No DN de hoje vem publicado um texto de Manuel Alegre
que divulga publicamente o seu apoio à provável candidatura presidencial de
Maria de Belém. Estamos perante um valioso apoio, mas também perante um facto
político relevante.
Na verdade, alguns adversários desta possível candidatura
tinham vindo a tentar colar-lhe o estigma de ser uma candidatura confinada a
uma facção interna do PS, que cristalizava recentes divisões em disputas
internas, além de a procurar situar numa alegada direita interna do PS, da qual
seria apenas mais uma expressão. Esta dupla tentativa de estigmatização era em
si própria uma falsificação da realidade. A candidatura de Maria Belém, espelhando sua a história pessoal, de modo nenhum podia ser
confinada aos espaços alegados. O artigo
de Manuel Alegre veio sublinhar e documentar o que acabo de dizer. Insistir nas
imputações redutoras acima referidas traduzirá, daqui para a frente, uma pura
agressão propagandística.
É tempo de legislativas. O quadro dos candidatos presidenciais à esquerda está agora mais
claramente definido, embora possa não estar ainda completo, pela possível
emergência de candidatos apoiados pelo PCP e pelo BE. As candidaturas de Maria
de Belém e de Sampaio da Nóvoa partilham estruturalmente um espaço político,
ainda que nesse campo não sejam completamente sobreponíveis.
Disputam a
preferência dos eleitores, não concorrem a um qualquer campeonato de agressões
mútuas. Se entre elas o combate for de ideias e de propostas, com drástica
subalternização de ataques e imputações pessoais, ambas se dignificarão com
isso e dentro da esquerda começar-se-á a ganhar o hábito de se discordar e de
se competir cordialmente. Isto é em si positivo, mas quando se percebe que uma
das candidaturas precisará dos votos dos apoiantes da outra numa segunda volta,
fica clara a razão porque isso será indispensável.
Recordemos, com a devida vénia, o texto de Manuel
Alegre hoje saído no DN :
Apoiarei Maria de Belém
por MANUEL
ALEGRE
Era minha intenção não me pronunciar sobre presidenciais antes das
legislativas, que são, para os socialistas, a prioridade das prioridades.
Mas algumas afirmações feitas ultimamente sobre a pessoa de Maria de Belém
obrigam-me a tomar posição.
Está confirmado que Maria de Belém comunicou ao secretário-geral do PS que
se candidatará à Presidência da República. É um direito que lhe assiste, merece
respeito e não pode ser posto em causa por considerações táticas,
interpretações sectárias e inaceitáveis ataques de carácter.
Começo por lembrar que Maria de Lourdes Pintasilgo e eu próprio fomos
pioneiros de candidaturas cidadãs à Presidência da República. A engenheira como
inde- pendente, eu como militante do PS, embora sem o apoio da sua direção. As
candidaturas presidenciais são, por excelência, o espaço da cidadania. Mas este
tanto existe dentro como fora dos partidos. Ninguém tem o exclusivo da
cidadania. Ser membro de um partido não constitui uma menoridade cívica, como
ser independente não confere a ninguém um estatuto de superioridade sobre quem
assume a sua filiação partidária.
Posto isto, declaro que a candidatura de Maria de Belém terá o meu apoio.
Não tanto por ela ter sido mandatária nacional da minha segunda candidatura,
nem por termos estado juntos no Congresso do PS em 2004, defendendo os mesmos
valores contra a versão portuguesa da tentação blairista. Mas porque Maria de
Belém é uma socialista substantiva, com uma longa biografia política e provas
dadas na luta pelos valores da liberdade, pelos direitos sociais, pela
igualdade de género e pelos serviços públicos que simbolizam a natureza progressista
e igualitária da nossa democracia: Serviço Nacional de Saúde, escola pública,
Segurança Social. Sabe-se quem é, que posições tomou, que causas defendeu, em
quem votou. A sua atividade, tanto nas lutas académicas anteriores ao 25 de
Abril como no processo da construção da democracia, foi sempre orientada pela
recusa de qualquer forma de ditadura, pela defesa da liberdade e da justiça
social.
É tempo de Portugal ter uma mulher na Presidência da República. Muitas das
críticas a Maria de Belém partem de preconceitos sexistas e machistas.
Não há proprietários da esquerda nem monopólio de candidaturas. Maria de
Belém, ao contrário do que alguns disseram, não divide, não fratura nem é
redutora, antes tem condições para unir, alargar e mobilizar aqueles que, dentro
e fora do PS, na sociedade civil e em diversificados setores da vida pública,
desejam a mudança, um presidente que respeite a Constituição e seja, de facto,
o presidente de todos os portugueses.
Apoiarei uma candidatura de Maria de Belém porque não me considero órfão de
ninguém nem admito que o PS e a esquerda se resignem a perder a eleição
presidencial. Estes quatro anos de "uma maioria, um governo e um
presidente" mostram que, se é fundamental ganhar as legislativas, seria um
erro imperdoável menosprezar a importância decisiva das eleições presidenciais.
Não vale a pena alimentar ilusões sobre uma hipotética coabitação com outro
presidente de direita, fosse ele qual fosse. A experiência de Cavaco Silva
devia ter vacinado de vez os socialistas, toda a esquerda portuguesa e todos os
que prezam a função institucional do PR como árbitro e garante das instituições
democráticas.
A candidatura de Maria de Belém é, em si mesma, um ato de coragem cívica,
essencial a qualquer combate político. Partindo da esquerda socialista, terá a
abrangência e transversalidade indispensáveis a uma candidatura vencedora.
Conheço a sua capacidade de debate e a sua consistência política aliadas a um
profundo sentido de tolerância e solidariedade. Maria de Belém é uma falsa frágil.
Essa é a sua força. Tem condições para derrotar qualquer candidato de direita.
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