se o capitalismo fosse eterno e, como tal, uma espécie de lugar natural que se tem que aceitar como dado de facto, como único contexto possível para fazermos viver as nossas esperanças.
E , numa outra perspectiva, não devemos esquecer que se lidarmos com o tigre capitalista como se ele fosse um simples gato, correremos o risco de sermos devorados, talvez no momento imediatamente a seguir ao cometimento da imprudência de lhe passarmos a mão pelo lombo.
Temos pois que arranjar um quadro verdadeiramente nosso, construído pelas nossas ideias, pelos nossos valores, pelos nossos princípios, por propostas e programas que realmente nos espelhem sem nos distorcer, para fazermos nele as nossas contas, abandonando, de uma vez por todas, o quadro negro dos nossos inimigos, onde os nossos números se apagam e as nossas contas dão erradas.
Só assim, a democracia poderá deixar de ser coxa, movida apenas pela perna cansada dos liberais-conservadores. Só assim, a democracia será um cenário aberto de verdadeira negociação permanente, entre o que diz o quadro negro do capitalismo e o que diz o quadro limpo de um pós-capitalismo que queremos marcado pelo socialismo. Só assim poderemos progredir democraticamente num caminho reformista, rumo a outras paragens menos insalubres, menos desesperantes, menos injustas. Sem que fechemos, é claro, a cena política a quaisquer outros protagonistas democraticamente representativos.
3. Só uma mudança paradigmática do comportamento político do PS, que aponte neste sentido, poderá captar toda a energia dos militantes socialistas, hoje parcialmente em dissipação, para assim ajudar a pôr em movimento o povo socialista e para através dele despertar, para um protagonismo central na vida política, todo o povo de esquerda.
Menos que isso far-nos-á correr o risco de um extravio de vontades e boas intenções, por caminhos que não sairão de si próprios. Podemos acabar por cair na rotina de uma esgrima pequena por pequenas razões, que dificilmente se poderão aproveitar para um horizonte comum. E uma vez fechados nos inúteis labirintos da política de trazer por casa, mais fácil será que não consigamos deixar de nos relacionarmos, uns com os outros, com acrimónia crescente, que nos deixemos arrastar para um paroxismo de querelas insignificantes, ou pelo menos claramente secundárias, que deixemos que as diferenças políticas gerem distanciamentos pessoais, que permitamos que o partido se converta numa espécie de albergue espanhol de emoções e de ambições irrelevantes e desencontradas.
Tudo o que atrás disse pode ajudar a compreender o equívoco imediatista que perturba o debate político no interior do PS. Perturbação evidente, no clima que envolveu a votação das alterações às leis laborais e o debate em torno dos estatutos. Clima com tendência para piorar, se forem verdadeiras as imagens projectadas pela comunicação social do que se passou hoje na Comissão Nacional do PS.
3. Só uma mudança paradigmática do comportamento político do PS, que aponte neste sentido, poderá captar toda a energia dos militantes socialistas, hoje parcialmente em dissipação, para assim ajudar a pôr em movimento o povo socialista e para através dele despertar, para um protagonismo central na vida política, todo o povo de esquerda.
Menos que isso far-nos-á correr o risco de um extravio de vontades e boas intenções, por caminhos que não sairão de si próprios. Podemos acabar por cair na rotina de uma esgrima pequena por pequenas razões, que dificilmente se poderão aproveitar para um horizonte comum. E uma vez fechados nos inúteis labirintos da política de trazer por casa, mais fácil será que não consigamos deixar de nos relacionarmos, uns com os outros, com acrimónia crescente, que nos deixemos arrastar para um paroxismo de querelas insignificantes, ou pelo menos claramente secundárias, que deixemos que as diferenças políticas gerem distanciamentos pessoais, que permitamos que o partido se converta numa espécie de albergue espanhol de emoções e de ambições irrelevantes e desencontradas.
Tudo o que atrás disse pode ajudar a compreender o equívoco imediatista que perturba o debate político no interior do PS. Perturbação evidente, no clima que envolveu a votação das alterações às leis laborais e o debate em torno dos estatutos. Clima com tendência para piorar, se forem verdadeiras as imagens projectadas pela comunicação social do que se passou hoje na Comissão Nacional do PS.
4 comentários:
Caro Rui Namorado
Acompanho com bastante interesse o que se vai passando no interior do PS. Considero este partido como o único que tem condições para constituir-se na verdadeira alternativa ao estado em que as coisas estão. Temo que ande há demasiado tempo a dar tiros nos pés e que o número de “órfãos” seja cada vez maior.
Cumprimentos
Rodrigo
Ah...O labirinto...E eu a pensar que o PS era o Partido da retidão e da singularidade...Enfim, sempre há um labirinto!
O PS, pensava cá o rapaz, só iria para onde os membros do PS o quisessem levar...Mas com curvas e contra curvas, encruzilhadas e o tal labirinto começo a ter dúvidas.
De qualquer forma o Partido Socialista faz falta à Democracia burguesa, à democracia popular e até, Ó deuses, à democracia socialista da qual tem andado a fugir como o diabo da cruz.
Respeitosamente de "O Catraio"
1. " O Catraio" é um brincalhão, devendo eu dizer que, para mim, isso está muito longe de ser um defeito.
2.Não é preciso ter olhar de lince para se ver que o PS tem pela frente um labirinto de onde será muito difícil sair.
Mas o que há de especial nisso é que, se o PS se extraviar no seu labirinto, o prejuízo cairá duravelmente sobre todo o povo, dado que ele é um partido essencialmente relevante.
Pelo contrário, o destino de outros partidos de esquerda, se for dramático, afligirá certamente os seus seguidores, mas não causará danos que não sejam superficiais, dado que eles são partidos apenas marginalmente relevantes.
3. Admito que o PS, por vezes, pareça um pouco zonzo, mas nada que se compare com aqueles que apanharam com o "muro de berlim" na cabeça e ainda não conseguiram acordar por completo.
Com a devida vénia,
Rui Namorado
Concordo e subscrevo o trabalho de Rui Namorado tão bem resumido nesta sua passagem:
"Temos pois que arranjar um quadro verdadeiramente nosso, construído pelas nossas ideias, pelos nossos valores, pelos nossos princípios, por propostas e programas que realmente nos espelhem sem nos distorcer, para fazermos nele as nossas contas, abandonando, de uma vez por todas, o quadro negro dos nossos inimigos, onde os nossos números se apagam e as nossas contas dão erradas."
Aqui neste projecto está a saída do PS. Se não fizermos isso jamais sairemos duma actividade enrolada onde os militantes socialistas, verdadeiramente interessados verão a concretização dos princípios que defendemos, da solidariedade, da justiça, duma melhor redistribuição da riqueza, do livre pensamento.
Até quando se manterá o PS neste estado de coisas apático, amorfo e de aparência de irresponsabilidade agarrado a um PSD sem ideologia, sem rumo, nem com competências para salvar Portugal enquanto país e nação.
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