quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Delírios Eleitorais em Coimbra



Delírios Eleitorais em Coimbra

1. Passos Coelho veio a Coimbra dar o abraço do afogado a Jaime Ramos. Este, ciente do drama, ainda lembrou desesperadamente que também tinham vindo dar-lhe apoio Rui Rio e Marques Mendes. Tarde demais, Passos Coelho já deixara  em Coimbra bem claro que o alegado “Mais Coimbra” não é mais do que a marca concelhia dos partidos da troika.
Para compensar Jaime Ramos proclamou a sua inabalável certeza que ia ganhar as eleições, trovejando confiança. Entretanto, a câmara mostrou a sala. E foram desfilando rostos fechados, algo melancólicos, frios. O estado de negação eufórica da realidade, em que caíra o seu líder, não os contagiara. A atmosfera desmentia a exaltação do orador. Parecia apenas cumprir-se calendário. No fundo, o que verdadeiramente se queria era ver passado o próximo dia um.

2. O alegado independente José  Silva, expoente dessa direita dissimulada que não é nem de direita nem de esquerda, veio a público contestar a realidade coimbrã, errada por desmentir a imagem alucinada de Coimbra, segregada pelas direitas nesta campanha. Todos os números que reflitam algo de positivo quanto a Coimbra são por isso falsos por definição. Ele é que tem os números verdadeiros.
Mas, sentindo esse choro numérico do líder do “Somos Coimbra” como insuficiente para ocultar por completo a realidade do nosso concelho,  não se resistiu a mergulhar ainda fundo nas águas do delírio.
E com uma equidade salomónica  garantiu: tudo o que há de razoável ou bom em Coimbra nada tem a ver com a maioria relativa do PS na Câmara  liderada por Manuel Machado; mas seja o que for que haja de mau ou de medíocre em Coimbra é da responsabilidade exclusiva da gestão municipal socialista da Câmara Municipal de Coimbra liderada por Manuel Machado.
Claro que a  percuciente fúria de José  Silva não se deixou tolher pelo pormenor de só se poder  estar a referir a uma gestão de quatro anos e de que  metade desse tempo  decorreu perante a obstrução de um governo central de direita. 
Detalhes perante o dogma central desta direita subtil: tudo o que aconteceu de mau em Coimbra tem como causa o PS e Manuel Machado, tudo aquilo de bom que não possa ser escondido nada tem que ver com o PS e Manuel Machado.
A objetividade, o rigor, a honestidade intelectual que ressumam deste dogma impressionam.


3. Lembrando-me de como por vezes o delírio se aproxima da metafísica, recordei Fernando Pessoa na sua veste de Álvaro de Campos, quando escreveu: “ a metafísica é uma consequência de se estar mal disposto”.

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