Valorizar
Coimbra para se valorizar Portugal
1.
Para se identificar um projeto, no quadro de uma disputa política, é natural
que se opte por uma frase sugestiva que mostre o que nele se quer destacar. A
escolha não é fácil, tendo muito a ver com a arte de induzir adesão e com as
técnicas de comunicar. Num primeiro plano, está em jogo o que é ostensivo. Mas
é por debaixo dessa superfície que se joga muitas vezes o essencial do seu
impacto, o seu significado estratégico, o seu potencial estruturador e as suas
virtualidades de irradiação. E é também nesse plano mais profundo que o slogan escolhido revela muito do
verdadeiro sentido do projeto em causa.
2.
Neste campo, a escolha da lista liderada por Manuel Machado, que se candidata
pelo Partido Socialista ao Município de Coimbra, é particularmente relevante,
tendo um elevado potencial de irradiação positiva . Desde logo, Valorizar Coimbra é um desígnio já
assumido na eleição anterior. Mostra um caminho desde então percorrido no
decurso do quadriénio que agora chega ao fim. É um desígnio que assenta na
ideia de que Coimbra é uma realidade que nos precede e se vai perpetuar muito
para além de nós.
Não cabe neste caminho uma auto-imagem
providencialista, de quem afixe a ambição de salvar Coimbra de uma imaginária decadência
e tenha a pesporrência de se julgar habilitado a tão hercúlea tarefa. Mas
ele implica a noção clara de que a vida em sociedade nesta cidade é um caminho
que nos pode levar a patamares de qualidade de vida e de prestígio sempre mais
ambiciosos.
Valorizar
Coimbra é um desígnio compatível com uma visão humanista da
cidade, que transcende a trivial numerologia dos crescimentistas sem horizontes.
Centra-se realmente nos cidadãos que vivem no concelho, nos seus problemas e
nas suas aspirações. Projeta-se no país e procura abrir-se ao mundo numa
interação que procura dar e receber, para desse modo participar na
contemporaneidade e fazer com que ela dignifique e qualifique os cidadãos que
aqui vivem. Não cabe neste desígnio a ambição vadia por pequenos inchaços
crescimentistas que o tempo destruiria deixando os seus destroços como feridas
na memória.
Valorizar
Coimbra é um desígnio aberto com vocação para permitir o
protagonismo diferenciado de cada freguesia na partilha da tarefa comum.
E no seu código
genético tem inscrita a ideia de que Valorizar
Coimbra é o contributo dos cidadãos de Coimbra para a valorização do
país.
Este é, aliás, um
aspeto essencial da estratégia própria do desígnio em causa. O desenvolvimento
de Coimbra é, não só um aspeto muito relevante dos interesses de quem vive no
concelho, mas é também um aspeto relevante do interesse nacional.
3.Há
muitas décadas que o país se tem vindo a desequilibrar, através de um
congestionamento da orla marítima e de uma desertificação do interior. Os
efeitos negativos desse congestionamento e dessa desertificação são agravados
pelo facto de isso se conjugar com dois abcessos metropolitanos. Um maior, em
torno de Lisboa; outro, em redor do Porto. Se a aspiração de Coimbra fosse a de
se tornar num terceiro abcesso com a ambição de concorrer com os já instituídos,
estar-se-ia apenas a assumir como um foco bairrista de agravamento dos
desequilíbrios nacionais. Seria pois uma aspiração desqualificante à luz do
verdadeiro interesse nacional, para além de ser uma via objetivamente
impraticável, tendo em conta o mapa demográfico e socioeconómico do país.
O absurdo da estratégia
do inchaço metropolitano de Coimbra está bem refletido no relatório Portugal
no Centro (difundido no fim de
2016) da responsabilidade da Fundação Gulbenkian. Fica assim mais aberto o
caminho para uma reversão do processo de desequilíbrio acima mencionado. O
Centro de Portugal é, na verdade, o território decisivo onde se joga a
continuação do desequilíbrio existente ou a sua reversão, a qual é, por sua
vez, um fator nuclear do desenvolvimento efetivo e humano do país.
