domingo, 11 de abril de 2010

Nós, os infalíveis.


Há muitos cidadãos convictamente de esquerda neste nosso país. Muitos deles batem-se, e estão dispostos a continuar a bater-se, por aquilo em que acreditam. Mas entre eles é demasiado grande o número daqueles que, aceitando bater-se por aquilo em que acreditam, são incapazes de juntar as suas forças àqueles outros que, pensando quase como eles, têm contudo algumas diferenças. E quando as iniciativas falham ou as lutas se perdem, por falta de apoios ou de massa crítica, ainda menos são aqueles que assumem uma parte da culpa ou uma parte do erro. A maioria tende a continuar firme na sua verdade e implacável contra o que separa os outros dessa verdade.


Esta atitude não é a fonte de todos os males, mas é seguramente, uma atmosfera malsã que agrava as crispações inter-partidárias e intra-partidárias, inter-regionais e intra-regionais, inter-geracionais e intra-geracionais, fazendo com que pareça uma miragem distante a hipótese de um dia o povo de esquerda, os seus partidos, os seus activistas, os seus expoentes intelectuais, se possam encontrar numa luta concreta por uma causa comum que leve verdadeiramente o país para um outro tempo.


É como se cada um de nós visse o correr da vida, principalmente, não como o palco de afirmação de uma esperança colectiva , mas como a oportunidade para que cada um de nós consiga demonstrar como os outros caminhantes da mesma jornada estão errados; como nós e só nós, temos toda a a razão.
Se a evolução das organizações que conformam a esquerda e as vontades convergentes dos cidadãos que se identificam como fazendo parte do seu povo, não forem capazes de abrir as portas a uma outra atitude , todas as tempestades futuras são de recear. E nem sequer podemos descartar a hipótese de vermos a nossa direita conseguir vingar, sem estrondo mas com muita ronha, o 25 de Abril de 1974, que ainda hoje verdadeiramente não digeriu por completo.

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