segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma direita de coragem !


O Coelho, alegadamente bravo, há meses colocado num dos altares políticos da direita portuguesa, discursou num episódio de verão ocorrido recentemente no sul do país, com o máximo de energia que, com realismo, se lhe pode exigir.

O partido que lidera pode constitucionalmente diligenciar no sentido de derrubar o actual Governo, sem que este e o partido que o sustenta possam fazer nada para o evitar, desde que assegure para isso o apoio de toda a oposição.

O Presidente da República, aliás apoiado pelo partido de Coelho do qual é oriundo, até 9 de Setembro próximo, desde que verificados certos pressupostos que lhe compete a ele sopesar, pode dissolver a Assembleia da República, provocando novas eleições.

O referido Coelho, usando a gastíssima alegação de que o Governo não governa, parece achar positivo que se façam novas eleições, que ele julga que o levariam ao poder.

Prometeu, ele em coerência, fazer o PSD agir nesse sentido? Apelou ele ao “seu” Presidente da República para tomar as providências necessárias? Nada disso. A corajosa criatura limitou-se a desafiar o Governo a que se demitisse ele próprio.

Numa primeira análise, a proposta é um disparate político, envolvida no ridículo de exprimir uma exigência aos seus adversários, para que façam a si próprios o que o destemido Coelho não se sente capaz de lhes fazer. Se formos um pouco mais fundo, no entanto, é também uma proposta sintomática: de facto, Coelho sabe que a coragem política não abunda nas suas hostes, nem circunstancialmente no ânimo do seu Presidente, pelo que espontâneamente pressupôs a sua existência num dos sítios onde sabe que ela existe, o actual Governo e o partido que o apoia.

Pode discutir-se a motivação substancial da proposta, que aliás, me parece em contradição, quer com a valorização da estabilidade institucional numa conjuntura económica áspera, quer com algumas posições políticas do próprio Coelho, tomadas há uns meses a esta parte. Mas o que ela reflecte estruturalmente é o que acabo de dizer: o máximo de coragem política que Passos Coelho reconhece como existindo no seu próprio campo é a de exigir ao PS e ao Governo que façam contra si próprios aquilo que o PSD não é capaz de lhes fazer.

1 comentário:

Carta a Garcia disse...

Caro Rui Namorado,

Fiz link desta pérola...
para "A Carta a Garcia".
Obrigado.Boas Férias.
Abraço,
OC