de René Magritte
Numa metamorfose perversa vão sendo, cada vez mais, verdadeiros partidos políticos que, não se assumindo como tais, vão, no entanto, ocupando terrenos que lhes estariam vedados. Sem se sujeitarem ao risco do voto popular, não combatem lealmente em terreno aberto, mas atacam desde já, entre aqueles que se submetem ao voto democrático, os que consideram politicamente como inimigos, solidarizando-se concomitantemente com os que encaram politicamente como amigos.
Têm sido veículos acomodados de uma Justiça que se esvai numa estagnação sem horizonte, pilotos de barcos extraviados nos labirintos dos pequenos poderes. Mas inertes na própria casa imaginam-se deuses na casa dos outros. Embrulhados sem rumo no nevoeiro do aparelho judicial, ficcionam-se salvadores nos mares encapelados da política.
Mas de que graça foram ungidos para se sentirem poder sem serem democraticamente legitimados? Nos idos do salazarismo convivi nos bancos da Faculdade com muitos futuros magistrados. Em nenhum vislumbrei a marca forte de um destino que excedesse o dos mortais. Como regra, não se metiam em confusões, nadavam suavemente nas águas leves da direita, deglutiam gravemente as rotinas de turno. Enfim, ou achamos que o simples convívio com as ásperas matérias jurídicas equivale ao filtro do voto popular, ou teremos de dizer aos senhores magistrados para ficarem nos lugares que lhes cabem .
República de Magistrados, caricatura ambulante do conservadorismo judiciário, estruturalmente afastada da desagradável submissão às inconveniências do voto popular, e portanto inconstitucional; e profundamente avessa a qualquer sombra de democracia. República de Magistrados, oligarquia necessariamente autoritária, que assoma com ousadia crescente às janelas complacentes da nossa transigência. Fechemos essas janelas. Já.
Uma República de Magistrados, juízes e agentes do ministério público, tem vindo a ganhar terreno, graças à excessiva leveza da nossa democracia. Nos áridos corredores do aparelho de Estado, onde nas noites frias erra ainda o fantasma de Santa Comba, há sugestões subtis de adagas e vinganças. Os eleitos são ainda olhados com desconfiança, pelas almas cinzentas que deslizam como sombras na penumbra das tardes.
O 25 de abril, a democracia, foram imprudentemente generosos em face da cumplicidade dos corpos da magistratura com os desmandos do fascismo, tão bem sintetizada nos tribunais plenários. Deixaram-nas incólumes e subtis, esperando por uma possível hora futura que lhes abrisse o poder supremo.Numa metamorfose perversa vão sendo, cada vez mais, verdadeiros partidos políticos que, não se assumindo como tais, vão, no entanto, ocupando terrenos que lhes estariam vedados. Sem se sujeitarem ao risco do voto popular, não combatem lealmente em terreno aberto, mas atacam desde já, entre aqueles que se submetem ao voto democrático, os que consideram politicamente como inimigos, solidarizando-se concomitantemente com os que encaram politicamente como amigos.
Têm sido veículos acomodados de uma Justiça que se esvai numa estagnação sem horizonte, pilotos de barcos extraviados nos labirintos dos pequenos poderes. Mas inertes na própria casa imaginam-se deuses na casa dos outros. Embrulhados sem rumo no nevoeiro do aparelho judicial, ficcionam-se salvadores nos mares encapelados da política.
Mas de que graça foram ungidos para se sentirem poder sem serem democraticamente legitimados? Nos idos do salazarismo convivi nos bancos da Faculdade com muitos futuros magistrados. Em nenhum vislumbrei a marca forte de um destino que excedesse o dos mortais. Como regra, não se metiam em confusões, nadavam suavemente nas águas leves da direita, deglutiam gravemente as rotinas de turno. Enfim, ou achamos que o simples convívio com as ásperas matérias jurídicas equivale ao filtro do voto popular, ou teremos de dizer aos senhores magistrados para ficarem nos lugares que lhes cabem .
República de Magistrados, caricatura ambulante do conservadorismo judiciário, estruturalmente afastada da desagradável submissão às inconveniências do voto popular, e portanto inconstitucional; e profundamente avessa a qualquer sombra de democracia. República de Magistrados, oligarquia necessariamente autoritária, que assoma com ousadia crescente às janelas complacentes da nossa transigência. Fechemos essas janelas. Já.
5 comentários:
Tanta é a impunidade dos magistrados, que não se submetem ás regras da democracia.
Tantos benefícios fiscais consignados no Estatuto dos Magistrados Judiciais (subsídio de residência,deduções de despesas de "valorização profissional" entre outras.
É estranho e altamente criticável em democracia, que um diploma estatutário contenha normas de isenção fiscal, Juízes em causa própria. Quem ousar afrontar os seus interesses corporativos, será intimidado. Democracia???
Sempre atento ao teu blog, mas não proactivo, como hoje se diz. Vem isto a propósito do tema que escolheste, pois me surge como efectivamente actual. É que
Não contentes, eles, senhores magistrados, criaram ainda e há muito uma associação sindical !( eufemismo para sindicato, está bem de ver).
E eu, como tantos outros, também pergunto:
Como compatibilizam estes senhores magistrados o estatuto de órgão de soberania a que se arrogam - e que os Tribunais são - com uma estrutura sindical ?!
Certamente para reivindicar prebendas e direitos junto deles próprios...
Como dizes, fechemos essas janelas. Já
Um abraço!
O vosso blog e comentários apenas revelam ressabiamento não percebo porquê. Um desafio: Em contraponto do que dizem ser privilégios dos magistrados, então que se ponhamcom vencimentos dos médicos chefes de serviço e com possibilidade de acumularem com actividade provada sobretudo depois de aposentados. Aí sim, concordaria convosco! Vamos a isso!
Ah, e já agora peço-vos que lutem para que sejam retirados aos militares o subsidio de condição militar depois de aposentados e aos funcionários tributários o acréscimo de 40% que mantêm sobre a pensão , mesmo após aposentação. Repparem que qualquer destas 2 classes e mais os médicos podem exercer acividade privada após a aposentaação. Os magistrados jubilados NUNCA. Digam TODA a verdade
Porque apareço anónimo? simplesmente porque não gozo de toda a liberdade de expressão como os demais cidadãos
Porque apareço anónimo? simplesmente porque não gozo de toda a liberdade de expressão como os demais cidadãos
1 de Abril de 2012 17:34
Anónimo disse...
1. A própria desculpa para o anonimato é um poderoso indício da escassa dose de coragem que lhe coube em sorte.
2. O blog não é "vosso". É daquele tipo bem identificado que dá a cara por ele, sem disfarces.
3. No meu texto não me referi à intendência, pelo que não fiz qualquer comparação entre as remunerações dos juízes e as de outros. Sou Professor da Universidade de Coimbra jubilado, pelo que não sou atingido pelas comparações que faz.
4.O essecial do que eu disse no meu blog não é de qualquer modo sequer contestado, o que significa que tacitamente reconhece que tenho razão.
5. Por tudo isto, estimado e prudente anónimo, o seu comentário parece-me um pouco tonto.
1 de Abril de 2012 19:24
Rui Namorado
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