Esperava-se uma luminosidade cintilante no firmamento do pensamento económico. Uma parada de estrelas em torno de Passos Coelho. A comunicação social acendera todas as velas, para que não esquecêssemos, para que nada nos escapasse do transcendente evento.
Um odor a massa cinzenta haveria de espraiar-se pelos interstícios do espaço mediático, para que, atentos e veneradores, sorvêssemos a sabedoria de tão conspícuos oráculos.
O ambiente condizia: um hotel de luxo. Via-se, assim, como esses distintos faziam o generoso sacrifício de, em tempos de vacas magras, ousarem o altruísmo de uma serena fruição das coisas boas da vida.
Imprudentemente, porém,consentiram algumas imagens. E, onde a cuidadosa encenação esperara que descobríssemos o brilho da ciência exacta e serena, lampejando através do fulgor inteligente de tão distinta assembleia, vimos afinal um simples bafio de ideias velhas, um rumor vagamente ultra-romântico de quem se junta em redor de ideias mortas em melancolia raivosa. Afinal, era apenas um grupo de sorumbáticos banqueiros já um pouco encarquilhados, de académicos versados no discurso conveniente, de ex-governantes vergados pelo peso das suas próprias proezas tristes, de uma sombra saída de um governo de antes do 25 de Abril e até um conhecido urubu de serviço nas arenas da diatribe. Reuniram-se com Passos Coelho, para que fosse bem nítido que à sua volta borbulhava a nata do pensamento económico, conquanto doméstico.
Mas, afina,l foi um velório antecipado o que ali ocorreu. E, ao fim de algumas horas de reflexão aturada, um porta-voz grave deixou que se ouvissem algumas palavras profundas, discretamente entremeadas de silêncios graves, como nas grandes ocasiões.
Um odor a massa cinzenta haveria de espraiar-se pelos interstícios do espaço mediático, para que, atentos e veneradores, sorvêssemos a sabedoria de tão conspícuos oráculos.
O ambiente condizia: um hotel de luxo. Via-se, assim, como esses distintos faziam o generoso sacrifício de, em tempos de vacas magras, ousarem o altruísmo de uma serena fruição das coisas boas da vida.
Imprudentemente, porém,consentiram algumas imagens. E, onde a cuidadosa encenação esperara que descobríssemos o brilho da ciência exacta e serena, lampejando através do fulgor inteligente de tão distinta assembleia, vimos afinal um simples bafio de ideias velhas, um rumor vagamente ultra-romântico de quem se junta em redor de ideias mortas em melancolia raivosa. Afinal, era apenas um grupo de sorumbáticos banqueiros já um pouco encarquilhados, de académicos versados no discurso conveniente, de ex-governantes vergados pelo peso das suas próprias proezas tristes, de uma sombra saída de um governo de antes do 25 de Abril e até um conhecido urubu de serviço nas arenas da diatribe. Reuniram-se com Passos Coelho, para que fosse bem nítido que à sua volta borbulhava a nata do pensamento económico, conquanto doméstico.
Mas, afina,l foi um velório antecipado o que ali ocorreu. E, ao fim de algumas horas de reflexão aturada, um porta-voz grave deixou que se ouvissem algumas palavras profundas, discretamente entremeadas de silêncios graves, como nas grandes ocasiões.
E, num retoque de colorido, no circunspecto evento, um sujeito careca já entradote, com o ar azedo dos biliosos, trovejou implacável perante uma atenta comunicação social: ”O governo …. renhau… nhau..béu…béu... ladrão…au…au.. criminosos…au..au…au …novas gerações… béu…béu…béu…”
Os jornalistas tomaram notas. Respeitosos.
O país, finalmente, respirou fundo: uma jovem estagiária de jornalismo surpreendeu como balanço feliz da exigente reflexão um sinal encorajador --- um dos crâneos presentes tinha sorrido. E a conclusão foi clara: se um dos abutres reunidos para escarafuncharem na nossa desgraça sorriu, é porque ainda há esperança.
E assim o nosso Coelho de serviço pôde regressar sem angústia para dentro da cartola, as múmias voltaram pausadamente para o cemitério das sua próprias ideias e o povo desconfiado mudou de canal.
Os jornalistas tomaram notas. Respeitosos.
O país, finalmente, respirou fundo: uma jovem estagiária de jornalismo surpreendeu como balanço feliz da exigente reflexão um sinal encorajador --- um dos crâneos presentes tinha sorrido. E a conclusão foi clara: se um dos abutres reunidos para escarafuncharem na nossa desgraça sorriu, é porque ainda há esperança.
E assim o nosso Coelho de serviço pôde regressar sem angústia para dentro da cartola, as múmias voltaram pausadamente para o cemitério das sua próprias ideias e o povo desconfiado mudou de canal.