quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poemas Imperfeitos - 6 e 7


6 . [1965]

Os mosaicos de argila esperam
a luz fria dos olhos.


Um finíssimo gume,
azul de raiva,
inventa a amargura.


As arestas acordam
o sopro das palavras.


Prisioneiros do tempo,
provisórios,
neste lugar perdido do universo,
somos vento que sopra
devagar.


Na mais funda caverna das palavras,
prometem-se os poemas.



7. [ 1967] Soldado *

está em áfrica entre a terra e o sol


a mão ainda leve jaz cansada
a perna segue o corpo docemente


amigos longe e a mãe
cultiva amargamente
o seu jardim de angústia


mandaram-no fazer ali a guerra
trouxe-o de longe a arma ali perdida


guardou rios florestas mitos ouro
está morto longe dos rios familiares
longe dos corações que o vão chorar
* Uma versão curta deste poema foi publicada
na "Lírica do Silêncio"(1973).
[Rui Namorado]

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