O
pessimbrismo - doença infantil do eleitoralismo
Nas instâncias de
terapêutica psicossocial sopra uma brisa de preocupação. Em Coimbra, na
pré-campanha para as eleições autárquicas fez uma insidiosa aparição uma nova
maleita: o pessimbrismo.
Alguns conimbricenses,
envolvidos numa sofreguidão de hostilidade à
atual maioria do PS na vereação
municipal, deixaram-se envolver num denso véu de crispação. Deixaram-se possuir
por uma raiva profunda tingida de ansiedade, que lhes chegou aos ossos,
acabando por lhes sorver a alma e turvar o entendimento.
Foi assim que passaram
a olhar para Coimbra sem a verem. Realmente, por mais que olhassem, apenas se
viam a si próprios. Já não conseguiam ver os seus pontos luminosos e os seus pontos obscuros, a luz das suas virtudes e a
obscuridade dos seus defeitos. Já não conseguiam distinguir no passado o que
iluminava o futuro e o que lembrava o sacrifício e o sofrimento de tantos. Tudo
lhes projetava no espírito um cinzento murcho, uma paisagem carcomida e sem
esperança, que diziam nascida do nada nos últimos quatro anos.
Essa nuvem
insalubre que os envolveu tolhe-lhes o entendimento. Não tendo uma visão
objetiva do que em Coimbra está mal e incompleto, do que está bem e pode ser
melhorado, bem como do ritmo que o progresso pode ter, podem na melhor das
hipótese dizer coisas, mas ficam longe de saber como as podem realizar. E ao
intuírem isso, o seu pessimbrismo agrava-se. Tudo parece afligi-los.
Olham para a estátua de
Joaquim António de Aguiar na Portagem e dizem: “Que tem isto a ver com a
estátua da liberdade?”.
Contemplam o dorso de
prata do Mondego e pensam:” Velho basófias,
não te comparas ao Sena, nem ao Tamisa e muito menos ao Tejo”.
Deixam
incrustar-se-lhes no olhar a velha torre da Universidade e comparam: “Não chega
aos calcanhares da Torre Eiffel”?
Leem no jornal uma
notícia auspiciosa sobre a Universidade de Coimbra e clamam: “Fraquinha,
fraquinha, quando poderá chegar ao nível de Oxford ou de Harvard”?
Passam pelo Museu
Machado de Castro e resmungam : “ Ou isto ou o Museu do Louvre”.
Implacáveis perguntam :
“Como podemos levar a sério uma cidade que tem menos habitantes do que um
bairro de São Paulo”?
Uma angústia profunda
se apossa assim dos seus agitados espíritos pelo facto de Coimbra não ser em
simultâneo Nova Iorque, Paris, Londres, Oxford, Lisboa, São Paulo e muitas
outras cidades. Ser um quase nada perante essa imensa metrópole imaginária.
Todavia, se o
pessimbrismo os não tivesse diminuído, teriam podido lembrar-se que, do outro
lado dessa mesma angústia, pode estar uma verdade simples e trivial: por mais que
todas essas cidades se juntem ou se conjuguem não conseguirão ser Coimbra. Esse
pequeno extrato de senso comum não é mais do que isso, mas a falta dele é um
dos aspetos de pessimbrismo.
Não é por isso estranho
que tantos estudantes de outros países decidam vir estudar para Coimbra, que
tantos turistas se deem ao cuidado de nos visitar. Por ser diferente de outras
cidades e não por copiá-las, com maior ou menor fidelidade. Por querer estar em
pleno no mundo com autenticidade, nunca por se deixar diluir nele como coisa
urbana incaraterística e a-histórica.
Mas os pessimbristas têm
uma dificuldade acrescida. Ao acentuarem até ao paroxismo uma imaginação
negativa de Coimbra, tornam mais ostensiva a sua incapacidade para sequer imaginarem
como sair dessa ficção negativa, tornando ainda mais difícil dar o mínimo de
verosimilhança às suas capacidades para tirarem Coimbra do buraco onde imaginam
que caiu. Quanto mais tingem de negro o seu diagnóstico, mais põem a nu a sua
objetiva incapacidade para reverterem os males que dizem existir .
A ficção que segregam para apoucar a gestão
camarária atual acaba por apoucar ainda mais as suas virtualidades como
candidatos. O seu diagnóstico como uma nebulosa fantasiosa e deprimente vale
por si próprio. Os riscos inerentes à sua chegada ao poder tornam-se
clamorosos.
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