COIMBRA, Ó COIMBRA!
Nas
próximas eleições autárquicas, concorrem para disputar a liderança do município
de Coimbra várias listas que, para além das suas diferenças políticas e
programáticas, usam a palavra Coimbra na sua designação ou na sua divisa. Estou
a pensar em quatro: a do Partido Socialista fala em “Valorizar Coimbra”; a dos partidos da “troika” quer “Mais Coimbra”; “Somos Coimbra”, diz-nos uma outra lista radicada no mesmo espaço político
da anterior, mas que se alega independente; “Cidadãos por Coimbra”, eis como se apresenta a lista oficialmente
independente, mas particularmente apoiada pelo Bloco de Esquerda.
Vale a pena olhar para estas quatro
expressões, pois elas, subliminarmente, podem dizer-nos muito quanto ao modo
como cada uma delas se relaciona com Coimbra. É como se, sob o verniz das
identidades ideológicas ostensivas e das escolhas psicológicas conscientes, se
perfilasse oculta uma revelação estrutural
mais profunda.
“Mais
Coimbra” revela uma implícita abordagem quantitativa, uma
ótica meramente crescimentista que correria o risco de implicar não o desenvolvimento
fecundo do município, mas o seu estéril inchaço.
“
Somos Coimbra” é uma expressão indutora de duas possíveis
leituras: ou quer-nos informar que, como todos os munícipes deste concelho,
eles são de Coimbra, ou pretende proclamar que só os iluminados dessa lista são
verdadeiramente de Coimbra. Se o sentido for o primeiro, estamos perante uma evidência
trivial e, portanto, desprovida de conteúdo político; se o sentido for o
segundo, estamos perante uma arrogância excludente, que reduz a autêntica
Coimbra a um pequeno círculo de arautos de uma boa nova. Isto é, ou eles se acham enormes assumindo-se como a
própria substância de Coimbra , ou acham Coimbra suficientemente escassa para
caber numa candidatura. Escolha-se: trivialidade ou pesporrência.
Os Cidadãos por Coimbra situam-se num registo idêntico ao anterior,
conquanto ligeiramente mais suave. Ou apenas nos querem informar que, sendo
cidadãos, como todos nós, se interessam por Coimbra, como todos os
conimbricenses; ou muito mais do que isso se querem afirmar os únicos cidadãos
que verdadeiramente são “por Coimbra”. Nesta última hipótese, ficaríamos ainda sem
saber se quem lhes for exterior deixa de ser considerado um verdadeiro cidadão;
ou se, sendo-o, não é todavia “por Coimbra”. Se os CPC não tiverem à sua disposição um medidor de cidadania fiável e um
“coimbrómetro” rigoroso que sustentem objetivamente esse implacável juízo, somos
reconduzidos ao dilema já mencionado: trivialidade ou pesporrência.
Valorizar
Coimbra induz a ideia de haver uma realidade de que se
parte e que portanto se respeita para se poder valorizar. Uma realidade que envolve
naturalmente não só os munícipes, mas também as suas atividades e as suas
organizações, incorporando ainda toda a sua dimensão simbólica, com destaque
para a cultura e para a história. Valorizar
Coimbra implica ter-se bem presente que já havia Coimbra muito antes de todos
nós cá termos chegado e continuará a haver Coimbra depois da memória do que tivermos
sido se esvair. Não se pretende, por isso, pôr Coimbra em qualquer pequeno mapa
imaginário, nem apoucá-la para se poder dar a entender que vamos ser os seus
salvadores. Valorizar Coimbra não
envolve uma pulsão localista, sendo pelo contrário um desígnio aberto, um
caminho que os conimbricenses podem percorrer para se valorizar Portugal.
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