O meu fraco ânimo deambulatório faz de mim um viajante de poucas viagens. Por isso, só uma vez me foi dado andar pelo Museu do Prado. Dizem jornais de hoje que um dos quadros mais célebres de Velasquez ("A Vénus do Espelho"), habitualmente a residir em Londres, vai ali estar de visita, por algum tempo.
Ocasião para me recordar do júbilo tranquilo daquelas horas de peregrinação por tantos quadros, antes apenas espreitados em reproduções ou filmes, que atingiu o seu auge, quando "As meninas" ficaram na minha frente. Olhara para elas dezenas de vezes, em reproduções, mas agoram estavam ali elas, as próprias. E isso era realmente uma outra coisa, era decisivo.
Todas aquelas sombras, eram afinal de uma luminosidade imponente. E os personagens, esculpidos com subtileza, desempenhavam um papel que ia muito para além da tela, muito para além deles. No centro, como se o mundo se concentrasse na sua fragilidade serena e firme, uma das meninas, o centro político de um futuro que se advinhava na subtil textura dos tecidos, na fisionomia suspensa das pessoas. E lá atrás, sombras por detrás de um espelho, os pais da princesa, talvez velando, talvez antecipando o futuro, que ali se esboçava naquela teia de silêncios, densos e contidos.
2 comentários:
interessante sua colocação, mas não consigo imaginar como seria diferente ver a própria pinyura à minha frente e não as figuras na internet.
Sinceramente, é um dos melhores quadros que já vi. Além de ser uma bela pintura, ele se compõe num enigma que só pode ser decifrado por suposições. Esse realmente ´o paradoxo da pintura, que se difere de poemas claros. A pintura será sempre um enigma... Depois que o artista morrer, claro! Confeso que, se ele fosse vivo, perguntaria a ele o signifivado disso tudo.
Almejo visitar algum museu um dia, principalmente o Museo del Prado.
Um Abraço
esse museu é genial. saudade de madrid...
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