Delírios
Eleitorais em Coimbra
1. Passos Coelho veio a
Coimbra dar o abraço do afogado a Jaime Ramos. Este, ciente do drama, ainda
lembrou desesperadamente que também tinham vindo dar-lhe apoio Rui Rio e
Marques Mendes. Tarde demais, Passos Coelho já deixara em Coimbra bem claro que o alegado “Mais
Coimbra” não é mais do que a marca concelhia dos partidos da troika.
Para compensar Jaime Ramos
proclamou a sua inabalável certeza que ia ganhar as eleições, trovejando
confiança. Entretanto, a câmara mostrou a sala. E foram desfilando rostos
fechados, algo melancólicos, frios. O estado de negação eufórica da realidade,
em que caíra o seu líder, não os contagiara. A atmosfera desmentia a exaltação
do orador. Parecia apenas cumprir-se calendário. No fundo, o que verdadeiramente
se queria era ver passado o próximo dia um.
2.
O alegado independente José Silva,
expoente dessa direita dissimulada que não é nem de direita nem de esquerda,
veio a público contestar a realidade coimbrã, errada por desmentir a imagem
alucinada de Coimbra, segregada pelas direitas nesta campanha. Todos os números
que reflitam algo de positivo quanto a Coimbra são por isso falsos por definição. Ele é que
tem os números verdadeiros.
Mas, sentindo esse
choro numérico do líder do “Somos Coimbra” como insuficiente para ocultar por
completo a realidade do nosso concelho, não se resistiu a mergulhar ainda fundo nas águas
do delírio.
E com uma equidade salomónica garantiu: tudo o que há de razoável ou bom em Coimbra nada tem a ver com a
maioria relativa do PS na Câmara liderada
por Manuel Machado; mas seja o que for que haja de mau ou de medíocre em
Coimbra é da responsabilidade exclusiva da gestão municipal socialista da
Câmara Municipal de Coimbra liderada por Manuel Machado.
Claro que a percuciente fúria de José Silva não se deixou tolher pelo pormenor de só se poder estar a referir a uma gestão de quatro anos e de que metade desse tempo decorreu perante a obstrução de um governo central de direita.
Detalhes perante o
dogma central desta direita subtil: tudo o que aconteceu de mau em Coimbra tem
como causa o PS e Manuel Machado, tudo aquilo de bom que não possa ser escondido
nada tem que ver com o PS e Manuel Machado.
A objetividade, o
rigor, a honestidade intelectual que ressumam deste dogma impressionam.
3.
Lembrando-me de como por vezes o delírio se aproxima da metafísica, recordei Fernando
Pessoa na sua veste de Álvaro de Campos, quando escreveu: “ a metafísica é uma consequência
de se estar mal disposto”.
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