quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Observação do poema



talvez jardim, ou sombra de inventar-se

talvez punhal, ou golpe de perder-se

talvez saudade, ou risco de chorar-se



o poema está escrito em tempestade,

cobrindo-se, secreto, das palavras

que esperam o mistério de dizer-se



o poema é um lago, ou é um espelho

onde mostras e colhes rudemente

as tão breves flores do pensamento



uma estrela de verão, um estio suave

o cerco que rompemos e nos salva

do fantasma cansado destes dias



poema é um segredo imaginado

pelas palavras que não foram ditas,

um gesto da memória adormecida



quando chega , vem de antigamente

como se fosse o vinho das palavras

que todos gostaríamos de ser



por isso, um poema é um navio

que nos trouxe de todas as viagens,

o inverno mais frio, só da saudade



orquestra de palavras sem fronteiras

que nos dizem por dentro, devagar,

completos, inteiros, desvendados



Rui Namorado

[Laceiras, 5 de Agosto de 2010]

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