Sem pretender aprofundar
aqui o tema, há que lembrar que nesta região existe um conjunto de cidades
médias (à escala nacional) que polarizam outros aglomerados populacionais e socioeconómicos.
É um conjunto que já agora se destaca em termos relativos no plano nacional. De
facto, o contributo da Região Centro para o desenvolvimento nacional é significativo.
Um estudo realizado
pela Comissão Europeia, divulgado em junho de 2017, que analisou o Índice de
Competitividade Regional da União Europeia, mostrou que a região Centro é a
segunda mais competitiva do país, apenas superada pela Área Metropolitana de
Lisboa. No panorama europeu, a região Centro ocupa o 191.º lugar,
enquanto que Lisboa fica no 139.º
É um território
diversificado, relativamente vasto, que está entre as duas regiões
metropolitanas e vai desde o mar até Espanha. Incorpora uma rede de centros
urbanos, na qual, como se pode ver no relatório, Portugal no Centro, Coimbra ocupa
uma posição importante, com virtualidades estratégicas que a podem potenciar. O
seu contributo para a dinâmica do conjunto é decisivo. Fica assim claro que o
desenvolvimento de Coimbra se robustece na medida em que se afirme como fator
determinante do desenvolvimento da Região Centro e que não é sequer pensável
que este possa ocorrer sem um envolvimento forte de Coimbra.
E, insista-se, sem um
desenvolvimento da Região Centro suficientemente forte para induzir um reequilíbrio
do país, Portugal está condenado a transformar-se num território despovoado que
separa Espanha de uma faixa costeira congestionada, onde os portugueses se
aglomeram, principalmente concentrados em dois abcessos metropolitanos.
4.
Fica claro que Valorizar Coimbra é um aspeto determinante da valorização da
Região Centro e que a valorização desta Região é um dispositivo estratégico sem
o qual o horizonte de um desenvolvimento equilibrado e humanista do nosso país
se fecha drasticamente.
Não depende dos
responsáveis autárquicos de Coimbra que todos estes percursos se façam. Mas o
caminho que se percorreu nos últimos quatro anos e o que será percorrido, se os
eleitores de Coimbra quiserem confiar ao PS o desígnio de Valorizar Coimbra, harmonizam-se naturalmente com o que deve ser
percorrido nos planos regional e nacional.
Esta comunicabilidade,
entre o plano municipal e os outros dois, tende a impregnar cada vez mais o
modo como se for valorizando Coimbra no plano autárquico. Mas tende também a converter
a valorização de Coimbra num desígnio regional e nacional, uma vez que ela é um
fator determinante da valorização de Portugal.
5.
A esta luz, compreende-se bem como é importante que a Câmara de Coimbra coopere
leal e intimamente com o Governo. Principalmente, quando uma e outro tiverem
inscrito nos seus programas um mesmo horizonte, como acontece agora. Um
horizonte, bem distanciado do neoliberalismo troikista, que incorpore a ideia de que o protagonismo municipal é
um precioso recurso da democracia e do desenvolvimento, rumo a mais justiça e
mais liberdade.
Em
Coimbra, nestas eleições autárquicas, o modo de a direita se bater contra a
atual solução governativa nacional liderada pelo PS é atacar a lista do PS
liderada por Manuel Machado, tentando impedi-la de ganhar.
Fá-lo a várias vozes. O seu improvável êxito seria a vitória de Passos Coelho,
da Assunção Cristas, da troika, que
assim ficariam mais acirrados na sua determinação de nos fazerem voltar ao
pesadelo austeritário. Mas seria também amputar Coimbra da possibilidade de prosseguir
um caminho que a robustecerá e contribuirá para uma Região Centro mais
desenvolvida e para um país melhor. Seria, portanto, um prejuízo para Coimbra,
para a Região Centro e para Portugal.
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