quinta-feira, 15 de abril de 2010

Homenagens de Brecht


Na eterna viagem pelas palavras dos poetas que mais escutamos, cruzamo-nos com poemas que nesse preciso momento nos agarram especialmente. Muitas vezes, sem sabermos bem porquê. Hoje, quero partilhar com os viajantes que passarem por este blog alguns poemas de Bertolt Brecht, na preciosa versão portuguesa de Paulo Quintela.

São homenagens a revolucionários, envolvidas por uma penumbra sépia ligeiramente melancólica, mas que não abdica, no entanto, de deixar que se ouça o marulhar profundo das grandes esperanças.



Epitáfio para Rosa Luxemburg

Aqui jaz sepultada
Rosa Luxemburg
Uma judia da Polónia
Propugnadora de operários alemães
Morta por incumbência
De opressores alemães. Oprimidos
Sepultai a vossa discórdia!

Inscrição Tumular 1919

A Rosa vermelha lá se foi também
Onde ela jaz não no sabe ninguém.
Por ter dito aos pobres a verdade
Os ricos a expulsaram do mundo e da Humanidade.


Epitáfio para Karl Liebknechet

Aqui jaz
Karl Liebknechet
Que lutou contra a guerra.
Quando o mataram
Inda estava em pé a nossa cidade.



Quando Lenine partiu

Quando Lenine partiu, foi
Como se a árvore dissesse às folhas:
Vou-me.


Inscrição tumular para Gorki

Aqui jaz
O embaixador dos bairros de miséria
O descritor dos verdugos do povo
E dos que o combateram
Que se formou na Universidade das estradas
O que nasceu baixo
Que ajudou a abolir o sistema de alto e baixo
O mestre do povo
Que aprendeu do povo.


A Walter Benjamin, que se suicidou ao fugir do Hitler

Táctica do cansaço foi o que te agradou
Sentado à mesa do xadrez à sombra da pereira.
Ao inimigo que dos teus livros te expulsou,
Não lhe damos xeque-mate na jogada derradeira.

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