domingo, 25 de novembro de 2007

As Cheias Há Quarenta Anos






Hoje, passados 40 anos, transcrevo três pequenos poema que escrevi, em homenagem a quem morreu nas cheias de 1967, ocorridas na região de Lisboa. Foram incluídos, mais tarde, em 1970, no meu livro “Maio Ausente”, editado no Cancioneiro Vértice.






25 DE NOVEMBRO DE 1967

( Aos que sofreram as inundações de Lisboa)

1.

Há essa noite
rudemente escrita
no experimentado espanto
da cidade


algas lentas de medo
à flor da água
longo soluço
duma morte larga


Lisboa
sua excessiva dimensão
de mágoa


2.

Tragédia persistente
escolheu actores
mais que experimentados


coisa por eles mal possuída
única lautamente repartida
já estava sua morte anunciada


Não são heróis
os mortos perfilados
na memória tão forte dessa noite


há muito estava a morte na cidade
nas baixas casas tristes da cidade
na carne podre deste tempo nosso



3.

Homens de igual morte prometida
é escasso bem o pranto da cidade
é preciso romper o nevoeiro
escolher a morte mais que ser escolhido



2 comentários:

Anónimo disse...

No dia 27.11.67 a Direcção da Censura salazarista enviou às comissões de censura locais,por telegrama, as seguintes instruções:
"Gravuras da tragédia: é conveniente ir atenuando a história.Urnas e coisas semelhantes não adianta nada e é chocante. É altura de acabar com isso.É altura de pôr os títulos mais pequenos."

E no dia 29 determinou o seguinte:
"Inundações:os títulos não podem exceder a largura de 1/2 página e vão à censura. Não falar no mau cheiro dos cadáveres. Actividades beneméritas de estudantes-CORTAR."

Finalmente, em 2.12.67, deu as seguintes instruções:
"Deliberação do Senado Universitário de Coimbra àcerca do auxílio a prestar às vítimas das enxurradas-CORTAR. A notícia só pode saír nos jornais de Coimbra. No noticiário das enxurradas não dizer que se acode às classes populares e se despreza a classe média."

(transcrito do livro de César Princípe "Os segredos da Censura")

Anónimo disse...

ADENDA:telegrama de 30.12.67:

"Baile de passagem de ano no Palácio dos Valenças, em Sintra-não dizer que a receita se destina às vítimas das inundações."